Linhas de Apolo e alma caótica de Dionísio: como anda o Aston Martin DB12
Na mitologia grega, Apolo é o deus da razão, e também da beleza. Quem olha para o Aston Martin D12, cuja nova geração foi lançada mundialmente no ano passado e já está sendo entregue no Brasil - por R$ 3,7 milhões -, não consegue ficar indiferente às suas linhas apolíneas.
"Que carro lindo" foi a frase que mais ouvi em meu perfil no Instagram, a cada imagem do produto que publiquei, e até nas ruas de Los Angeles. E olhe que estamos falando da cidade americana que mais concentra supercarros por metro quadrado. Lá, eles não são raros de se ver.
Claro que a cor do exemplar que testei pelas ruas de Los Angeles, na desafiadora Angeles Crest Highway, na rodovia de tráfego rápido i10 e nas curvas da reserva Joshua Tree Park também contribuíram para o deslumbramento. Ele é chamada de Emerald Iridescent, ou esmeralda iridescente. Iridescência é um fenômeno óptico que faz uma superfície projetar as cores do arco-íris. Não é esse o caso do DB12. Porém, seu verde muda de tom conforme a projeção da luz.
Mas toda essa superfície de Apolo esconde uma alma caótica. O D12 desperta em quem o conduz instintos primitivos e adrenalina que leva ao extremo prazer. É velocidade, é som. É festa. Na hora de acelerar, ele está muito mais para aquele deus grego que faz oposição a Apolo. Sua alma pertence a Dionísio.
O DB12 é o rival direto da Ferrari Roma, que tem valor inicial um pouco menor: R$ 3,6 milhões. Só que o 2+2 da Aston Martin é mais potente, apesar de não acelerar de 0 a 100 km/h mais rapidamente.
No Brasil, já foram vendidas dez unidades do modelo britânico. De acordo com a importadora oficial da marca, UK Motors, algumas já foram entregues e outras ainda vão chegar.
Visual e interior
O DB12 traz a nova grade da Aston Martin, com diversas barras horizontais, e onde estão sensores e câmeras dos sistemas de assistência. O vincado capô do cupê tem entradas de ar funcionais para o imenso motor dianteiro, e as rodas são de 21 polegadas em pneus 275/35. No exemplar avaliado, eram modelos com diversos raios irregulares, na cor bronze.
A lateral também têm entradas de ar funcionais, e o desenho é muito bem definido como o de um cupê - o DB12 também tem versão conversível, chamada de Volante. São 4,72 metros de comprimento, 1,98 m de altura e altura de 1,29 m. O peso é de 1.685 quilos.
As lanternas trazem uma linha fina que parte da tampa do porta-malas e fazem um contorno em direção à parte superior da traseira. As saídas de escape para o motor 4.0 V8 biturbo são duplas. O compartimento de bagagem tem apenas 262 litros de capacidade. Dá para levar duas malas pequenas (10 a 15 kg) ou uma média (23 kg) e uma mochila.
Ao se aproximar do carro com a chave na mão, bolso ou bolsa, as maçanetas se projetam para que o componente possa ser aberto. É relevada uma sofisticada cabine, com bancos esportivos revestidos de couro trabalhado, perfurado e bem grudados no chão. Os ajustes elétricos são feitos em um local incomum: do lado direito do motorista, na lateral do console suspenso.
O novo multimídia inclinado (leia mais sobre ele abaixo) tem tela sensível ao toque. Mas isso não levou a Aston Martin a abrir mão dos botões. Há comandos diretos para inúmeras funções no console central. Inclusive para o ar-condicionado. Ponto positivo para o superesportivo, pois isso privilegia a ergonomia.
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Quero receberEntradas USB do tipo C estão no porta-objetos central, atrás do console. Há também dois porta-copos.
O acesso à segunda fileira é fácil. Basta puxar uma corda de couro na parte superior dos bancos dianteiros, que logo se projetam para a frente. A partir daí, todo o processo é feito eletricamente. Porém, até crianças vão mal acomodadas nas poltronas de trás - afinal, estamos falando de um 2+2, como a Roma, o Mustang e até algumas versões do 911.
No acabamento, além de couro e alumínio, há também detalhes de fibra de carbono. E, quando o motorista cansar de escutar o motor, pode selecionar uma boa trilha sonora no sistema de som da Bowers & Wilkins.
Dia a Dia
No Brasil isso pode até não valer, mas lá fora é diferente. Assim como o 911, o Aston Martin DB12 é um esportivo que pode ser facilmente usado no dia a dia. Rodei por quase uma semana com o automóvel em Los Angeles, Indian Wells e Palm Springs sem ter problema sem nenhuma vez raspar dianteira ou parte de baixo em valetas, lombadas e rampas. Nessas regiões, as ruas são preparadas para receber modelos desse tipo.
E apesar de o DB12 ser um carro apertado e até poder representar dificuldade para que pessoas maiores deixem a cabine, traz um ajuste de suspensão bem suave no modo GT de condução, equivalente ao confortável de outras marcas.
