Topo

Carlos Ghosn já não é presidente, mas ainda está no conselho da Nissan

Carlos Ghosn, agora ex-presidente global da Nissan - Divulgação
Carlos Ghosn, agora ex-presidente global da Nissan
Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo (SP), com Reuters

22/11/2018 11h36

Franco-brasileiro já não é mais o "chefão", mas ainda depende dos acionistas para ser desvinculado de vez da empresa

A Nissan confirmou nesta quinta-feira (22) a demissão do franco-brasileiro Carlos Ghosn da presidência global da companhia. A decisão foi aprovada em poucas horas após reunião do conselho administrativo da empresa em Yokohama (Japão).

Além dele, o ex-diretor representativo da fabricante, Greg Kelly, que é americano, também foi destituído de sua função. Ambos estão envolvidos num escândalo de fraude financeira, acusados de utilizar milhões de dólares em recursos da montadora para benefícios pessoais. Ghosn, inclusive, está preso no Japão.

Também de acordo com a Nissan, serão criados ainda uma comissão especial de governança e um comitê especial responsável por indicar um novo presidente do conselho de administração. Este último será liderado por Masakazu Toyoda e incluirá os executivos Keiko Ihara e Jean-Baptiste Duzan.

Veja mais

+ Ghosn não deve seguir à frente da Renault, diz ministro francês
+ Executivo colecionou fama e crises da Renault-Nissan
Quer negociar hatches, sedãs e SUVs? Use a Tabela Fipe
Inscreva-se no canal de UOL Carros no Youtube
Instagram oficial de UOL Carros
Siga UOL Carros no Twitter

Entretanto, tanto Ghosn quanto Kelly não perderam ainda vínculo definitivo com a montadora. 

Isto porque, de acordo com a agência "Automotive News", somente os acionistas individuais da Nissan têm poder final de decisão sobre a destituição de seus nomes do conselho diretivo, sendo que a próxima reunião ordinária do grupo está marcada para acontecer somente em junho de 2019.

Para que a remoção aconteça de maneira mais breve será necessário convocar uma reunião extraordinária, ou... Esperar que Ghosn e Kelly renunciem.

Do que Ghosn é acusado 

Carlos Ghosn liderava a Nissan desde 1999 e evitou a falência da marca japonesa. Também arranjou uma importante aliança global entre ela e a francesa Renault, recentemente estendida à também nipônica Mitsubishi.

Com sua prisão, especialistas de veículos de comunicação como a agência "Reuters" e a emissora britânica de televisão "BBC" já consideram que há um forte abalo na aliança, e já não descartam sequer uma cisão da parceria.

No início desta semana a Nissan confirmou que, com base em um relatório de denunciantes, estava investigando possíveis práticas impróprias de Ghosn e do diretor-representante Greg Kelly por vários meses. O caso foi parar no Ministério Público do Japão, que determinou a prisão do executivo que liderava a companhia.

Segundo a agência japonesa "Jiji", Ghosn notificava à Receita Federal japonesa ganhos de 10 bilhões de ienes (quase R$ 334 milhões) para ocultar o uso pessoal de outros 5 bilhões de ienes (R$ 167 milhões). Este montante seria de dinheiro da companhia usado em benefício próprio por ele e por Kelly.

"A investigação mostrou que ao longo de muitos anos Ghosn e Kelly relataram valores de compensação no relatório de valores mobiliários da Tokyo Stock Exchange que eram menores do que a quantia real, a fim de reduzir a quantia divulgada da compensação de Carlos Ghosn", disse a Nissan em um comunicado.

Informações de outra agência nipônica, a "Kyodo", apontam que a fraude estaria sendo conduzida pelo menos desde 2011.

Além disso, uma filial holandesa da Nissan, criada em 2010, teria gasto cerca de R$ 68 milhões (US$ 18 milhões) em aquisições de imóveis, inclusive no Brasil, para o seu ainda presidente. As transações teriam sido maquiadas pela aparente finalidade de investimentos. A denúncia é do jornal econômico japonês "Nikkei". Outras casas em Beirute (Líbano), Paris (França) e Amsterdã (Holanda) fariam parte da fraude.

Dessa forma, a soma não declarada por Ghosn totalizaria R$ 167 milhões (US$ 44,5 milhões), o que constitui uma violação da legislação de instrumentos financeiros de Japão. A pena máxima é de 10 anos de prisão e multa individual de 10 milhões de ienes (R$ 334 mil).