Não vendo de jeito nenhum: as histórias do Gordini 1967 e do Dodge 1951
Resumo da notícia
- Pecuarista Danilo Nunes comprou Gordini há 43 anos, financiado em 10 vezes
- Compacto da Willys foi usado até para acender luzes de fazenda
- Nunes usou cavalo como parte do pagamento de Dodge 1951
Antes de se casar com a mãe de seus três filhos, Danilo Nunes se entregou à paixão pelos carros e comprou um Willys Gordini 1967, financiado em dez vezes, há 43 anos. Depois de casado, um Dodge 1951 também passou a fazer parte da família.
Afirmar que os dois carros do casal se misturam à história familiar não é exagero. As filhas Bárbara e Bruna foram de Gordini azul Alvorada para se casarem na igreja e também aprenderam a dirigir nele. Até luz elétrica na zona rural de Piquete (SP), onde moram, o clássico da Willys já garantiu.
O Dodge é um ano mais velho que o dono e teve inclusive um cavalo envolvido na compra do seu sonho de criança.
UOL Carros conversou com esse apaixonado por veículos antigos e pelo campo, que diz não ter dó de rodar pelas estradas de terra da fazenda com suas preciosidades. Até porque, se tivesse resistência a trajetos sem asfalto, não teria feito um rali de 250 quilômetros, durante sete horas, com o Gordini, em 1991. "Só desviando das pedras. Chegamos em último lugar, mas cinco ficaram pelo caminho".
Cuidadoso para não trocar os quase 100% de peças originais (só o escapamento foi substituído), o pecuarista ainda lembra a propaganda do francês "naturalizado" brasileiro pela Willys-Overland, em 1962. "40 cavalos de pura emoção era a propaganda".
Ofertas recusadas
Ter um Gordini como principal meio de locomoção é sinal de economia. Com tanque para 31 litros, faz 17,6 km/litro na estrada, afirma Danilo. Certa vez, na Via Dutra, ele foi parado por excesso de velocidade e recorda rindo do que o policial disse. "Não desliga porque vou ter de empurrar".
Hoje, diz que não vende o Gordini de jeito nenhum, mas lembra de algumas ofertas, como a de um interessado em pagar o dobro do preço de tabela e outra de "um carioca cheio de ouro e pulseira". Tudo em vão: "Já me ofereceram carro zero em troca. Nunca vendi, nunca reformei, só troquei escapamento, o resto é tudo de fábrica".
Gordini serviu como "fonte de luz"
O Gordini foi o primeiro carro nacional com freio a disco, opcional. Não é o caso do exemplar de Danilo. Mas outro luxo - contar com luz elétrica na fazenda - o carro proporcionou à família.
Nos anos 70, a fazenda da família não tinha energia elétrica. Para contornar a situação, uma tomada foi adaptada na bateria do compacto. O fio pendurado no varal era ligado na casa para acender luzes e uma pequena televisão. "No outro dia, carregava a bateria e usava à noite de novo". O imóvel tinha chuveiro a gás, geladeira com querosene, ferro com brasa e o liquidificador funcionava na manivela.
Detalhes do interior do carro são destacados pelo pecuarista. O interruptor da iluminação interna fica no retrovisor e a luz sai do próprio corpo do espelho. As portas traseiras têm trava para criança não abrir. O radiador e o motor ficam atrás do encosto do banco traseiro.
Dodge teve cavalo envolvido na compra
"Não tem batida nem podre", destaca Danilo ao ser perguntado sobre o estado de conservação do seu Dodge 1951, que adquiriu dando um cavalo como parte do pagamento.
Após insistência de Danilo, o dono anterior só aceitou vender porque a namorada estava grávida, ele iria se casar e precisava de dinheiro. Foi então que Danilo Nunes ofereceu o cavalo.
Como o Dodge é um carro beberrão (faz 6 km/litro no máximo), ficou guardado durante 27 anos na fazenda.
Quando Nunes resolveu ligar o carro novamente, um mecânico orientou a colocar óleo com querosene em cada cilindro e deixar o material lá por dez dias, para "soltar" o motor. "Quando meu filho deu a partida, o Dodge pegou na primeira tentativa, após ficar quase três décadas desligado".
Agora, o fazendeiro liga o Dodge a cada 15 dias. Por enquanto, anda nele só nos arredores da fazenda. Ainda falta arrumar alguns componentes, como as bombas de gasolina e de água, colocar de volta o forro das portas e o painel, já recuperados, e fazer pintura nova.
Caprichos para manter em bom estado o carro fabricado um ano antes de o proprietário nascer. "Esse carro, quando eu era molequinho, com cerca de cinco anos de idade, um tio meu comprou um zero e sempre ia em casa com ele. Eu achava lindo e falava que um dia iria comprar".
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