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Novo Honda Civic Si é esportivo sem frescura; veja impressões

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

23/10/2014 00h13

Há uma semana, a Honda do Brasil apresentou o novo Civic Si, que chega como modelo 2014 com carroceria cupê (duas portas e caimento acentuado do teto), cores chamativas, origem canadense e preço de R$ 119.900. E vem também mais forte e abrutalhado: o motor é um quatro-cilindros aspirado, movido a gasolina, de 2,4 litros, 16 válvulas, 206 cavalos de potência e 23,9 kgfm de torque máximos.

Por conta do câmbio manual de seis marchas, que tem engates curtos, mas exige perícia do condutor (este deve tentar fazer as trocas no momento exato da subida de giros para a casa dos 7 mil giros), a Honda carrega no slogan de venda do carro: "Porque pilotos de verdade usam três pedais". Sendo assim, UOL Carros resolveu fazer uma videorreportagem com Ricardo Maurício, bicampeão brasileiro de Stock Car e de Marcas e convidado da montadora ao lançamento, que analisou os predicados do novo esportivo.

ESPÍRITO DE COMPETIÇÃO

Para Maurício, o novo Civic Si "é um carro bem firme, bem ágil, gostoso de guiar e levemente dianteiro", ressaltando a tendência, em determinados momentos, de escapar levemente de dianteira conforme o motorista tende a pisar no acelerador ao encerrar o contorno de curvas. É uma das características do cupê que tem entre-eixos mais curto que o sedã (2,62 m contra 2,66 m), ainda que compartilhe a tração dianteira. A correção deste comportamento é feita pelo diferencial de deslizamento limitado e, claro, por controles de tração e estabilidade que mal acusam sua entrada em ação, o que é bom. "Um carro de tração dianteira é isso mesmo", complementa o piloto.

"Uma das coisas que gostei é do câmbio, por ser bem curtinho. Quando você está a 7 mil giros e vai trocar de marcha, ele já cai numa faixa de rotação que tem uma pegada muito boa, então é um carro esperto o tempo inteiro", aponta o bicampeão de duas categorias diferentes. Este, certamente, é o predicado que mais distancia o modelo de rivais como Volkswagen Golf GTI e Mini Cooper, além, é claro, da recusa em se usar motor sobrealimentado por turbo ou câmbio sem embreagem (os dois europeus são adeptos do downsizing, com motor 2.0 turbo, e das facilidades de caixas automáticas/automatizadas com duas embreagens). No Civic é preciso saber trocar marcha. E no momento certo.

Essa "exigência" de que seu condutor saiba o que está fazendo faz parte do que a Honda chama de retorno do "racing spirit" (o espírito de corrida, de competição), que marcou a empresa, por exemplo, nos anos 1990. Executivos da marca afirmam que isso deve prosseguir em 2015. Por quê? É o ano que marca a volta da marca à Fórmula 1 e isso vai se refletir, claro, em outras ações nos modelos de rua. Um exemplo será o retorno às lojas do superesportivo NSX, agora como carro futurista (o original foi desenvolvido com a ajuda de Ayrton Senna, você lembra). O modelo estará exposto no Salão do Automóvel de São Paulo, entre outubro e novembro, ao lado do Civic Si, e há a promessa de que também seja vendido por aqui em 2016.

Também se mostra na brutalidade visual do carro, com linhas norte-americanas, grade ainda mais afilada e integrada ao conjunto óptico, extremidades avantajadas (o que faz do cupê um carro 3 cm mais longo que o sedã), spoilers exagerados e cores vibrantes: nada de prata! Nada de ficar oculto! Este é um carro para ser visto de longe, diferente de muita coisa que temos aqui no mercado.

CALMA LÁ
Nem tudo, porém, é assim tão ríspido. A Honda sabe que não dá pra se manter longe do movimento de evolução e admite que futuras gerações do esportivo vão usar motores menores e, sim, com turbo -- movimento, aliás, que será visto em breve pela Europa e sua versão do Si (bem como no futuro Civic R).

Voltando ao Brasil e ao novo Si importado, há também uma "pegadinha" no jeito de ser da fera. Todos devem se lembrar da dureza que era habitar a cabine do Civic Si sedã, feito e vendido no Brasil entre 2007 e 2010. Agora, no cupê, tudo muda: a Honda fala em ambiente premium, ainda que bancos tenham revestimento de tecido (bicolor) e que os materiais sejam de boa qualidade, mas longe da fofura vista nos rivais europeus. E cala sobre o conjunto de suspensão.

Claro, ele é independente nas quatro rodas e tem um acerto mais firme, como frisou o piloto Ricardo Maurício e todos os executivos da marca. Mas "mais firme" em relação a que? UOL Carros responde: em relação ao sedã americano. Assim, o consumidor brasileiro que conhecia o Civic Si anterior e mesmo o sedã civil atual poderá estranhar o jeitão molenga do cupê em algumas situações.

Nada que chegue a prejudicar a tocada, mas o suficiente para deixar qualquer um com um pensamento na cabeça: "E se... ?" A Honda diz que este carro não será feito no Brasil, então é bom deixar de birra e se acostumar.