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Supercampeão dá cinco dicas que valem nas pistas e nas ruas

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

10/07/2014 18h16

Falar de carros no Brasil é praticamente como falar de futebol. Se todo mundo dá palpites sobre o que fazer com a bola, como se fosse técnico de grande clube -- ou craque da Copa --, é praticamente certo encontrar também "pilotos de Fórmula 1" escondidos em cada roda de amigos. O problema específico de ter a conversa maior que a habilidade, no caso da condução, está em argumentar como Ayrton Senna, mas sair por ruas, avenidas e rodovias cidade fazendo barbeiragens. 

UOL Carros participou de um curso de pilotagem organizado pela Mitsubishi e com Ingo Hoffmann, supercampeão da Stock Car brasileira (foram 12 títulos em 30 anos na categoria), com passagens também pelas Fórmulas 2 e 3 inglesas e pela Fórmula 1 (nos anos 1970, na equipe de Wilsinho e Emerson Fittipaldi). E tirou uma lição fundamental: nada de frear mais dentro ou fora da curva, nem de pisar no acelerador sem dó... Pilotos profissionais são bons no que fazem não apenas pelo talento ao volante, mas também (e principalmente) pelo extremo cuidado que têm com tudo que antecede o momento de entrar na pista.

Ingo Hoffmann dá aula de pilotagem no curso Mitsubishi Premium Racing School - Eugênio Augusto Brito/UOL - Eugênio Augusto Brito/UOL
Ingo Hoffmann compartilha sua experiência e dá dicas que valem para o dia a dia
Imagem: Eugênio Augusto Brito/UOL

Podemos elencar cinco dicas do "Alemão" (um dos apelidos de Hoffmann em quarenta anos de carreira) que valem para as pistas e para o seu dia a dia na rua:

1 - SAIBA O QUE PODE E O QUE NÃO PODE
"Tenho quarenta anos de carreira, trinta só na Stock Car, e ainda assim não posso escapar do briefing antes de entrar na pista". A afirmação de Ingo Hoffmann é acompanhada de um sorriso e de outras expressões como "careca de saber" e similares, mas nada aqui é irônico.

O briefing é a reunião entre pilotos e autoridades de pista que precede cada prova automobilística e serve para que todos os competidores fiquem por dentro das regras da competição: velocidade máxima nos boxes e nas pistas, significado de bandeiras (mesmo que todos saibam "de trás para frente" o que cada cor e símbolo represente), pontos perigosos (ou com limitações) da pista, conduta específica válida para a etapa. Tudo dito, não tem choro: faltar ao combinado ou infringir uma regra rende punição, mesmo que não haja consequência nítidas no resultado.

O mesmo vale para o trânsito urbano: muitos motoristas dirigem há anos, mas não conhecem o código de trânsito, quais os limites de velocidade para cada tipo de via urbana ou rodovia/estrada, as regras de condução (quando dar seta, aonde não buzinar, em qual situação usar as luzes de neblina), nem quais atitudes podem ou não render uma multa. Ficar pode dentro do "regulamento" do trânsito evita muita dor de cabeça, sua e dos demais motoristas.

2 - SENTE-SE CORRETAMENTE
Parece óbvio, bobo até, mas raramente Auto-Escolas ensinam os futuros motoristas a se sentarem de forma correta no carro. Na pista, por outro lado, o cuidado é extremo: em categorias de ponta, o banco é moldado no corpo do piloto, enquanto distância e ângulo de braços ao volante e de pernas aos pedais são medidos. A precisão pode ser menor, mas o cuidado também deve existir no carro de rua.

"É uma questão de conforto, você tem de se sentir bem para aguentar horas de competição, mas também de facilitar o comportamento do piloto", ensina Hoffmann. "Se estiver inclinado e perto demais do volante, vai faltar apoio para fazer a curva. Se a perna estiver esticada demais, vai ser difícil fazer o movimento de alavanca com o pé para frear com a força necessária".

A regra do volante é conhecida, UOL Carros mesmo já a ensinou, e vale para qualquer carro -- com mais ou menos ajustes de volante (na profundidade e/ou altura), de cinto de segurança (na altura) e de banco (altura do assento, inclinação do encosto e distância ao volante). Ainda assim, o próprio piloto fez questão de demonstrá-la em um pequeno simulador.

Ingo Hofmann mostra posição ao volante a alunos em curso da Mitsubishi - Murilo Mattos/Divulgação - Murilo Mattos/Divulgação
Não adianta sentar colado ao volante ou com braços e pernas retos. A posição ideal pede membros flexionados e corpo bem apoiado no banco
Imagem: Murilo Mattos/Divulgação
Sente-se e afivele o cinto de segurança. Nada de deixá-lo frouxo, usar um prendedor para proteger a gravata etc. O correto é cruzá-lo na altura do peito, nunca acima do ombro e perto pescoço, nem baixo demais.

