BYD: como chineses se tornaram uma das principais marcas em apenas 3 anos

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A BYD é, em 2025, a nona força do mercado brasileiro de veículos. Para chegar a esse posto, deixou para trás fabricantes consolidadas no mercado brasileiro, como Caoa Chery e Nissan. Além disso, está cerca de 2 mil unidades atrás da Honda. Assim, se continuar nesse ritmo, em breve pode chegar ao oitavo lugar no ranking de emplacamentos.
Mas nona e oitava posições são razões para comemorar? Se estivéssemos pensando nas montadoras mais antigas (Fiat, VW e Chevrolet), seriam para lamentar e fazer algo a respeito. No caso das que vieram na década de 90, como Honda, Toyota (considerando a operação de automóveis) e Renault, esse resultado também não seria digno de orgulho.
Só que a BYD ainda não produz um único automóvel em território brasileiro. Tudo vem da China. Além disso, antes de 2022, você tinha ouvido falar desta marca? É provável que não. A empresa já tinha algumas operações comerciais por aqui, mas o investimento em automóveis começou três anos atrás.
Agora, a BYD tem 39.555 automóveis vendidos no Brasil em 2025, ante os 41.503 da marca que está imediatamente à frente, Honda. Ainda está longe dos quase 200 mil da Fiat e dos números de VW e Chevrolet, mas não muito distante de Renault (50 mil) ou Jeep (46 mil).
A BYD, assim, é protagonista da ascensão mais rápida no mercado brasileiro de carros desde abertura das importações, no início dos anos 90. Como a chinesa conseguiu isso? Esse é o tema do terceiro episódio da série sobre montadoras que causaram reviravolta no mercado brasileiro.
O início da estratégia
A BYD contou com uma ajuda e tanto da Caoa Chery, que foi a grande responsável por o brasileiro passar a ver os carros chineses como desejados. A empresa venceu o preconceito, mas isso é tema para outro episódio da série.
Com terreno preparado, a BYD foi além. Começou em 2022 trazendo HAN e TAN, carros de R$ 500 mil. Muito gente riu, incrédula. Carro chinês poderia até estar sendo bem aceito, mas não por preço de modelo de luxo. Ainda mais, elétrico.
Só que quem decidiu deixar de lado o preconceito e conferir de perto ficou impressionado. Ali, a BYD expôs aquilo que vem sendo não apenas sua marca registrada, mas também a de outras montadoras chinesas: cabines atraentes, tecnológicas, espaçosas e com soluções inusitadas (como telas giratórias e câmeras 360 com vistas variadas e função 3D).
Ainda em 2022, a BYD iniciou a expansão da linha, levando tecnologias vistas no TAN e no HAN a modelos mais em conta. Então, veio o híbrido plug-in Song Plus. Este chegou um pouquinho antes do Haval H6, e sempre foi seu rival direto. Estava ali o primeiro passo rumo ao volume.
Elétrico que as pessoas querem
O segundo, e talvez mais importante passo, foi dado em 2023. O brasileiro estava ávido por experimentar o carro elétrico. Porém, não havia produtos adequados no mercado. Os que custavam entre R$ 200 mil e R$ 250 mil muitas vezes tinham cabines espartanas e sem tecnologia.
Os demais eram modelos de luxo, com tecnologias incríveis, muita autonomia e preços acima de R$ 600 mil. Suas montadoras tentavam convencer o cliente disposto a investir esse valor em um automóvel que eles podiam ser para a estrada. Para isso, tentavam ampliar, com investimento próprio, a rede de recarga rodoviária.
Porém, não conseguiram convencer tanta gente. O cliente de luxo ainda prefere os carros a combustão e híbridos. É só ver os números de vendas. Nesse cenário, a BYD trouxe o Dolphin. Por R$ 150 mil, tem a tela giratória, as câmeras, boa dirigibilidade, espaço interno para crianças e adolescentes.
A marca mostrou que carro elétrico tem de ser isso, no Brasil: urbano. É automóvel para famílias com poder aquisitivo para ter dois na garagem - um para o dia a dia e outro para viagens. Só que ninguém quer um produto de uso cotidiano espartano.
No dia a dia das cidades, tecnologias de conforto e segurança são ainda mais importantes. O Dolphin entregou tudo isso. Assim, em vez de comprar um Creta, Renegade, T-Cross ou Tracker, muitos aderiram à eletrificação por meio do produto da BYD.
No ano seguinte, veio o Dolphin Mini, por pouco mais de R$ 100 mil. Apesar do preço acima do esperado, e de ser bem mais espartano que o Dolphin, expandiu ainda mais o alcance dos EVs - inclusive alcançando motoristas de aplicativo, público que tem tudo a ver com carro elétrico.
Híbridos e promoções
Mas a BYD sabia que não faria grandes volumes apenas com carros elétricos. Então, 2024 não foi apenas o ano do Dolphin Mini, mas também dos híbridos. Vieram Song Pro, King e Song Premium. E começaram as promoções.
Para vender seus híbridos, a BYD começou a fazer ações em concessionárias praticamente todo fim de semana - algo que ainda mantém em 2025. As condições são variadas, passando por descontos, valorização do usado e boas condições de financiamento.
São coisas comuns em ações de varejo. Porém, nenhuma montadora tem essas condições todo fim de semana. Só a BYD. Que, aliás, está investindo montantes e montantes não apenas em vendas, mas também em marketing.
Os influenciadores são os queridinhos da BYD. Do pequeno produtor de conteúdo às celebridades, eles são sempre convocados pela empresa para ações em redes sociais. E há também patrocínios e "merchandising". Nesse aspecto, a montadora também atira para todos os lados: de novela da TV Globo a carnaval do Rio de Janeiro.
Assim, a BYD vai se tornando quase onipresente. Impossível não notar a montadora, que está em todos os lugares, e ter curiosidade sobre seus produtos.
Futuro
Boa e diversificada linha de produtos, muitas ações de varejo e marketing. Para fazer isso em tempo recorde, o investimento é alto. Tão alto que a maioria das montadoras não pode fazer - ou tem estrutura mais burocrática, que em alguns casos barra as ações tão audaciosas.
Junto os pilares acima, a BYD acertou ao trazer a eletrificação que a classe média queria de uma maneira que as marcas tradicionais ainda não conseguiram oferecer. Havia uma demanda, e a chinesa supriu antes das demais.
Mas nem tudo é acerto. Houve polêmicas em relações à fábrica de Camaçari (BA). A picape Shark foi mal posicionada no mercado, e até hoje não decolou em vendas. Além disso, há quem conteste a sustentabilidade das operações da BYD, que faz promoções demais - estratégia oposta à adotada pela também chinesa GWM. O que isso pode causar a longo prazo, em termos de desvalorização de produto?
Além disso, há dúvidas sobre a viabilidade financeira do modelo de negócio da BYD. Por quanto tempo conseguirá investir tanto? Essas respostas saberemos nos próximos meses e anos. Por enquanto, o panorama que temos é o seguinte: a marca chinesa continua crescendo. E promete que a fábrica em Camaçari, sua primeira no Brasil, começa a operar em 22 de junho.
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