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Por que marca mais barata da Renault dificulta meta para corte de emissões?

Dacia Sandero Stepway durante o Salão de Paris em 2012 - Christian Hartmann/Reuters
Dacia Sandero Stepway durante o Salão de Paris em 2012 Imagem: Christian Hartmann/Reuters

Ania Nussbaum

17/08/2019 07h00

Cerca de 10 mil pessoas se reuniram perto de uma abadia cisterciense ao norte de Paris em junho, não para um festival religioso e sim para homenagear uma montadora romena chamada Dacia.

Eric Lanneau, ex-encanador de 57 anos, compareceu ao piquenique anual da marca da Renault, que contou com uma apresentação da estrela pop francesa Jenifer. Lanneau comprou um Dacia Duster em maio, conquistado pelo design e preço do SUV compacto. "Fui cliente da Ford por quase 30 anos", disse Lanneau, que mora nos arredores de Paris.

A Dacia conquistou fãs para seus veículos espartanos e de baixo custo e hoje é uma das marcas de maior crescimento da fabricante francesa. No entanto, a unidade, que se orgulha de seus preços baratos, pode agora se tornar um obstáculo para a Renault, já que enfrenta o caro desafio de cumprir os rígidos padrões de combate à poluição da União Europeia.

Os modelos 2018 da Dacia estavam mais distantes de atingir as metas de emissões da UE para 2021 do que outras marcas, de acordo com estimativas da Evercore ISI. Reformular os modelos para atender às regras "poderia afetar de maneira desproporcional a rentabilidade", mesmo que a Renault como um todo esteja melhor posicionada do que algumas rivais para cumprir os regulamentos, escreveu em nota Philippe Houchois, analista da Jefferies, em Londres.

A partir de 2020, as frotas de automóveis precisarão cumprir novos limites de emissão de dióxido de carbono, caso contrário, as montadoras estarão sujeitas a multas. Em um cenário traçado pela Jefferies, que pressupõe uma desaceleração contínua nas vendas de automóveis, as multas sobre a Renault devido à não conformidade parcial poderiam chegar a 450 milhões de euros (US$ 504 milhões) ou 17% do lucro estimado em 2020.

As multas têm como base as emissões de todos os veículos fabricados pela montadora. Em média, devido às tecnologias mais limpas, as marcas da Renault emitem menos dióxido de carbono do que os modelos Dacia.

Uma porta-voz da Renault não quis comentar o impacto da nova regulamentação.

A Renault já vende veículos elétricos, como o Zoe, a partir de 23 mil euros, e planeja começar a vender uma versão híbrida do Renault Clio em 2020 - um possível teste decisivo para um modelo elétrico Dacia.