Por que Mitsubishi acerta ao cobrar mais do que rivais chineses por seu SUV

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A nova geração do Mitsubishi Outlander chega às concessionárias em duas versões. Os preços, de R$ 375 mil para a HPE-S e de R$ 390 mil para a Signature, causaram comoção nas redes sociais, e foram considerados altos. Mas será que eles são mesmo?
Marcas chinesas como BYD, GWM e, mais recentemente, Omoda Jaecoo e GAC, mudaram a perspectiva de preços do consumidor para alguns produtos. Por R$ 250 mil, agora dá para ter SUVs de 4,70 metros de comprimento em diante, espaçosos, conectados e rápidos, além de híbridos plug-in.
Há diversos exemplos nessa faixa de preço. BYD Song Plus, GWM Haval H6 e Jaecoo 7 são alguns deles. A descrição acima parece com a do Mitsubishi Outlander, certo? Mas parece também com a do Audi Q5 e do Volvo XC60, entre outros modelos dos segmentos premium e de luxo.
O cliente do novo Mitsubishi Outlander é muito mais próximo daquele que consome marcas de luxo que do comprador de produtos das chinesas. E isso, no Brasil, sempre foi assim. Abaixo, explico.
Construção de imagem
Para marcas americanas, europeias, japonesas e até sul-coreanas, não dá para competir com as chinesas quando o assunto é preço. Os produtos feitos na China têm uma vantagem, algo inegável. E, no atual estágio dessa indústria, oferecem agora muita qualidade.
Só que, no mercado brasileiro, é preciso fazer construção de imagem. Coisa que BYD e GWM (para citar as maiores), ainda muito jovens, estão fazendo. As chinesas estão na fase de contarem ao consumidor quem elas são. Estão indo rapidamente, mas esse é um processo que não ocorre do dia para a noite.
A construção de imagem da Mitsubishi no Brasil começou há décadas. E, mesmo sendo uma montadora generalista no mundo, aqui a marca criou uma aura premium. Nunca produziu nem vendeu no País produtos do segmento popular. Focou sempre em SUVs e picapes, e no passado teve também um sedã médio.
Além dos produtos de maior valor agregado, a marca construiu uma imagem de estilo de vida voltado à aventura, com clientes descolados. Quem quer passar uma imagem desbravadora com certeza vai considerar um Mitsubishi para comprar.
Como resultado, os modelos da marca se tornaram desejados, e têm público cativo. Público este que aguardava ansiosamente a chegada do novo Outlander.
Concorrente de marcas premium
Diferentemente da Mitsubishi, Volvo e Audi são premium não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Mas, aqui, sempre tiveram consumidores em comum. Quem está de olho em um produto das duas montadoras pode sim considerar o da marca japonesa.
E, nesse contexto, o Outlander é bem acabado, moderno, bonito e custa menos que os produtos europeus, igualmente híbridos plug-in. XC60 e Q5 estão na faixa entre R$ 450 mil e R$ 500 mil. Claro que esse valor extra não é apenas pela marca.
Q5 e XC60 são mais potentes, e estão também um passo à frente em tecnologias de assistência à condução (ADAS) e conectividade. Por outro lado, diferentemente do Outlander, não têm sete lugares.
Além disso, o Q5 já circula em nova geração na Europa e o XC60 renovado foi apresentado há dois meses. Isso torna os produtos que estão atualmente à venda no Brasil defasados - a chegada das versões atualizadas é esperada para o início de 2026, no máximo. Aqui, portanto, há mais um argumento para o cliente que quer um híbrido plug-in premium olhar para o Outlander.
E quanto aos chineses? Os clientes desses produtos não são os de carros premium. Eles estão saindo de um SUV compacto, ou de um médio nacional, como Corolla e Compass. Mas ainda não chegaram ao patamar de um Q5 ou XC60.
Os consumidores de marcas chinesas levam o preço em alta consideração. Os da Mitsubishi estão mais preocupados com coisas como imagem e reputação, valores que são também os dos clientes de montadoras premium.
Não é à toa que os chineses já têm volume respeitável. O Song Plus já vendeu mais de 11 mil unidades neste ano. Se continuar no mesmo ritmo, vai ultrapassar as 30 mil. A Mitsubishi não tem pretensão nem próxima desta.
A meta da marca para o Outlander é a semelhante à obtida pelo Volvo XC60. Ou seja: uma média de 300 unidades ao mês, o que resultaria em 3.600 exemplares em um ano completo. Afinal, a Mitsubishi sabe, e sempre soube, em que área pode (e deve) concorrer.
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