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Brasil já tem quase 3,5 milhões de carros com airbags que podem matar

Alessandro Reis, Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

26/03/2018 13h56

Maior recall da história da indústria automotiva no mundo, caso das bolsas da japonesa Takata que podem explodir segue em expansão

Já chega a quase 3,5 milhões o total de veículos afetados pelo defeito de airbags da fabricante japonesa de autopeças Takata aqui no Brasil. Em um ano de intervalo, o país contabiliza mais de 900 mil novos casos de carros nos quais a falha dos componentes foi detectada.

Esses dados são da Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), responsável por monitorar e fiscalizar todos os processos de recall no país, e foram obtidos com exclusividade por UOL Carros.

Maior campanha de recall da história da indústria automotiva em todo o mundo, o caso das bolsas de ar que podem se deteriorar, explodir e ainda ferir ou matar ocupantes do carro por conta de estilhaços metálicos disparados na cabine -- quando deveriam protegê-los -- segue se ampliando também em nosso país.

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Falha afeta 14 marcas

Iniciada no Brasil em abril de 2013, a campanha de recall dos airbags defeituosos da Takata soma até o momento 52 convocações preventivas de 14 marcas diferentes: Toyota (12 ocorrências), Honda Automóveis (10), Nissan (sete), Fiat-Chrysler (cinco), Mitsubishi (quatro), BMW (três), Subaru (três), Honda Motos (duas), General Motors (uma com a marca Chevrolet), Audi (uma), Mercedes-Benz (uma), Volkswagen (uma), Renault (uma) e até Ferrari (uma). 

No total absoluto, são 3.430.090 unidades até a primeira quinzena de março de 2018.

Em todo o planeta, a falha está associada a 22 mortes, além de centenas de feridos -- o defeito pode abranger mais de 150 milhões de carros fabricados desde 2006, ano das primeiras ocorrências com vítimas fatais. A Takata já admitiu a culpa, pediu concordata globalmente, pagou mais de US$ 1 bilhão à Justiça dos Estados Unidos -- além de processos em outros mercados --, mas já revelou que deve seguir divulgando novos casos até 2019 -- e isso deve incluir novas convocações também no Brasil. No geral, em todo o mundo, são 19 marcas afetadas.

Segundo Takata e montadoras que usam seus equipamentos, a falha é desencadeada por falha de fabricação que deixa o airbag e seus componentes sensíveis à corrosão em ambientes com alta temperatura e alta umidade do ar -- nos EUA, os principais casos ocorreram na Flórida, por exemplo. 

Apesar das 22 mortes registradas no exterior -- duas em picapes da Ford, nos EUA, outros 20 em modelos da Honda --, não há registro de vítimas fatais, nem de feridos no Brasil por conta dos airbags defeituosos -- mas o alto número de carros afetados também pode vir do fato de boa parte do nosso país ter clima compatível com o da "área de risco" indicada pela Takata.

Ferida por airbag da Takata em 2013 - Alex Wong/Getty Images - Alex Wong/Getty Images
Stephanie Erdman, ferida por airbag em 2013, depõe no Comitê do Senado dos EUA
Imagem: Alex Wong/Getty Images

1 ano, quase 1 milhão de casos

Considerando apenas o período de um ano para cá, intervalo desde o último levantamento mais apurado, mais de 900 mil veículos foram convocados no país por conta do defeito. Apenas no primeiro trimestre deste ano, já foram anunciadas três campanhas do tipo, envolvendo quase 100 mil veículos de quatro marcas diferentes.

Segundo a Senacon, a adesão atual aos recalls da Takata no Brasil é de aproximadamente 35%, ou seja, de todos os veículos já convocados, mais de 2,2 milhões dos veículos ainda não foram levados por seus donos para a inspeção e manutenção em uma concessionária -- e esse índice de comparecimento ainda é maior do que o de outras campanhas, que ficam em torno dos 30%, seja porque o caso é mais divulgado, seja porque as marcas se dedicam mais na divulgação desta campanha, indo até mesmo às redes sociais para achar carros com defeitos, como é o caso da Honda.

Há ainda uma componente complicada no caso dos recalls dos airbags: mesmo quando o consumidor leva seu automóvel para o reparo, a solução pode não ser dada imediatamente. "As fábricas não estão dando conta da produção dos componentes necessários para o recall, considerando que grande parte dos componentes vêm de uma fornecedora, a Takata", informa Ana Carolina Caran, diretora do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor da Senacon.

Direitos de quem comprou um carro

Recalls estão previstos no Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90 do CDC), que diz que as empresas não podem colocar à venda no mercado produtos ou serviços que apresentem alto grau de risco à saúde ou segurança das pessoas. Segundo especialistas, convocações são bons mecanismos de proteção ao comprador e de maturidade do mercado. Mas o reparo precisa ser rápido e sem estresse para o comprador.

"Caso o fornecedor venha a ter conhecimento da existência de defeito após a inserção desses produtos ou serviços no mercado, é sua obrigação comunicar o fato imediatamente às autoridades e aos consumidores", declarou o Ministério da Justiça em comunicação.

Há ainda um alerta feito pela Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor), observando que os compradores que já efetuaram a compra do veículo, mas ainda não o retiraram, exijam que a entrega só seja feita após o reparo.

Além disso, em caso de transferência de propriedade do carro, já é obrigatório que conste da documentação do veículo a passagem pelo recalls registrados.

Ainda segundo a Proteste, os clientes não devem tolerar prazos muito longos para execução do serviço. Qualquer problema deve ser levado aos órgãos de proteção, caso da própria Proteste, do Procon e dos Juizados Especiais.

Caso o consumidor verifique algum problema na realização do recall, informa o instituto, ele pode protocolar denúncia ao DPC (Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor), ao Procon ou ao Ministério Público cobrando providências.