Mas é fácil fazer o carro mudar completamente de personalidade. Basta colocar o modo de condução no modo Sport ou, melhor ainda, no Sport Plus (há ainda o Wet, para pisos molhados). Aí os amortecedores ficam mais rígidos. Tanto que é como se não existissem.
O DB12 fica com pegada mais próxima a de um carro de corrida, e ideal para usar em um track day. Mas também em uma via como a Angeles Crest Highway, subida de serra repleta de curvas e paisagens deslumbrantes na Angeles National Forest, próxima a Pasadena. Leia aqui detalhes sobre essa estrada, parte da Califórnia 2.
Desempenho
Com distribuição de peso próxima a 50/50, direção extremamente precisa e baixo centro de gravidade, o DB12 é puro equilíbrio mesmo nas curvas mais travadas. A medida que vamos conhecendo mais o trajeto, a coragem aumenta, mas com moderação. Afinal, abaixo, a um precipício, pois estamos subindo uma serra.
O modelo passa segurança suficiente para incentivar o pé fundo no acelerador, e e frenagem cada vez mais próxima da entrada destas. Perder a traseira poderia até ser algo esperado. Afinal, o DB12 tem tração atrás. Porém, a pista é pública, e convém deixar os controles de tração e estabilidade ligados, para evitar esse fenômeno.
Após uma "traseirada", por mais divertida que ela seja, é preciso ter braço para controlar o carro. Uma estrada a beira do precipício não é o cenário ideal. Mas, em uma pista, dá para andar de lado. E ir ganhando confiança, pois é possível ir reduzindo a ação dos controles de estabilidade e tração até abrir totalmente mão desse auxilio.
Outro elemento caótico é o barulho do motor 4.0 V8 biturbo. Ele é belíssimo nas acelerações. E, nas reduções de marcha, dá para escutar aquela típica raspada quando o modo Sport Plus está acionado. São 680 cv de potência e 81,6 kgfm de torque a 2.700 rpm. O câmbio é automático de oito marchas.
O DB12 ganha velocidade como um alucinado. De 0 a 100 km/h, acelera em 3,6 segundos. A velocidade máxima é de 325 km/h. Coisa que a gente só consegue alcançar nas estradas sem limite de velocidade da Alemanha. Ou, quem sabe, com muita habilidade, em um circuito de reta longa.
O ponto negativo
O DB12 foi o primeiro carro da marca a usar um multimídia desenvolvido pela Aston Martin. Antes, os carros traziam um antigo sistema de sua parceira Mercedes-Benz. O recurso é sensível ao toque, intuitivo e fácil de usar, mas há algumas questões. A primeira é a posição inclinada. Da maneira que foi colocada, a tela é ofuscada pelo sol em algumas situações. Fica difícil enxergar o mapa e até a câmera de ré em momentos de manobra - aliás, a câmera 360 é um destaque.
O navegador GPS nativo é intuitivo, fácil de usar e de ler. E, como Waze e Maps, dá para encontrar pontos pelo nome do local, sem necessidade de inserir endereço. Nos EUA, é conectado com o trânsito, mas tudo que faz é informar que há congestionamento se formando à frente. Só que tudo que faz é informar a ocorrência, sem mudar o trajeto. Essa funcionalidade precisa melhorar.
Mas então é só usar o Maps ou o Waze, não é? Desde que se tenha um smartphone da Apple, pois o DB12 não traz Android Auto. Outro ponto que precisa ser aprimorado é o default. Há botões para desativar funções da centralização de faixa no console e no volante, mas só momentaneamente. Logo, a ação na direção volta a funcionar. Para tirá-la demais, apenas nas configurações do veículo, no multimídia. O mesmo ocorre com o aviso sonoro de ultrapassagem do limite de velocidade.
Mas é só fazer isso uma vez, não é? Infelizmente, não. Toda vez que se liga o carro, essas funções voltam a ser acionadas automaticamente. Estão no default no sistema. A coisa é tão irritante que o responsável por me entregar o DB12 em Los Angeles fez questão de me levar ao carro para mostrar onde era feita a desativação, e explicar o problema. Disse que era uma queixa comum dos jornalistas que testavam o carro. Vale destacar que o 2+2 vem equipado com ACC.
Mas esportivo não precisa desse tipo de firula, como multimídia, certo? Quem pensa assim não percebeu o espírito da coisa e, certamente, nunca pensou em ter um supercarro para usar no dia a dia. E o DB12 tem essa proposta.
Para carros do dia a dia, usabilidade é fundamental. Caso contrário, vai gerar irritabilidade no motorista. Assim, esses são alguns pontos que a Aston Martin precisa aprimorar em seu novo multimídia. E antes que alguém diga que dono de carros desse valor sempre têm iPhone, eu garanto: engano seu! Existem smartphones Android mais sofisticados - e caros - que produtos da Apple. E muitos endinheirados aderem a eles. Inclusive nos EUA.
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