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GM promete compensar vítimas em CPI e pode receber multa recorde

Do UOL, em São Paulo (SP)

01/04/2014 19h20Atualizada em 02/04/2014 18h21

Mary Barra, presidente global da General Motors, respondeu por duas horas e dez minutos a perguntas de parlamentares americanos durante audiência realizada nesta terça-feira (1º) pela Comissão de Comércio e Energia, uma CPI realizada pelo Congresso dos Estados Unidos, em Washington.

A executiva pediu desculpas novamente pelo caso das ignições defeituosas em 2,2 milhões de carros antigos, disse que "voltaria o tempo se pudesse" e afirmou que a montadora vai "buscar um meio de compensar as famílias" de vítimas fatais e também quem teve perdas financeiras. Ainda assim, os parlamentares podem mudar a lei americana para elevar o valor da multa à montadora.

Parentes de vítimas de falha do Cobalt americano protestam antes de CPI nos EUA: 13 mortes - J. Scott Applewhite/AP - J. Scott Applewhite/AP
Parentes de vítimas do Cobalt americano protestam antes de CPI: 13 mortes
Imagem: J. Scott Applewhite/AP

O objetivo da CPI é determinar se a GM ocultou a falha do público por questões financeiras, já que apesar de conhecer o defeito dos miolos de ignição desde 2001 e ter emitido boletins de serviço a revendedores em 2005 sugerindo soluções, a empresa só anunciou o recall há dois meses. Críticos afirmam que a decisão de postergar a convocação foi tomada durante a crise da empresa em 2008/09 para não derrubar ainda mais o valor das ações da montadora no mercado, ao passo em precisaria desembolsar apenas US$ 2 (menos de R$ 5) para trocar cada peça defeituosa.

"Não é aceitável monetizar questões de segurança", afirmou Barra ao Congresso. "É inaceitável [a solução dada pela empresa à época], mas não é como fazemos negócios na GM atualmente", completou.

Antes da audiência, a GM divulgou novo recall gigante -- o 13º do ano em todo o mundo -- desta vez afetando 1,3 milhão de unidades fabricados até 2009, como o sedã Chevrolet Malibu da geração anterior, por falha na direção elétrica.

COMPENSAÇÕES
Apesar de garantir que familiares das vítimas e donos de carros defeituosos serão compensados, a GM pode ter de arcar com multas pesadas impostas pelo governo americano e pelo NHTSA.

Mary Barra, presidente da GM, faz juramento antes de CPI no Congresso americano sobre recall das ignições - Jonathan Ernst/Reuters - Jonathan Ernst/Reuters
Presidente da GM faz juramento antes de CPI: "vamos buscar um meio de compensar as famílias"
Imagem: Jonathan Ernst/Reuters
De acordo com o jornal "Detroit Free Press", o deputado democrata Henry Waxman, da California, afirmou que vai reapresentar projeto de lei que eleva o valor das multas por atraso de recalls dos atuais US$ 35 milhões (R$ 80 milhões) para US$ 200 milhões (cerca de R$ 450 milhões). Este projeto também estebelece que US$ 3 (cerca de R$ 7) do valor de cada carro novo sejam recolhidos para formar um fundo nacional de reforço à segurança automotiva.

Durante o depoimento, a presidente da GM confirmou ter contratou o advogado Kenneth Feinberg para definir como a empresa irá compensar os compradores dos carros defeituosos. Feinberg é conhecido por gerir campanhas para arrecadar fundos para as vítimas do atentado da Maratona de Boston, em 2013, e dos danos pelo vazamento de óleo da plataforma da British Petroleum no Golfo de México, em 2010.

Segundo Barra, Feinberg trabalha com a GM desde a última sexta-feira para determinar "as responsabilidades da companhia". " A GM quer fazer a coisa certa e tem responsabilidade moral no caso", disse a executiva.

VÍTIMAS PROTESTAM
Antes da audiência, familiares das vítimas fatais se reuniram em protesto no lado de fora do Congresso Americano. Algumas famílias estão movendo ações particulares acusando a GM de homicídio. Pelo menos 13 pessoas morreram em virtude de 31 acidentes decorrentes da falha de ignição: chaveiros pesados ou mesmo buracos na pista provocavam o desligamento involuntário do carro, travando a direção, desarmando também os sistemas de freios e de airbags e impedindo que os motoristas pudessem controlar os veículos.

Deputada democrata Diana DeGette mostra ignição defeituosa durante CPI que investiga ação da GM em recall nos EUA - Evan Vucci/AP - Evan Vucci/AP
Deputada democrata Diana DeGette mostra ignição defeituosa: troca de peça teria custado US$ 2 à GM
Imagem: Evan Vucci/AP
Durante a audiência, Mary Barra disse que a GM já cedeu 13 mil carros em regime de substituição temporária a pessoas afetadas.

Segundo fontes, o problema todo surgiu com a entrega pela empresa de autopeças Delphi de cilindros de ignição fora das especificações do projeto original da GM para o sedã Chevrolet Cobalt (sem relação com o modelo brasileiro), a minivan HHR e outros modelos de diversas marcas do grupo. Ainda segundos estas fontes, o recall poderia ter sido determinado em 2007, após boletins informativos das falhas terem sido entregues aos concessionários e mecânicos da marca. Ainda assim, a convocação só foi feita sete anos depois.

Segundo o "Autoblog", o senador democrata Richard Blumenthal (Connecticut) também irá propor uma lei que obrigue as montadoras a fornecerem à agência de trânsito os mesmos documentos distribuidos internamente e a seus fornecedores. A ação seria uma forma de tornar público com antecedência casos que possam levar a futuros recalls.

Além da presidente da GM, a CPI do Congresso americano deve ouvir também engenheiros da Delphi (empresa que fabricou os miolos de ignição com defeito), diretores de segurança da NHTSA (a agência americana de tráfego e segurança viária) e advogados especializados. (Com agências internacionais)