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Peugeot e Citroën negam "choque de gestão", mas querem rede mais eficiente

CITROËN: C4 Lounge é sedã que encarou rivais experientes e se deu bem - Divulgação
CITROËN: C4 Lounge é sedã que encarou rivais experientes e se deu bem Imagem: Divulgação

Eugênio Augusto Brito<br>Claudio Luís de Souza

Do UOL, em São Paulo (SP)

24/12/2014 17h33

A direção da PSA Peugeot Citroën criticou reportagem publicada por UOL Carros a respeito da reformulação da estrutura do grupo no Brasil, cujo ponto principal seria a fusão de um grande número de revendas das duas marcas, que hoje operam separadamente, mas passariam a oferecer carros de ambas em seus showrooms. A PSA admite que a otimização da rede pode acontecer, mas numa proporção muito menor -- atingiria, no máximo, 5% das atuais concessionárias.

UOL Carros apurou as informações contestadas junto a uma fonte particularmente próxima de todo o processo, e sustenta haver a possibilidade real de a sinergia entre as duas marcas ultrapassar o número sugerido pela PSA.

Na versão oficial, a PSA descarta "choque de gestão", mas confirma que quer provar ao consumidor que seu atendimento (especialmente de pós-venda) é de boa qualidade.   

Fabrício Biondo, ex-Volkswagen e atual diretor de marketing da PSA para a América Latina, afirma que o momento "é de transformação", numa aplicação local do plano global "Back in the race", que, como o próprio nome aponta ("de volta à corrida", ou "de volta à disputa"), quer recolocar a Peugeot Citroën em condição de competitividade com os demais grandes grupos automotivos ao redor do mundo.

O executivo negou que essa transformação envolverá redução drástica do total de concessionários no país, ou que a linha de modelos das duas marcas possa ser enxugada: "Uma pequena parcela da nossa rede passará por ajustes pontuais de áreas internas", disse Biondo.

"Essa ação de sinergia é interna e envolve menos de 5% da rede, geralmente numa área de atuação delimitada", prosseguiu o diretor. "Em nenhum momento será estendida ao showroom, nem ao setor de venda das lojas. É uma ação pontual de fortalecimento da rede, um plano 100% focado no pós-venda, que inclui áreas de oficina, pintura e, num segundo momento, áreas administrativas, em locais onde detectamos que há uma deficiência de estrutura."

Contrariando o que UOL Carros apurou, Biondo garantiu que o total de concessionários da PSA deve seguir praticamente inalterado: atualmente, são 164 lojas da Citroën e 130 da Peugeot em todo o Brasil.

A PSA também quer resolver a histórica percepção de que seu serviço de pós-venda (atendimento às revisões, oferta de peças etc.) é medíocre. Estudos internos do grupo mostram que isso só é verdade para uma "parcela mínima" dos clientes. "O desafio é mudar a crença do público, mas vamos provar que nossa rede desempenha um bom serviço no pós-venda", disse Biondo.

UOL Carros apurou com outra fonte da PSA que a cobrança de qualidade junto aos concessionários (que são empresários terceirizados) vai se intensificar, e que este é um assunto que domina os bastidores de Peugeot e Citroën. O foco é "sacudir" uma rede de lojas que, em certa medida, estaria desestimulada devido ao "estilo" de administrações anteriores.

NOVIDADES
Lançamentos e reposicionamento de produtos também fazem parte da tábua de salvação da PSA. O Brasil já viu a chegada e o fortalecimento da DS, alçada mundialmente à condição de marca de prestígio do grupo (antes, era a divisão de luxo da Citroën), bem como de modelos com maior valor agregado (versões especiais do 308, o novo RCZ) e evoluções técnicas (C4 Lounge THP, o primeiro turboflex do segmento de médios).

Peugeot 2008 - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
PEUGEOT: 2008 chega no primeiro semestre como novo paradigma da marca
Imagem: Murilo Góes/UOL
A partir de 2015, sobretudo perto do segundo semestre, haverá pelo menos cinco lançamentos, incluindo o fortalecimento da gama existente e a chegada de modelos importados.

Tudo se inicia com a estreia do crossover compacto Peugeot 2008 (entre maio e junho); melhorias no sedã 408; mudanças pontuais no crossover 3008 e a chegada do 308 europeu como complemento de linha do hatch médio, que continuará sendo fabricado na Argentina.

A quinta novidade pode ser a chegada de algum produto mostrado no Salão de São Paulo, como o novo Citroën C4 (Picasso, mais realista, ou até o Cactus, que seria muito caro para seu porte).

"O 2008 funcionará como marco para o grupo, um anúncio de nossas intenções. Há o 3008, que é um importante crossover de imagem para a Peugeot, e que enfrentou um problema de embarques recentemente em 2014, mas vende de 60 a 70 carros ao mês e terá um incremento com as mudanças em 2015. Haverá também novidades no 408 no começo do segundo semestre, pois há muita vida a ser colocada neste carro", disse Biondo.

(Sobre o sedã médio da Peugeot, a afirmação do executivo contraria o que sempre se ouviu na PSA: é preciso fortalecer a complementaridade das gamas das duas marcas. Assim, não haveria sentido, por exemplo, em "bombar" o 408 quando o C4 Lounge é um sucesso de vendas; do mesmo modo, relançar o C4 hatch seria um ataque indireto ao 308, hoje o único hatch médio da PSA no Brasil.)   

PLATAFORMA GLOBAL
Quanto à necessária evolução tecnológica para corte de custos, leia-se, para criar produtos globais, Fabrício Biondo disse que o uso da nova plataforma modular da PSA (EMP2, do 308 europeu e dos novos C4 Cactus e Picasso) está sendo estudado para o mercado local, e em fase bastante avançada.

"Já estamos pensando à frente de 2015. Claro que o primeiro projeto será importado: trata-se do 308 europeu. Mas a modularização da América Latina ainda vai surpreender muita gente", concluiu o executivo.