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Honda Crosstourer cobra R$ 79.900 por tecnologia e segue presa ao asfalto

VFR 1200X é misto de sport-touring e aventureira, mas não tente encarar o off-road - Doni Castilho/Infomoto
VFR 1200X é misto de sport-touring e aventureira, mas não tente encarar o off-road Imagem: Doni Castilho/Infomoto

Arthur Caldeira

Da Infomoto

01/02/2013 19h51

Quando a Honda Crosstourer foi apresentada como protótipo no Salão de Milão de 2010, surpreendeu aos jornalistas presentes pelo desenho diferenciado e pelo motor V4 de 1.200 cc. Parecia um sonho distante, mas um ano depois a Honda confirmou o conceito como modelo real.

Desde dezembro, a Honda Crosstourer, da família VFR 1200 com o devido X (de cross, em inglês) no final da nomenclatura, está à venda no Brasil. Entretanto, ainda parece um protótipo futurista. Suas linhas repletas de ângulos retos são marcadas pelo conjunto óptico e pelo para-lama protuberante.

O modelo impressiona pelo porte imponente e, é claro, pelo seu propulsor de quatro cilindros em V. Sem falar na ausência do manete de embreagem e do pedal de câmbio -- disposta a entrar no segmento bigtrail com uma nova receita, a Honda equipou a Crosstourer com o câmbio automatizado de embreagem dupla (DCT, do inglês Dual Clutch Transmission).

Assim como na VFR 1200F, a Honda optou por importar para o Brasil apenas o modelo com este câmbio DCT, com preço de R$ 79.900.

CONTROLADA
Não à toa, a Crosstourer recebeu a nomenclatura VFR 1200X: o modelo compartilha diversas soluções com sua "irmã" sport-touring VFR 1200F. A começar pelo motor de quatro cilindros em V com 1.236,7 cm³ de capacidade, mas amansado. Diversas mudanças que vão do duto de admissão ao ângulo das válvulas e a saída do escapamento diminuíram a potência e o torque.

Pela proposta da Crosstourer, a potência máxima foi reduzida de 172,7 cavalos para 129,2 cv a uma rotação mais baixa: 7.750 rpm (contra os 10.000 rpm da 1200F). O torque menor -- de 12,8 kgfm a 6.500 rpm (em vez de de 13,2 kgfm a 8.750 rpm) -- agora está disponível desde 1.500, 2.000 giros. Com isso, acelerações mais vigorosas exigem rotações menores e o motociclista não terá de controlar tanta cavalaria em uma incursão por estradas de terra.

Para isso, o modelo traz outra novidade eletrônica: o primeiro controle de tração em uma moto de série da Honda. Seu funcionamento monitora a velocidade das rodas e atua caso detecte alguma derrapagem na roda traseira. Outro item de segurança são os freios Combined-ABS.

CÂMBIO MELHORADO
Depois do torcudo e suave motor V4, o grande destaque da Crosstourer vai mesmo para o câmbio DCT. Já em sua terceira geração, com algumas melhorias, seu funcionamento é irrepreensível: trocas de marchas silenciosas, sempre na hora certa. Afinal, a central eletrônica, com a ajuda das duas embreagens -- uma para as marchas pares e outra para as ímpares -- é capaz de agir em microssegundos, mais rápido do que qualquer ser humano.

Aqui vale relembrar como funciona o câmbio DCT. No modo automático, há a posição D (Drive), feito para uma troca de marchas mais suaves e em rotações mais baixas, e a S (Sport) que, como o nome já diz, efetua trocas em giros mais altos e propicia uma pilotagem mais esportiva. Existe também a possibilidade de se optar por uma troca manual de marchas, feita por meio de botões no punho esquerdo.

Nesta nova configuração, o câmbio DCT ficou mais inteligente: no modo D ou S você pode reduzir ou subir a marcha nos botões sem que o câmbio vá para o modo manual -- antes, se você apertasse os botões das marchas, ele entrava prontamente no modo manual. Outra melhoria foi que o modo Drive conta com um mapa mais adaptável ao piloto: basta torcer o cabo do acelerador com vontade para que ele reduza uma ou duas marchas para subir de giros e realizar, por exemplo, uma ultrapassagem.

No modo Sport, por exemplo, as marchas são trocadas no limite da rotação e chega-se a quase 200 km/h em quinta marcha -- já que a sexta funciona como overdrive. Vale destacar a estabilidade do conjunto em altas velocidades, sem oscilações, firme. De acordo com sua herança sport-touring.

Os mais puristas podem chiar e dizer que sentem falta de trocar de marcha, mas rodar com o câmbio DCT é divertido. Não apenas pelo seu funcionamento irrepreensível, mas por não ter de se preocupar se a marcha está adequada para a situação e rotação do motor. Assim, o motociclista fica mais à vontade para curtir a paisagem, a estrada, ou mesmo se concentrar na trajetória mais segura para contornar uma curva.

