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Patinetes elétricos: um mercado efervescente, mas ainda imaturo

Patinetes em Paris - Christian Hartmann/Reuters
Patinetes em Paris
Imagem: Christian Hartmann/Reuters

Em Paris

06/07/2019 07h00

O mercado dos patinetes elétricos explodiu nos dois últimos anos, mas os operadores ainda estão muito longe de poder garantir sua sobrevivência econômica, devido principalmente ao problema da vida útil destes veículos fabricados majoritariamente na China.

Crescimento exponencial

O mercado de patinetes elétrico - inexistente há apenas dois anos - explodiu de verdade com o lançamento da empresa americana Bird no outono de 2017 (no hemisfério norte).

Neste breve período, uma dezena de empresas como a Lime (Estados Unidos), a Grow Mobility (México) e a Flash (Alemanha) obteve um total de US$ 1,5 bilhão de captação de fundos, segundo um informe do gabinete de consultoria The Boston Consulting Group (BCG), divulgado em maio.

Só em 2018, estes dispositivos experimentaram um crescimento mundial de 76%, segundo um estudo da Federação de Profissionais da Micromobilidade (FP2M) e da agência de prospectiva Smart Mobility Lab.

Bird e Lime, ambas presentes em mais de 120 cidades no mundo, dizem contar atualmente com 10 milhões de usuários cada uma.

Para 2025, o valor total do mercado poderia alcançar os US$ 40 e 50 bilhões, segundo também o informe do BCG.

Patinetes em Paris - Philippe Lopez/AFP - Philippe Lopez/AFP
Imagem: Philippe Lopez/AFP
Um frágil modelo econômico

As empresas de patinetes elétricos de uso livre não publicam seus resultados financeiros. Mas, segundo a opinião geral, ainda estão muito longe de ser rentáveis.

O estudo do BCG considera que o custo de fabricação destes patinetes elétricos se amortiza ao longo de quatro meses de uso. Mas sua vida útil em aluguel é de três meses.

"Atualmente, a economia do patinete elétrico não funciona", afirma Tyler Barrack, um dos autores do informe.

"Estamos acima dos quatro meses antecipados pelo BCG", replica, ao contrário, Arthur-Louis Jacquier, diretor-geral da Lime na França, destacando os esforços da sua empresa para melhorar a durabilidade do produto, uma questão chave para estes dispositivos, que pretendem ser ecológicos.

"Somos capazes de reparar um patinete em 25 ou 30 minutos e não vamos desperdiçar quase nada", acrescentou.

O site Quartz, especializado em informações econômicas, realizou uma pesquisa em 2018 sobre o uso dos patinetes elétricos em uma cidade americana (Louisville, no Kentucky), que deduziu que a vida útil de um destes artefatos seria de 28,8 dias em média. No entanto, a empresa interessada neste caso, Bird, questiona estes números.

Por enquanto, o grande - e possivelmente o único - ganhador da explosão do mercado de patinetes de livre uso parece ser o fabricante chinês Ninebot, principal provedor das empresas de aluguel americanas. Segundo a agência Bloomberg, a Ninebot calculava no final de 2018 que, de cada cinco patinetes elétricos em circulação no mundo, quatro saíam de suas fábricas.

Consolidação à vista

O crescimento espetacular do mercado de patinetes elétricos se explica pela rápida evolução dos meios de transporte.

"Há uma verdadeira guinada para tudo o que é elétrico e para a mobilidade urbana, que prevalece sobre a mobilidade do lazer", explicou à AFP em abril Jean Ambert, diretor-geral de Smart Mobility Lab.

No entanto, persistem muitas incertezas sobre a longevidade deste mercado emergente.

"Quantos problemas continua havendo, sobretudo com os reguladores? Como proteger os usuários?", pergunta-se Tyler Barrack, em um momento em que várias cidades e países legislam para enfrentar o vácuo jurídico que ronda estes dispositivos.

A estas perguntas se soma a da quantidade de empresas emergentes capazes de manter uma intensa competição. "A consolidação [do mercado] é inevitável", antecipa o consultor.

Assim, a empresa americana Bird acaba de comprar de seu compatriota e pequeno competidor Scoot por US$ 25 milhões, segundo estimativas do The Wall Street Journal. E parte da empresa financeira especula com a compra da Lime pelo gigante dos VTC, Uber, que já investiu nela.