A partir dai, ajuste a distância para o pedal e volante -- o ideal é que o quadril esteja bem posicionado no banco (o bumbum deve estar confortável, de fato) e um pouco abaixo do nível dos joelhos. Nesta posição, será mais fácil empurrar os pés a cada movimento.

A empunhadura do volante também exige que os braços fiquem semiflexionados. Nada de "bração" esticado. E as mãos devem estar na posição 9h15: imaginando o mostrador de um relógio, a mão esquerda fica sobre a área imaginária do numeral de 9 horas (lado esquerdo extremo), enquanto a direita fica no sentido oposto, na posição do numeral de 3 horas (ou 15 minutos, no lado direito extremo), ou ligeiramente acima. Nada de mão sobre o arco superior ou segurando a base do volante.

E não precisa fazer força, como se fosse arrancar o aro do suporte, ou empurrá-lo contra o painel. O ideal é firmeza nas mãos ao segurar, com suavidade do movimento dos punhos. 

3 - CONHEÇA SEU EQUIPAMENTO
Se você gosta de automobilismo, já ouviu uma expressão antiga que diz que o "bom piloto acerta o carro com o bumbum". De fato, o que temos aqui é a indicação de que vencedores conhecem totalmente seu equipamento.

Para o motorista comum, vale se informar antes de comprar o carro, sanar dúvidas restantes na concessionária antes de assinar o cheque e, em casa, ler o manual de instruções. É preciso saber o movimento correto da alavanca de câmbio manual ou cada posição do seletor de câmbio automático, e o que qual o significado daquela luz-espia que acabou de piscar no painel.

Essa dica é simples, mas saber se a luz que pisca é do líquido de arrefecimento do motor, do indicador de reserva de combustível ou do aviso de pressão incorreta dos pneus pode ser um fator decisivo para manter o carro conservado e evitar sustos durante a viagem. 

Curso de pilotagem da Mitsubishi frenagem - Murilo Mattos/Divulgação - Murilo Mattos/Divulgação
Acelerou demais e teve de fritar pneus? Você pode achar que está impressionando os outros motoristas, mas só vai desgastar o carro e aumentar a conta da oficina
Imagem: Murilo Mattos/Divulgação

4 - JAMAIS FORCE O CARRO
Carros modernos tendem a quebrar pouco, mas também cabe ao motorista conservá-lo. Além de precisar saber o que cada tecla aciona e qual o significado de cada aviso (item anterior), é interessante saber explorar o limite do equipamento, sem excedê-lo.

"É aquele papo de piloto que é bom, mas destrói o equipamento e não consegue ter regularidade, e piloto que não é tão veloz, mas anda como um reloginho, marca pontos importantes e ganha o campeonato", lembra o Alemão.

Você pode se achar "campeão" ao passar acelerando por uma fila parada de carros, mas certamente vai usar os freios de forma excessiva ao ter de pisar mais forte no pedal do meio mais à frente. O ideal seria ter observado o trânsito congestionado com alguma distância e reduzir o ritmo, para então frear já com velocidade menor.

Na retomada, o pensamento é similar: na rua, nem sempre é preciso pisar forte e fazer o carro gritar para só então subir uma marcha.

Carros com conta-giros ajudam a dosar o ritmo das rotações do motor, bastando fazer trocar antes da faixa vermelha, cuidando para manter a faixa média de rodagem constante (em carros mais recentes, a faixa dos 2.000/2.500 giros costuma ser a ideal). Mesmo sem o equipamento, porém, é possível ficar de ouvido atento e manter o carro rodando suave e silenciosamente.

5 - RESPEITE O COMPANHEIRO
Você pode achar que todo piloto é adversário mortal do restante do grid -- a rivalidade a cada corrida pode gerar rusgas, mas nada disso significa que vidas devam ser arriscadas. Na rua, então, o correto é ter agressividade zero.

"Tem cara que acha que a seta é do outro carro é sinal de que aquele motorista quer ser fechado", aponta Ingo Hoffmann, agora com ironia explícita. "E também tem aquele motorista que está a 60 km/h em uma pista de 120, mas não dá passagem apenas para provocar", completa.

O objetivo no trânsito é sair do lugar A e chegar ao lugar B. E ninguém vai ganhar prêmio por chegar antes. Planeje seu itinerário, verifique o equipamento, se ajuste bem ao carro e rode tranquilo sem precisar achar que disputa com o carro da faixa ao lado.

E se achar que o seu negócio é mesmo a competição, participe de um curso de pilotagem -- você verá que realmente há muito a se aprender.

* Curso feito a convite da Mitsubishi do Brasil; a participação, mediante pagamento, é aberta ao público em geral. Saiba mais.