Como Aston Martin virou o jogo e deixou de ser apenas o 'carro do 007'

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Qualquer pessoa que tenha o mínimo de interesse sobre o universo do automóvel e conheça ao menos um pouquinho deste mundo sempre soube que marca é a Aston Martin. Porém, durante mais de uma década (mais precisamente, na de 2010), a montadora parecia coisa do passado.
A Aston Martin era vista, na década passada, a marca dos carros de James Bond e fabricante de lendas do passado, como o DB5. E o presente? Ele era feito de coisas que certamente não serão lembradas, como o sedã cupê Rapide, e de carros conhecidos por problemas crônicos que afastavam os clientes.
E aí veio o grande ponto de mudança, aquele que tirou o presente da Aston Martin da obscuridade para fazer dela novamente uma fabricante de carros desejados: a Fórmula 1. A categoria, que também tinha perdido apelo junto à juventude, mas que graças à sua controladora Liberty voltou a ser um ícone pop, levou a montadora inglesa às novas gerações.
Mas a Fórmula 1 é apenas a fachada de uma estratégia que inclui dois pilares importantes de reconstrução. De acordo com Rodrigo Soares, diretor de operações da UK Motors, representante da Aston Martin no Brasil, estes são a parceria com a Mercedes-Benz e a chegada de Stroll.
Aqui não estamos falando de Lance, o controverso piloto de F1 que é companheiro de equipe de Fernando Alonso e que muitos acham que nem deveria estar lá. O Stroll em questão é seu pai, Lawrence, canadense que é o principal acionista da empresa e que ajudou a dar à Aston, novamente, a relevância global que, em determinado ponto, ela deixou de ter.
Aston Martin antes de Lawrence Stroll
A Aston Martin foi fundada em 1913 e entrou para a história como a fabricante de carros que investiam em três pilares: luxo, performance e design arrebatador. Os automóveis da montadora sediada em Gaydon, na Inglaterra, sempre se caracterizaram pela extrema beleza.
No início dos anos 90, seguindo a tendência dos conglomerados automotivos, a Aston Martin passou a integrar o Grupo Ford, dentro de uma divisão batizada de PAG (Premier Automotive Group). Dela também faziam parte Jaguar, Land Rover e Volvo.
A PAG deixou de existir em 2007, e logo as marcas foram encontrando seus novos destinos. A Jaguar Land Rover, como parte da indiana Tata. A Volvo, comprada pelos chineses da Geely. Já a Aston Martin ficou totalmente perdida nessa mudança.
Foi adquirida por um consórcio liderado pela Prodrive, de David Richards, que já foi dono de equipes de Fórmula 1 como Benetton (atual Alpine) e BAR (que deu o título à Jenson Button e depois foi comprada pela Mercedes). O executivo atuou como CEO até 2013, quando decidiu se afastar da Aston, que ia de mal a pior - com produtos pouco confiáveis e muitas dívidas.
Foi naquele ano que veio o primeiro pilar da virada: a parceria com a Mercedes para o fornecimento de motores AMG e componentes eletrônicos. "A parceria é apenas para os propulsores V8, que são retrabalhados pela Aston Martin para terem sempre mais potência", explica Soares. Os V12 são da própria montadora inglesa.
A chegada de Stroll
De acordo com Soares, no período em que os carros eram problemáticos, o luxo nunca deixou de ser prioridade. As cabines continuavam se caracterizando pela extrema sofisticação. Isso, a partir de 2013, associado a motores Mercedes.
Então, em 2020, Stroll veio para colocar ordem na casa, acertar as contas e acrescentar o elemento que faltava: confiabilidade dos carros. Empresário canadense renomado no ramo da moda, especialmente em segmentos de luxo de entrada, Stroll foi dono de marcas como Michael Kors e Tommy Hilfiger.
O mundo automotivo acabou atraindo a atenção de Stroll por causa de seu filho, que queria ser piloto de Fórmula 1. O bilionário empresário canadense, então, comprou a equipe Force India, depois rebatizada de Racing Point.
Em 2020, Stroll adquiriu o controle da montadora Aston Martin e a associou à equipe de Fórmula 1 que possuía. Entre os destaques, levou para ser o piloto principal o tetracampeão Sebastian Vettel - posteriormente substituído pelo bicampeão Fernando Alonso.

Enquanto a Liberty trabalhava para popularizar a F1 entre novos públicos - com ações como o documentário anual "Drive to Survive", no Netflix -, Lawrence colocava ordem na casa, organizando dívidas da montadora e providenciando a renovação de produtos. Além disso, buscava mais evidência na categoria mais importante do automobilismo.
Logo, a Aston Martin ganhou não apenas destaque, mas protagonismo para seus modelos de rua. DBX e Vantage passaram a dividir com carros da Mercedes o papel de safety car da categoria. Não existia melhor vitrine para uma marca com performance no DNA.
"No ano passado, a Aston Martin finalizou a renovação de toda a sua linha, que foi realizada em um ano apenas", conta Soares. Essa atualização começou com a BD12 e terminou com os novos Vantage e Vanquish. Mas as novidades não param: em 2025, já foi apresentado uma versão ainda mais potente do SUV mais potente do mundo. Trata-se do DBX S, de 727 cv.
Com esse movimento de administrar bem as contas e melhorar a qualidade dos produtos (retomando a confiabilidade), associado ao marketing da Fórmula 1, a Aston Martin volta a ser uma das marcas mais desejadas do mundo por todos os apaixonados por carros.
No Brasil
De 2010 a 2016, no auge de sua década de problemas, a Aston Martin teve representação oficial no Brasil - por meio do empresário Sergio Habib, ex-Citroën e atual JAC. Agora, está de volta desde 2022, desta vez por meio da UK Motors, uma parceria entre Stuttgart (que já foi representante oficial da Porsche e tem diversas concessionárias da marca) e Eurobike (grupo com revendas de diversas marcas de luxo).
O retorno ocorreu bem no meio da transição de produtos. Atualmente, o Brasil é um dos seis países que está sob o "guarda-chuva" da Aston Martin América - junto com EUA, México e Canadá, entre outros. Atua no nicho de produtos acima de R$ 2 milhões, que conta com montadoras de extremo luxo e de superesportivos - como Ferrari, Lamborghini, Maserati e McLaren (esta também representada pela UK Motors).
"A Aston Martin se diferencia das demais por estar focada na esportividade, mas não apenas nesse aspecto. O luxo também é prioridade nos modelos da marca", diz Soares. Além disso, a montadora inglesa tem sido vista como uma das principais apostas de quem quer entrar no universo dos automóveis acima de R$ 2 milhões.
São clientes que saem, principalmente, da Porsche. Desde que iniciou sua operação com subsidiária no Brasil, em meados da década passada, a alemã cresceu muito. Em 2024, vendeu mais de 6 mil carros no País, superando Audi e Jaguar Land Rover.
Consumidores em busca de ainda mais exclusividade, por isso, olham agora ainda mais para as marcas com carros acima de R$ 2 milhões, como a Aston Martin. O carro mais em conta da britânica é o Vantage, com mais de 600 cv e preço inicial de R$ 2,7 milhões.
O Vantage, aliás, é o mais vendido, ao lado do SUV do DBX. E quanto ao principal concorrente? De acordo com Soares, depende do modelo. No caso do utilitário-esportivo, Lamborghini Urus e Ferrari Purosangue.
Para o Vanquish, que é V12, ele aponto o também recém-lançado 12Cilindri, da Ferrari. Já o DB12 concorre com a Roma, também da Ferrari. Do Vantage, o principal rival é o McLaren Artura.
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