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"Need for Speed" tem carro a 240 km/h e ator sem cinto; tudo pela emoção

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

14/03/2014 19h52

"Need for Speed - The Movie", que estreou na quinta-feira (13) nos cinemas do Brasil, tem tudo para assumir o papel de filme da vez sobre cultura de carros, em oposição direta à franquia "Velozes e Furiosos". Tudo pega carona e favorece: não bastasse a morte há três meses do protagonista do filme rival, o ator Paul Walker, em trágico acidente que colocou em xeque a continuidade da trama, "Need" também dispara graças à pegada mais descontraída, roteiro de fácil digestão (raso em muitos momentos, é uma adaptação livre do universo do videogame de mesmo nome, sucesso nos consoles desde 1994), elenco com pelo menos um peixe grande e, mais importante, frota caríssima, com modelos clássicos, máquinas dos sonhos e um ou outro carro "comum" fazendo ponta.

Sobre o roteiro, tudo parte da ideia de que um mecânico e sua equipe são ases também atrás do volante. Isso até um deles (Tobey, vivido por Aaron Paul, o traficante enrolado e trambiqueiro da série "Braking Bad") ir parar na prisão, ver a vida sair dos trilhos, jurar vingança a desafetos e fazer isso tudo... correndo por ruas e estradas, de Detroit a Los Angeles.

O principal, porém, é que "Need for Speed" entrega o que promete: diversão, algumas risadas com o jeito de mano do mocinho e muita sensação de velocidade. Ainda que haja deslizes como motoristas e passageiros sem cinto de segurança (aparente) em muitas das cenas, a reprodução da pegada de supermáquinas acelerando foi perfeita: alguns carros chegaram aos 240 km/h.

Em entrevista a UOL Carros, dublês e preparadores de carros -- quem realmente foi responsável pela ação, apesar dos atores desempenharem bem seu papel ao volante -- fizeram questão de apontar que "a velocidade média dos carros na gravação de 'Need' foi bem maior do que em 'Velozes'". Tudo pela emoção.

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O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL
"Numa das cenas cruciais do filme, tivemos uma pista de cinco milhas [pouco mais de oito quilômetros] fechada, toda preparada para acelerarmos ao máximo e pudemos atingir velocidades de 200 km/h ou mais", afirmou por telefone Rhys Millen, que fez parte da equipe de "Velozes e Furiosos" e que em "Need" foi dublê do mecânico vivido por Aaron e também também do vilão Dino (Dominic Cooper).

Piloto profissional e campeão de drift, Millen apontou outra diferença básica entre as duas franquias. Se "Velozes e Furiosos" abusa de manobras e drifts, especialidade do dublê, o novo filme se destaca por colocar carros mais realistas em cenas de alta velocidade, algo que sempre impressiona. "Em 'Velozes', a média era de 70, 80 km/h", comparou. "Mas em 'Need' tivemos um desafio maior, porque tudo foi muito real em diversos sentidos".

A cena citada acima -- e que também foi assunto de post do Blog da Buffalos TV -- tem tudo para dar o que falar por envolver perseguição, manobras arriscadas na contramão e três exemplares do Koenigsegg Agera R em altíssima velocidade. Mas é tudo ficção, ninguém chegou aos 200 km/h, certo? Pelo visto, foi tudo real, mesmo.

"A velocidade dos três Koenigsegg foi, com certeza, a mais rápida de todas as cenas do filme, estávamos extremamente velozes, só não sei se posso dizer quanto", arriscou Tony Brakohiapa, dublê africano que também substituiu Dominic Cooper em algumas cenas do vilão Dino. Uma pausa se segue em nossa conversa telefônica e é possível ouvir ao fundo a aprovação da assessoria. "Como estávamos numa cena em pista fechada, parece que posso falar: alcançamos 240 km/h, o mais rápido que conseguimos dirigir aqueles carros naquela situação".

ASA FECHADA, CARRO VOANDO
Apesar da alegada velocidade descomunal, em muitos momentos é possível perceber indícios de que os carros não estão em ritmo tão puxado. Em uma das disputas, temos só supercarros em cena, incluindo o inglês híbrido McLaren P1, de 903 cv e fantástico sistema aerodinâmico... que não foi acionado uma única vez. Pergunto a Tony Brakohiapa por que não acionar a asa traseira de um carro como estes.

"Isso é engraçado, mas o fato é que aquele McLaren não foi feito para acelerar", entregou o dublê nascido em Gana. "Nem todos os carros em cena eram reais, ainda que todos parecessem muito, muito realistas. Tínhamos três ou quatro versões de cada carro, uma para acelerar, outras para filmarmos as diferentes reações de cada ator durante as tomadas. E uma para destruir", concluiu Brakohiapa.

CADÊ O CINTO
Falando em destruir, quem já assistiu "Need for Speed" -- ou ainda vai assistir -- e gosta mesmo de carros vai ficar com dor no coração a cada batida, saída de pista e capotagem das supermáquinas. E não só por ver carros tão caros em situação de perda total. Na história, alguns personagens parecem estar vivendo o papel do robô de "Exterminador do Futuro": apesar de não usarem cinto de segurança na maioria das tomadas, saem ilesos dos carros. Como pode isso?

(Atenção: não falamos aqui das cenas do começo do filme, a bordo de muscle cars clássicos e seus cintos subabdominais, certo?)

"Você pode até não ver, mas cada cena foi filmada com o máximo de segurança possível", garantiu Brakohiapa. Segundo o dublê, boa parte das cenas de ação foi feita com os atores dentro dos chamados "pods": gaiolas que imitam perfeitamente o interior da cabine dos carros, mas que são controlados externamente pela produção do filme -- volantes e pedais reais são acionados pelo dublê em um "puxadinho" instalado acima, ao lado ou atrás do pod.

"O ator está afivelado de forma a ficar mais solto, para que pudéssemos captar melhor suas reações, pois como ele não estava dirigindo de verdade, tudo o que salvava a cena era sua reação a cada curva e sinal que nossa equipe dava", explicou. Resumindo: em cenas de velocidade, como no pod, o cinto não era visível; em cenas de carro real (como quando o Mustang guiado por Tobey é atingido por um caminhão), sim.

"Foi uma imensa prova de confiança, tanto do ator, quanto da produção", afirmou Rhys Millen sobre a mesma questão. "Eles tiveram de aprender como aquele carro reagia, e isso foi feito com modelos reais em pistas reais", reforçou.

Só isso? Reagir a um pod comandado de fora? "Isso foi parte do desafio", completou Millen. "A primeira parte foi aprender a reagir ao nosso estímulo, a segunda, a confiar no dublê que comandava o pod. E a terceira parte foi fazer isso em alta velocidade, já que andávamos a até 100 km/h", reforçou.

De novo, o efeito de velocidade. E isso é o que mais convence ao final do filme, que tem sentido por seu efeito de catarse. Vive-se, através da telona, a sensação de se acelerar fundo, até o esgotamento. Tanto que, fora do cinema, a vontade de entrar em um carro e pisar era... nenhuma. E é para isso que a fantasia existe: para chegarmos ao êxtase naquele momento, vivenciando tudo sem precisar repetir na vida real.