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Toyota faz só o necessário ao mudar e ampliar Corolla; leia impressões

André Deliberato

Do UOL, em São Paulo (SP)

14/03/2014 07h01

O Corolla vendia bem mesmo com o defasado câmbio automático de quatro marchas. Segundo dados da Fenabrave, ele disputou mercado mês a mês com o Honda Civic em 2013 e terminou o ano na segunda colocação do segmento, com 54.103 unidades, enquanto o arquirrival emplacou 60.970.

Só para ilustrar o abismo para o "resto", o terceiro lugar foi ocupado pelo Chevrolet Cruze, que vendeu praticamente a metade: 26.525 unidades.

Visualmente, o Corolla -- renovado pela última vez em abril de 2011 -- já começava a dar sinais de cansaço, ainda que agradasse ao consumidor padrão (lembre-se que o fiel comprador do sedã é conservador ao extremo, em sua maioria).

O que era preciso fazer, então, para que o principal carro da Toyota no país voltasse ao topo da categoria sem arranhar seu extremo tradicionalismo? Basicamente, abandonar tudo o que fosse velho ao extremo sem alterar suas virtudes.

Foi isso que a marca fez. Só. E cobrou caro pelas mudanças.

CONJUNTO ATUALIZADO
Os motores não eram motivo de reclamação para os clientes. Mas o câmbio de quatro marchas era um desafeto constante -- para UOL Carros também, é bom dizer. A Toyota manteve os propulsores, que agora não precisam de tanque extra de combustível para partidas a frio, e trocou a antiga caixa automática por uma nova transmissão CVT, que simula até sete marchas (inclusive no modo Drive).

Na prática, tanto na cidade quanto na estrada, o novo câmbio agrada. No modo automático, ele pode responder aos comandos do motorista de duas maneiras: aos mais apressados, com aquela tradicional esticada sem troca de marchas; aos mais sossegados, com trocas quase imperceptíveis (afinal não há relação de marchas, apenas simulação) em baixas rpm, visando economia de combustível.

Para quem quer alguma... emoção (ainda que artificial), há o modo sequencial, inclusive com o botão Sport, mas que nem chega a mudar o comportamento do câmbio -- as mesmas trocas suaves podem ser feitas pela alavanca ou por borboletas atrás do volante. O comportamento do carro não empolga (a referência de esportividade entre sedãs médios brasileiros é o Volkswagen Jetta TSI e, um pouco mais abaixo, o Ford Focus Sedan), mas o nivela aos rivais diretos Civic e Cruze.

O desempenho do motor 2.0 nunca foi empolgante (lembre-se, esta não é a proposta do carro), mas não deixa a desejar: agora são 154 cv (1 cv a mais de potência) e 20,3 kgfm de torque com etanol. O consumo registrado por UOL Carros foi de 7,6 km/l -- usando o combustível vegetal -- em ciclo misto (cidade e estrada). Vale lembrar que o sedã levou nota A no programa de etiquetagem do Inmetro. O desarranjo mecânico da geração anterior, portanto, foi sanado, embora não revolucione.

Para ver a ficha técnica e o catálogo do carro, clique aqui.

  • Divulgação

    Desempenho do motor 2.0 não empolga, mas agrada: 154 cv e 20,3 kgfm de torque

INVOCADO E ESPAÇOSO
Visualmente, o carro também está melhor, reduzindo (ou igualando) a diferença aos rivais. A frente bicuda tem ar malvado e é muito mais ousada que a anterior, se aproximando de Civic. A traseira também está mais harmônica e deixou de lado a lanterna "tuning" da antiga geração -- nesse caso, o Hyundai Elantra parecem ter servido de referência, principalmente ao se observar o carro de lado.

Por dentro, espaço de sobra para cinco pessoas, ainda que os passageiros da frente tenham mais de 1,90 metro. O espaço traseiro impressiona -- mesmo com o banco dianteiro na última posição possível do trilho, sobra espaço para o joelho de uma pessoa de 1,80 m no banco de trás. O espaço para a cabeça é bom (o meio centímetro a menos de altura não foi sentidos).

Fato é que o Corolla passa a ser o sedã médio mais espaçoso do Brasil. A diferença na comparação com a concorrência pode ser notada a olho nu, mesmo sem trena.

  • André Deliberato/UOL

    Mais harmônica, a traseira deixou de lado a lanterna "tuning" da antiga geração

O QUE PESA
Nem tudo é alegria. A qualidade interna não justifica, jamais, os R$ 79.990 cobrados pela versão avaliada, a XEi 2.0 Multi-Drive S. Principalmente porque o nível do acabamento interno caiu e faltam equipamentos que são servidos (mesmo como opcionais) nos rivais.

A Toyota pede 3,5% a mais pelo Corolla XEi A/T 2015, em comparação com o anterior, por um sedã que deixa aparentes pontos de fixação e parafusos (na parte de dentro da maçaneta interna) e exagera no plástico duro (como o próprio tampão do porta-malas, que no passado já foi de veludo). Os bancos também estão mais finos e as abas laterais quase não seguram o motorista em curvas mais acentuadas.

O painel é harmonioso e bem resolvido, em si. Mas também não parece de um carro "2015". A sensação de habitar o novo Corolla é a mesma que a de conhecer o interior de um sedã do final dos anos 1990, talvez de antes -- as fontes antigas do relógio do console parecem as de um antigo Casio digital (aqueles que já eram usados, lá nos anos 1980, pelo Ford Del Rey...).

A tela digital central é tátil e intuitiva, fato que contrasta exatamente com o tamanho das fontes espalhadas pelo painel -- as palavras são sempre grandes, com letras maiúsculas, algo claramente pensado para o consumidor sênior do carro. Outra vez, a sensação de que estamos num carro que poderia ter muitos anos de estrada.

Isso tudo sem contar que itens como controles eletrônicos de tração e estabilidade, teto solar, rodas de 17 polegadas e faróis de xenônio, por exemplo, são inexistentes em qualquer versão (os faróis já foram oferecidos pela Altis, a topo de gama, que agora ostenta LEDs). Pare e repense: o preço final de um Corolla topo de linha, que agora custa R$ 92.990, não inclui tais equipamentos, comuns no catálogo da concorrência. Imagine se incluísse...

Segurança máxima

  • Reprodução

    Novo Corolla levou cinco estrelas nos testes do Euro NCAP; resta aguardar o Latin NCAP

SOMENTE O NECESSÁRIO
O resumo da história é que o Corolla melhorou: o novo câmbio é um alívio, o consumo é nota A e a segurança é cinco estrelas para os ocupantes (ao menos segundo testes do Euro NCAP; resta aguardar o Latin NCAP). E há quase a mesma configuração de equipamentos e tecnologia da concorrência.

Mas a opinião final de UOL Carros é que o Corolla, que chega nesta sexta-feira (14) às lojas, deveria mostrar mais que os rivais que já estão no mercado.

E isso assusta ainda mais se considerarmos o fato de que a versão mais cara (sem opcionais) do carro nos Estados Unidos, que tem desenho de carroceria mais esportivo e inovador (o Corolla feito no país norte-americano é um sedã compacto voltado aos mais jovens) custa no máximo US$ 20.210 (cerca de R$ 47.600 em conversão direta na cotação da quinta-feira).

Por lá, o Corolla surpreendeu. Aqui, faz apenas o necessário.