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Volkswagen Gol 1.0 Bluemotion agrada só até dizer quanto custa

Visual atualizado, interior melhorado, motor econômico. Mas vale pagar R$ 37 mil por um carro 1.0?!?  - Murilo Góes/UOL
Visual atualizado, interior melhorado, motor econômico. Mas vale pagar R$ 37 mil por um carro 1.0?!? Imagem: Murilo Góes/UOL

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

24/08/2012 14h21

Com algum atraso, a Volkswagen mostrou a reestilização de Gol e Voyage há cerca de um mês. Conforme relatamos (releia aqui), ambos assumiram a cara quadradinha já usada por todos os outros modelos da marca (saiba mais sobre o visual no quadro ao longo desta reportagem), entre outras pequenas alterações. Também trouxemos nossas impressões sobre o Gol 1.6, topo da gama (veja clicando clique aqui). Mas faltava o teste das ruas com a configuração que faz do compacto o carro que é: gostando ou não, o Gol é o mais vendido do país, mês após mês (com raras exceções). Por isso, UOL Carros passou uma semana a bordo do Gol 1.0 renovado, que tem preço inicial sugerido de R$ 27.990 -- este valor, que é razoável para o mercado, deve ser mantido por pelo menos mais uma semana, prazo final para o benefício do IPI reduzido. Mas não abra seu sorriso ainda: tudo estava indo bem (visual interessante, mais itens de série, boa tocada, excelente consumo), até verificarmos o preço da versão avaliada, a inovadora Bluemotion: o valor pode chegar a R$ 37.405, monta desagradável para um modelo que deveria ser popular e que justifica nosso título. Leia a avaliação e tome suas conclusões. 

CARA DE MAU

  • Divulgação

    Carro da Volks tem tudo a mesma cara, certo? Quase. Apesar da "family face" padronizar os traços com faróis e grades retilíneos, detalhes definem a personalidade (a imagem que a marca quer que ele tenha junto ao público) de cada um.

    O Fox (acima na versão Bluemontion) é sorridente graças à grade do para-choque.

  • Divulgação

    O Jetta briga no ferrenho segmento dos sedãs médios e carrega a tradição de carro invocado: vincos bem marcados e cara de poucos amigos.

  • Murilo Góes/UOL

    O que fazer com o carro-chefe da marca? Que tal emprestar ao Gol o jeito marrento do Jetta? Feito!

Olhar para o novo Gol é tarefa interessante. Se começar pela lateral, nem vai notar que algo mudou, exceto por calotas (no caso do nosso teste) ou rodas de liga (em versões mais caras). A traseira ficou melhor, mais moderninha com os cortes secos, retilíneos da tampa do porta-malas e das lanternas (que, dizem, segue a padronagem do Polo europeu). Mas o grosso da  alteração está mesmo na dianteira. O motorista do carro da frente pode até pensar estar vendo o Jetta chegando pelo retrovisor e abrir passagem: o facelift da Volks geralmente faz bem aos modelos pequenos e a cara malvada parece ser suficiente para encarar os engraçadinhos (e bons) Uno e March e o insosso Palio. Mas será suficiente para dar conta do novo Chevrolet Ônix (ainda que, sob camuflagem, ele lembre demais o Gol velho?) ou do novíssimo Hyundai HB, cujo visual matador foi mostrado sem disfarces por UOL Carros

Por dentro, parece que nada foi tocado, mas com um pouco de atenção é possível perceber que o revestimento de bancos e do miolo da porta está mais agradável aos olhos e menos áspero ao toque. O painel de instrumentos também foi mexido: ficou mais fácil de ser enxergado, sobretudo à noite e ganhou de vez o conta-giros. Comandos elétricos para abertura interna do porta-malas e para vidros dianteiros também são de série (finalmente!), ainda que a marca da maçaneta giratória ainda esteja gravada na porta. O acabamento segue sendo referência entre modelos de entrada, embora a rigidez das peças -- e de volante e pedais -- desagrade a alguns. O nosso senão fica para a coluna de direção, fixa como um prego na parede: a falta de ajuste de distância e/ou altura é algo imperdoável atualmente. O mesmo pode ser dito da ausência de ar-condicionado e de porta-objetos decentes, itens já habituais em outros carros na faixa dos R$ 20 mil.

Bola fora também na segurança: airbags frontais e freios com ABS (antiblocantes), itens que muito em breve serão obrigatórios para todos os carros zero-quilômetro, e que já fazem parte do repertório básico de rivais, ainda são opcionais no Gol e vendidos de forma agregada por R$ 1.550. 

TENHA MODOS
Você sabe dirigir bem? Mesmo? A grande novidade da nova linha do Gol está no kit Bluemotion -- falamos em versão no começo do texto, mas de fato está mais para um grande pacote opcional. Ele inclui pneus com menor atrito com o asfalto e alterações no conhecido motor 1.0 da Volks de 72/76 cavalos de potência e torque de 9,7/10,6 kgfm com gasolina e etanol, respectivamente -- estas minimizam o atrito de peças internas, favorecem o funcionamento em baixas rotações e, no fim das contas, reduzem consumo e emissões. E também dota o carro do kit I-Trend (de aparência, com rodas de 15 polegadas e "supercalotas", caixas de som e rádio mais avançado, volante com comandos e computador de bordo I-System, entre outras coisas que o comprador poderia até não querer) e da direção hidráulica. As combinações automáticas típicas da Volkswagen encarecem tudo: o preço do kit é de R$ 2.991.

Além da redução à resistência do carro à rodagem, o grande ponto do pacote Bluemotion está em sua interação insistente com o condutor. Por meio do computador de bordo (daí a inclusão compulsória do I-System), o sistema alerta o motorista sobre hábitos (e manias) que são vilões do consumo de combustível. É como uma mãe que ensina o filho a lavar as mãos antes da refeição e que, já na mesa, volta a retrucar a criança para que ela não coma de boca aberta -- ela está criando um adulto melhor. No caso do Gol, o alerta pode ser para quem liga o carro e sai acelerando fundo; para quem passa as marchas de modo errado ou no tempo inadequado; para quem tem ar (e gastou mais R$ 2.350 para isso), mas insiste em trafegar com a janela aberta... No fim das contas, assimilar todas as dicas permitirá ao motorista rodar por mais tempo sem abastecer e dirigir melhor, de um modo geral. 

E funciona, mesmo. Ao recebermos o Gol da fabricante, a primeira coisa feita foi observar o computador de bordo, que indicava autonomia de 620 quilômetros. Claro, com gasolina no tanque de 55 litros. Ao fim do teste, geralmente com duas pessoas e alguma carga a bordo, e cuidando para tomar o mínimo de "broncas" do computador, havíamos explorado melhor a boa dirigibilidade do Gol e evitado as perdas de fôlego do motor 1.0: o resultado surgiu com 620 quilômetros rodados e sobra para outros 110 quilômetros -- as indicações de média oscilaram entre 13 km/l na cidade (2/3 do teste) e até 18,5 km/l na estrada (o terço restante). Pode perguntar a quem roda demais com o agora antigo Gol G5: com gasolina, a autonomia ficava na casa dos 500 quilômetros.

Ainda assim, fica difícil justificar que para economizar algumas dezenas de reais na bomba de combustível, rodar com mais segurança e algum conforto você deva ampliar o investimento em mais de R$ 10 mil no momento da compra e pagar o preço de um compacto premium em um modelo 1.0.