CICLÍSTICA
Aliás, contornar curvas é uma atividade que a Crosstourer faz muito bem. Também pudera, seu quadro é o mesmo da VFR 1200F, com algumas alterações em geometria, além de suspensões de curso mais longo e uma posição de pilotagem mais ereta. O conjunto ciclístico transmite segurança nas curvas, principalmente as de alta velocidade, apesar do de longo curso do garfo dianteiro invertido, com 165 mm. Na traseira, suspensão Pro-Link (monoamortecida) com 146 mm de curso. Há regulagens de retorno e pré-carga da mola para ambas.

Mesmo sendo uma moto pesada na ficha técnica (261 kg a seco), pouco se nota toda essa massa em movimento. Muito em função do grande torque disponível no V4, é claro, mas também porque a Crosstourer é bem equilibrada até mesmo em baixas velocidades. Entretanto, o peso se faz notar em mudanças de direção mais rápidas, quando o guidão fica pesado e a moto demora a responder.

FICHA TÉCNICA

  • Doni Castilho/Infomoto

    + Motor: V4, 1.237 cm³, OHC, com refrigeração líquida.
    + Potência máxima: 129,2 cv a 7.750 rpm.
    + Torque máximo: 12,8 kgfm a 6.500 rpm.
    + Câmbio: automatizado de seis marchas com dupla embreagem.
    + Quadro: tipo diamante em alumínio.
    + Suspensão: dianteira com garfo telescópico invertido com 43 mm com ajuste de compressão, retorno e pré-carga da mola com 165 mm de curso; traseira por monobraço com conjunto de mola e amortecedor a gás ajustável e retorno com 146 mm de curso.
    + Freios: dianteiro com dois discos de 310 mm e C-ABS, traseiro com disco de 276 mm e C-ABS.
    + Pneus: 110/80 R19 (dianteiro) e 150/70 R17 (traseiro).
    + Dimensões: 2.285 mm x 1.335 mm x 915 mm (CxAxL); 1.595 mm de entre-eixos e 850 mm do assento ao solo
    + Tanque: 21,5 litros.
    + Peso: 261 kg.

PRÓS
Depois de rodar com a Crosstourer fica fácil entender porque a Honda não deseja chamá-la de bigtrail. Na minha visão, sport-touring aventureira é realmente o mais adequado. Afinal, não arriscaria uma incursão off-road com a Crosstourer para além de uma estrada de terra batida. E quer saber, grande parte dos consumidores também não.

A impressão é que a Crosstourer veio como uma resposta à pergunta "Qual a melhor para uma longa viagem: uma sport-touring ou uma moto aventureira?". O motor e quadro vêm da VFR 1200F, já o visual e a posição de pilotagem são claramente inspirados nas bigtrail.

Podemos dizer que a Crosstourer é exatamente isso. O desempenho é quase esportivo, com o motor girando próximo dos 10.000 giros, potência de 129 cv e disposição (e estabilidade) para manter altas velocidades. O conforto e as suspensões remetem a uma bigtrail com posição de pilotagem ereta e a sensação de que se pode pilotar por muitos quilômetros sem cansar.

Em resumo, a Crosstourer é uma boa opção para quem quer viajar, mas curte a posição de pilotagem das trails, o visual aventureiro e vai pilotar por estradas secundárias com o pavimento nem sempre em perfeito estado. Mesmo assim valem algumas ressalvas.

CONTRAS
A nova Honda utiliza algumas soluções técnicas vistas no modelo que é o best-seller mundial da categoria: a BMW R 1200GS. A transmissão final é feita por eixo-cardã, as rodas têm raios externos permitindo o uso de pneus sem câmara, e adoção da eletrônica para controlar a força de um motor de 1.200cc. Mas as semelhanças param por aí.

As suspensões até absorvem as imperfeições do piso na maioria das situações, mas em ondulações maiores, as suspensões dianteiras transmitem oscilações demais ao guidão, um dos motivos que a descredenciam para um off-road mais exigente. Além disso, o conforto é bom, mas poderia ser melhor. O guidão obriga o piloto a sentar bem à frente no banco, justamente onde a espuma é mais escassa.

A regulagem do pequeno para-brisa é totalmente manual e exige o uso de uma chave Allen. Além disso, se você tiver mais de 1,80 m certamente vai precisar de um para-brisa mais alto, pois a proteção do original de fábrica é bastante limitada.

Outro senão fica por conta do consumo. A Honda declara que com o câmbio no modo Drive a Crosstourer roda até 16,3 km/litro, porém em nosso teste a média foi de 13,7 km/l, confirmada pelo computador de bordo. Na medição oficial o tanque de 21,5 litros rodaria 350 km; em nosso teste, o abastecimento viria após 295 km, autonomia reduzida para um modelo que se propõe a fazer longas viagens.

Alguns outros detalhes também a deixam para trás quando comparada às concorrentes: seu computador de bordo informa apenas a temperatura do ambiente, consumo médio e instantâneo. Além disso, é preciso tirar as mãos do guidão para ter acesso às funções. Pode parecer frescura, mas estamos falando de um modelo que custa R$ 79.900 -- apenas R$ 1.000 a menos do que a versão Premium da BMW R 1200GS, que traz outros equipamentos, como suspensão eletrônica, por exemplo.