Preocupação ambiental engatinha entre consumidores e montadoras brasileiros

Da Auto Press

Nem todas as modas estrangeiras "pegam", por mais divulgadas ou louváveis que sejam. É o caso dos índices de emissões, que servem como fator de escolha de um determinado modelo na Europa, inclusive, por causa do imposto maior para os modelos mais poluentes. Por aqui, a eficiência de um automóvel e sua emissão de poluentes ainda não representam um fator de decisão de compra para os consumidores brasileiros. "A compra consciente está mais ligada ao amadurecimento do mercado", admite Antônio Baltar, gerente geral de marketing da Ford.

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  • Divulgação

    No Japão, compacto elétrico Mitsubishi i-MiEV foi apresentado nesta sexta-feira (5); o modelo, totalmente elétrico tem emissão zero de poluentes e sua produção atende ao Protocolo de Kyoto (que vigorará a partir de 2010); a autonomia do carro é de 160 km após ciclo de carga que pode variar de 30 min (em postos especiais) a 14 horas (em tomadas residenciais de 110V).

    No Brasil, as medidas têm sido mais modestas:

    - O apelo à economia e à ecologia está presente até mesmo em siglas, como a do motor 1.0 8V VHC-E dos modelos Celta, Classic e Prisma da GM brasileira. Segundo a marca, a letra "E" acrescentada à sigla significa econômico, ecológico e energético.

    - Em uma pesquisa de 2008 sobre tecnologias de alimentação, a Bosch detectou que cerca de 30% dos consumidores estariam dispostos a pagar mais por uma tecnologia mais limpa.

    - Dentro do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular, apenas cinco modelos avaliados obtiveram nota "A" em consumo: Fiat Mille Way Economy, Kia Picanto 1.0 manual e automático, Honda Fit LX e LX-L 1.4 16V e Volkswagen Gol 1.0 e Polo BlueMotion.

    - Segundo o Ibama, a emissão do tóxico monóxido de carbono (CO) foi reduzida de 54 g/km (década de 70) para 0,4 g/km atualmente, desde a entrada em vigor do Proconve (1988).

A mirrada popularidade da questão ecológica entre as razões de compra não impede o lançamento de automóveis com um apelo "verde". É o caso do Volkswagen Polo BlueMotion, lançado em março último e que promete uma redução de até 15% em emissões e consumo de combustível. "O consumidor desse modelo quer um carro mais exclusivo, pois oferece uma diferenciação social. Isso que serve de motivação para a compra", acredita Fabrício Biondo, gerente executivo de planejamento de marketing da Volkswagen.

Ainda que não se sustente como fator de compra, a questão ecológica se liga a uma das principais razões de escolha em segmentos mais populares do mercado: o consumo de combustível. "Nesse segmento, o consumo está em primeiro lugar nas pesquisas, junto com o custo de manutenção e o preço", observa Carlos Henrique Ferreira, consultor técnico da Fiat. Entre os consumidores de automóveis mais caros, o índice de economia do carro não é citado como desejo. Só mesmo se o veículo tiver um consumo exageradamente alto é que ele pode deixar de comprar. "Apenas se for feita uma subpesquisa, com uma pergunta direta, ele vai dizer que quer um consumo menor", completa Dawnson Zanetelli, gerente de marketing de produtos da General Motors.

Só que modelos mais econômicos têm uma relação direta com menores emissões. Na Europa, o CO2 (dióxido de carbono), responsável pelo efeito estufa, é tão combatido quanto hidrocarbonetos ou monóxido de carbono. E uma das soluções para diminuir a emissão de CO2 está no downsizing. É como se chama a diminuição da capacidade volumétrica dos motores que, equipados com turbos ou compressores, têm rendimento superior ou igual a blocos maiores, sem esbanjar combustível. Tudo para obedecer os rígidos limites de emissões no continente. "Como o consumo passou a ser uma questão ambiental, os consumidores que buscam menores consumos estão, de certa forma, engajados", conclui Fábio Ferreira, diretor do Comitê de Veículos de Passeio da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade, SAE Brasil.

No Brasil, os limites estabelecidos pela quinta fase do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores) também ficaram mais rígidos. Porém, motores mais eficientes, com turbos ou injeção direta, ainda engatinham. Por aqui, na prática, a popularização dos sistemas flex é que tem uma conotação mais ecológica, pois permitiu a utilização em maior escala do álcool, renovável e menos poluente. Em abril último, 88% de todos os automóveis de passeio produzidos no país eram flex, segundo dados da Anfavea. "Alguns frotistas, empresas e órgãos do governo exigem carros flex, mesmo em regiões onde ganho de rodagem proporcionado pelo álcool seja pouco vantajoso. Mas ainda não há uma consciência social dos consumidores", reconhece Zanetelli, da GM.

O recente Programa de Etiquetagem Veicular, que indica em um adesivo o consumo médio de combustível de um veículo tanto na cidade quanto em estrada, promete forçar uma maior fiscalização da eficiência energética dos modelos no país. Na teoria, o programa pode influenciar a decisão de compra de determinados modelos por valorizar a eficiência energética, de forma clara e visível. "Muitas das soluções antiemissões não são visíveis para o comprador, como catalisadores mais eficientes e caros. O apelo ecológico encontra mais respaldo no bolso do consumidor brasileiro do que em seus desejos", explica Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK Automotive.
  • Ilustração: Afonso Carlos/Carta Z Notícias
SEDUÇÃO ECONÔMICA
O consumo de combustível "seduz" o consumidor de maneira mais acentuada do que os índices de emissões. E, por isso mesmo, a quantidade de soluções técnicas voltadas para a redução do consumo concentram mais tempo e esforços dos departamentos de marketing dos fabricantes e, às vezes, se tornam apelo central de certos modelos.

Como fez a Fiat com o Uno Mille Economy, lançado em agosto de 2008. O veterano modelo fez uso de soluções técnicas diversas -- como modificações no motor e pneus de baixa resistência a rolagem -- para propagandear consumos declarados invejáveis. Além disso, o Uno também traz um "econômetro", um medidor no painel que indica ao motorista se o modo de dirigir está sendo econômico ou esbanjador. A média oficial de consumo aponta 15 km/l de gasolina na cidade e 21 km/l na estrada -- respectivamente 10,6 km/l e 14,9 km/l com álcool. Em janeiro de 2009 o conceito Economy foi estendido também ao Palio.

Em outro segmento, longe dos R$ 21.960 pedidos pelo Uno Economy duas portas, está o Volkswagen Polo BlueMotion 1.6. Com um preço inicial de R$ 45.340, contra R$ 40.130 da versão de entrada, o hatch da Volks conta com um pacote aerodinâmico desenvolvido para diminuir o arrasto aerodinâmico, injeção de combustível reprogramada, direção elétrica e um novo escalonamento de marchas. Tudo para diminuir o consumo e emissões. Segundo o fabricante, a média de consumo do BlueMotion é de até 13,7 km/l de gasolina na cidade e 21,1 km/l na estrada -- 9,1 km/l e 14,1 km/l com álcool nas rodovias. (por Julio Cabral)

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