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Americanizado, novo Toyota Camry surpreende; problema é o preço

Todo reto: novo Toyota Camry abandonou os traços delgados da geração anterior - Murilo Góes/UOL
Todo reto: novo Toyota Camry abandonou os traços delgados da geração anterior Imagem: Murilo Góes/UOL

André Deliberato

Do UOL, em São Paulo (SP)

01/06/2012 12h45Atualizada em 01/06/2012 14h13

Nada de banho-de-loja ou faróis redesenhados: o assunto é o Toyota Camry -- o carro mais vendido nos Estados Unidos em 2009, 2010 e 2011 -- de nova geração (a sétima), que desembarcou em março no Brasil, junto com o esportivado Corolla XRS (leia nossas impressões sobre o médio aqui). O carro vendido por aqui é a versão global do modelo, que não é comercializada nos EUA (lá, onde é vendido como médio, ele tem outro desenho, mais atraente ao público jovem, e motores diferentes). Só que, mesmo assim, o nosso Camry -- feito no Japão e importado como sedã grande -- é mais americano do que nunca.

Basta reparar nas suas formas para perceber que o carro ficou ainda mais aristocrático, com linhas mais retilíneas e vincos pronunciados na carroceria. O visual cada vez mais conservador parece ser a chave do sucesso dos modelos da Toyota. Lembrou do Corolla? É mais ou menos essa a receita: um modelo discreto, com o padrão atual da marca, com (muito) esmero no acabamento. Como o público gosta.

ENTRE, SENHOR
Por dentro o Camry tem espaço abundante, principalmente pra turma de trás. E é silencioso. Os dois assentos extremos da fileira traseira reclinam eletricamente e permitem até que se tire um belo cochilo -- como um bom carro de patrão deve permitir fazer (após o expediente, claro). Os comandos, tanto do painel no console central, quanto os do descansa-braço que se abre sobre a posição central do banco de trás são bem organizados e intuitivos, com letras em fontes grandes e bem definidas para os clientes que tiverem maior dificuldade com a visão -- cá entre nós, o Camry trata bem seu público, mais maduro.

Ainda no interior, o revestimento plástico e os apliques amadeirados são de boa qualidade, mas passam a sensação de nostalgia e você vai se ver, de novo, a bordo de um modelo luxuoso... dos anos 1990. Tudo bem, sabemos que o comprador de um Camry gosta disso e não irá reclamar -- mas dava para fazer algo mais moderno: é só compará-lo com alguns modelos coreanos para ter uma aula de refino atual.

O console do Camry, ao alcance do motorista -- e, perceba, só agora tratamos de quem vai ao volante -- ainda ganhou uma tela sensível ao toque de sete polegadas. A coluna de direção também tem novidades, como o ajuste elétrico de altura e profundidade. O ar condicionado é de três zonas -- uma para cada lado ocupante da frente e outra para os bancos de trás, com comandos privativos. Quem gostava do teto solar da geração anterior terá de reclamar com a Toyota: antes opcional, ele deixou de existir.

SURPRESA DO V6
Aperte o botão de partida e ouça um ronco intenso e surpreendente. O motor V6 de 277 cv a 6.200 rpm empolga até mesmo àqueles que não gostam do carro. Ele é elástico e dá agilidade de sobra ao sedã -- parte disso se deve ao bom torque de 35,3 kgfm (disponível, por inteiro, a 4.700 rpm) e ao duplo comando variável de válvulas, que otimiza o processo de aceleração, deixando-a mais progressiva e nervosa, ao mesmo tempo. Trafegando em bom ritmo e dispondo de todo luxo permitido, chegamos ao consumo médio de 9 km/l de gasolina.

O câmbio automático de seis marchas não está no degrau mais alto de tecnologia, mas também não decepciona: ele faz as trocas sem muita demora, mesmo desobedecendo aos comandos em certos momentos -- as trocas também podem ser feitas no modo manual, pela alavanca.

A suspensão, bem, é típica de um carro americano, apesar da origem do "nosso" Camry ser oriental: molenga, faz carro e passageiro se comportarem como talher sobre gelatina, mas aguenta bem o tranco e as imperfeições do nosso asfalto e não tem batidas muitos secas.

Em suma, o Camry é um bom carro, com motor surpreendente e bom número de equipamentos. Mas que custa caro: R$ 161 mil (não houve desconto de IPI, por conta de seu motorzão). E o caro se transforma em caríssimo na comparação com os principais concorrentes: o Honda Accord V6 é R$ 16.500 mais barato (R$ 144.500); o Hyundai Azera V6, em nova geração, custa R$ 114.920; o Ford Fusion, também com motor seis-cilindros, mas perto da aposentadoria (a nova geração deve chegar até 2013) sai por R$ 94.360. Mas se sua intenção é ter um sedã de motor V6, recheado de tecnologia, confortável, espaçoso, com aroma de luxo e perfil tradicional -- e se você não tem problema com o bolso -- o Camry é a pedida.