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Consumidor não parou de comprar carro, e inadimplência com crédito deve aumentar

Leticia Moreira/Folhapress
Imagem: Leticia Moreira/Folhapress

Da InfoMoney

30/05/2011 17h30Atualizada em 30/05/2011 17h51

SÃO PAULO – O consumidor que está pensando em comprar um veículo agora pode esperar um pouco mais, se não quiser ficar endividado. De acordo com a Nota de Política Monetária do Banco Central, divulgada nesta segunda-feira (30), a inadimplência vem crescendo gradativamente, de maneira lenta, desde dezembro do ano passado.

Em abril, somente a taxa da modalidade de aquisição de veículos cresceu 0,3 ponto percentual na comparação com março, encerrando o mês em 3,3%. A taxa é a maior desde agosto do ano passado e mostra uma tendência de elevação. Já a inadimplência que engloba todas as modalidades analisadas pelo Banco Central subiu apenas 0,1 ponto percentual no período.

Para o economista e coordenador dos cursos de Gestão Financeira e Ciências Contábeis da Veris Faculdades, Fabrício Pessato Ferreira, embora lento, o ritmo de aumento da inadimplência no crédito para compra de veículos pode aumentar ainda mais. Primeiro, porque a alta é reflexo das medidas macroprudenciais adotadas no final de 2010, depois, porque a tendência é de que o aperto monetário deve ser mais intenso, fazendo o crédito ficar ainda mais caro.

“O consumidor pensa primeiro se a parcela cabe no bolso, depois ele vai vendo que o financiamento tem outros custos, que ele não colocou na conta”, afirma Ferreira. “Em algum momento, ele vai parar de pagar o financiamento. O melhor é esperar e refazer as contas, porque o crédito para aquisição de veículos vai ficar mais caro”, acredita o especialista.

Demanda reprimida e “miopia monetária”
Ainda que o crédito esteja mais caro, o consumidor ainda não parou de comprar. Prova disso é que a média diária de concessão de crédito para aquisição de veículos continua subindo. Em abril passou para R$ 404 milhões, ante os R$ 385 milhões de março e os R$ 368 milhões de abril de 2010.

“O Brasil sofre de um problema histórico, que é a demanda reprimida. Com o aumento da renda da população, a primeira coisa que o consumidor pensa, no geral, é em comprar um carro. Isso faz com que ele diminua a cesta de consumo para arcar com o financiamento do veículo”, afirma o economista. “Até ele fazer o ajuste no orçamento, ele já ficou inadimplente”.

Outro ponto a ser levado em consideração é com relação aos juros. Os dados do BC apontam novo aumento na taxa de crédito para compra de veículos, que passou de 2,2% para 2,27% ao mês entre março e abril. “Nesse caso, o brasileiro sofre de miopia monetária. Ele não vê os juros que estão embutidos. E isso acaba minimizando a política monetária, porque o consumo continua”, afirma Ferreira.

Diante desse cenário, ele espera um aumento ainda mais intenso da inadimplência.

Inadimplência
De maneira geral, a taxa de inadimplência encerrou abril em 6,1%. A alta frente a março foi de apenas 0,1 ponto percentual. Embora as altas nas taxas sejam pequenas, assim como na inadimplência para aquisição de veículos, elas vêm sendo contínuas desde dezembro.

Para o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, o aumento da inadimplência é resultado das altas da taxa básica de juro (Selic), para combater a inflação. “Esse aumento da inadimplência moderado é algo relativamente esperado, tendo em vista o aumento da inflação, aumento das taxas de juros. Há maior comprometimento da renda com pagamento de encargos no sistema financeiro”, afirmou Maciel, de acordo com a Agência Brasil.