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Higienização do ar-condicionado com ozônio é garantia de matar coronavírus?

Empresas de limpeza e desinfecção automotiva prometem eliminar vírus variados com aparelho gerador de ozônio, mas ainda não há estudos específicos em relação ao coronavírus - Divulgação
Empresas de limpeza e desinfecção automotiva prometem eliminar vírus variados com aparelho gerador de ozônio, mas ainda não há estudos específicos em relação ao coronavírus
Imagem: Divulgação

Alessandro Reis

Do UOL, em São Paulo (SP)

26/03/2020 04h00

A higienização do ar-condicionado de veículos se propõe a remover fungos, ácaros e bactérias das tubulações e do interior do carro. A proliferação desses micro-organismos, por conta do acúmulo de umidade, causa mau cheiro e eleva o risco de doenças respiratórias.

Em tempos de coronavírus, empresas especializadas destacam outro argumento em busca de clientes: o serviço também seria capaz de eliminar diferentes tipos de vírus.

Pelo menos uma companhia do setor cita "estudos científicos" para embasar essa alegação, embora admita que hoje não existem evidências em relação ao causador da covid-19 especificamente.

Por outro lado, especialistas da área da saúde ouvidos por UOL Carros colocam em dúvida a eficácia no que se refere à prevenção ao contágio pelo coronavírus.

Ozônio contra micro-organismos

A higienização é geralmente realizada de duas formas: por meio de produtos específicos ou utilizando aparelhos de "oxi-sanitização", com tecnologia à base de ozônio e que estão disponíveis em empresas de cuidados automotivos - e até em concessionárias de algumas marcas de automóvel.

É o caso da rede de franquias Acquazero, especializada em limpeza automotiva e que trabalha com um aparelho gerador de ozônio da empresa Wier.

De acordo com Bruno Mena Cadorin, CEO da Wier, "estudos científicos" comprovam a eliminação de vírus por meio do ozônio, a exemplo dos vírus da poliomielite e do rotavírus. Resultados também mostram a eficácia no combate a bactérias, como a salmonella, diz Cadorin.

"É comprovado cientificamente que o ozônio pode matar diversos micro-organismos, como bactérias, fungos e vírus, por conta do seu alto poder oxidante", afirma o executivo.

Porém, no que se refere ao coronavírus e à covid-19, tudo ainda é muito novo., admite Cadorin. "O vírus foi identificado recentemente. Ainda não há comprovação científica de que o ozônio é eficiente no combate ao coronavírus".

"Entretanto, baseado no mecanismo do ozônio contra outros vírus e diversos micro-organismos, como bactérias e fungos, pode-se dizer que é possível e muito provável que também possa matar o causador da covid-19", salienta.

Na "oxi-sanitização" realizada pelos franqueados da Acquazero, o aparelho, que lembra um estabilizador de computador, é colocado dentro do automóvel em uma superfície plana e com o ar-condicionado ligado, em recirculação e com os vidros fechados. A higienização dura cerca de 40 minutos e custa cerca de R$ 150, informa a empresa.

'Desconheço evidências'

Cautelosos, especialistas consultados pela reportagem confirmam a falta de estudos científicos que comprovem a eficiência do ozônio no combate ao coronavírus e outros germes causadores de doenças respiratórias.

"Desconheço evidências sustentando eficácia de estratégias dessa natureza em relação a infecções de transmissão respiratória", avalia Ricardo Kuchenbecker, professor de epidemiologia da Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

Kuchenbecker também destaca que, na sua avaliação, a infecção pelo coronavírus via ar-condicionado teria pouca ou nenhuma relevância, por conta da forma de contágio.

"O contágio é entre duas pessoas, mediante contato com secreção respiratória ou mãos. No contexto da pandemia, a fração atribuível a esse tipo de contaminação é provavelmente muito pequena, para não dizer que não devia ser considerada", pontua.

Jair Ferreira, professor titular de epidemiologia da mesma universidade, também diz desconhecer orientações de prevenção à pandemia que façam menção à disseminação do coronavírus por aparelhos de ar-condicionado.

"Como o problema é principalmente o contato de mãos e roupas com objetos contaminados pelo coronavírus, cuja viabilidade pode ser curta nesses objeto, me parece que o principal segue sendo a higienização frequente das mãos, lavar-se ou mesmo tomar banho logo que chegar em casa e lavar as roupas utilizadas ao longo do dia", recomenda Ferreira.

Atualmente, as autoridades do setor de saúde orientam a rodar com as janelas abertas, para maior ventilação, e evitar o uso do ar-condicionado, sobretudo com a recirculação ativada.

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