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Por que carro mais barato não é o que mais vende entre veículos elétricos
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Os carros elétricos têm sido colocados pelas montadoras em uma categoria à parte. Pelo preço e por suas aptidões, não podem ser comparados a modelos a combustão. Mas, no mundo 100% eletrificado, já há de tudo: desde um automóvel de entrada baseado no antigo JAC J2 (o e-JS1) a um esportivo cuja tabela pode ultrapassar R$ 1 milhão (o Porsche Taycan).
E, ao contrário da lógica do mercado, em que historicamente são os carros de segmentos de entrada que vendem mais - embora isso venha mudando desde o início na pandemia -, entre os elétricos a lógica é invertida no Brasil. O mais vendido é o mais caro, o Taycan. Esse posto, antes da chegada do Porsche, já foi de outro modelo de altíssimo valor agregado, o Audi e-tron.
Essa lógica do segmento não é difícil de explicar. Teoricamente, os elétricos têm um apelo racional, pois não emitem gases poluentes e representam grande economia com combustível. Porém, por causa do preço alto - o mais em conta do Brasil é o e-JS1, um hatch com nível de equipamentos e acabamento equivalentes ao de Argo, HB20, Onix e cia -, na prática acabam se tornando automóveis de nicho, com alto apelo emocional.
Em resumo, a pessoa física que compra um elétrico é aquela que quer estar na frente quando o assunto é tecnologia e inovação. Quem compra é quem tem reserva financeira. E o Taycan é o suprassumo do segmento. Por isso vende mais.
No entanto, o segmento deve ter um novo líder. E não será o mais barato do Brasil, o e-JS1. Na última semana, além do JAC, foi lançado o XC40 P8 Recharge Pure Electric, a versão 100% elétrica do modelo de entrada da Volvo.
Na pré-venda, foram comercializadas as 450 unidades do carro, que começam a ser entregues agora. Só esse número já deve garantir ao Volvo a liderança dos elétricos em 2021. Mas a pré-venda é sempre um momento de demanda mais alta que o normal, pois há o forte apelo da novidade - e, geralmente, são oferecidas condições especiais. Nem sempre é termômetro do que ocorrerá a seguir.
Por que o XC40 P8 Recharge deverá ser líder
Quem compra hoje carro elétrico é cliente de segmentos de luxo. Por isso, modelos como NIssan Leaf, Chevrolet Bolt e Renault Zoe não têm tanto apelo quanto os carros premium nessa categoria. Entre os hatches, o recém-lançado Mini Cooper E (elétrico) tem um pouco mais de poder comercial - justamente por ser de uma marca que não atua em categorias mais populares.
Além do Taycan, as marcas de luxo vendiam até agora SUVs elétricos médios, como o pioneiro Jaguar I-Pace, o e-tron e o Mercedes-Benz EQC. A Volvo entra na categoria com um utilitário esportivo compacto.
Na prática, isso significa que ele é de R$ 150 mil a R$ 250 mil mais em conta que os demais. A marca manteve o preço de lançamento de R$ 390 mil, valor que inclui Wallbox capaz de entregar até 11 kWh (dependendo do tipo de instalação). É um valor interessante para um carro elétrico de luxo.
Diferentemente dos hatches compactos, mais limitados em autonomia, o XC40 pode rodar até 400 km a cada recarga - número semelhante ao do e-tron, EQC e até do Taycan, dependendo da versão. Por isso, além de ser usado na cidade, pode cair na estrada sem grandes preocupações - em regiões que tenham infraestrutura de recarga.
A potência de 408 cv é quase padrão na categoria. Quase todos entregam "cavalaria" semelhante. O XC40 anda muito bem e tem muitas tecnologias, dentre elas as de assistência à condução. O acabamento, por sua vez, é sofisticado.
Em resumo, o XC40 entrega muito (não exatamente tudo) do que os SUVs elétricos maiores têm em proporções mais compactas e preços mais interessantes. Isso faz dele o acesso ao cliente de marcas de luxo que desejavam ter um carro elétrico, mas ainda achavam os valores entre R$ 550 mil e R$ 650 mil dos médios alto demais para investir.
O Volvo amplia o acesso dos clientes de luxo ao carro elétrico. Por isso, tem chances de emplacar a liderança da categoria e deixar o segmento mais próximo da lógica que não existiu até agora: a de preços (mais baixos) como apelo de venda.
Problemas de entrega
Mas nem tudo é assim tão simples. A produção mundial de carros passa por uma crise e muitas marcas não têm modelos para entregar no mercado nacional a curto e médio prazo. A própria Volvo só conseguirá trazer um novo lote do XC40 P8 a partir de janeiro. Por isso, quem receber agora só receberá o carro a partir do início do ano que vem.
A Audi é outra que consegue vender tudo o que tem do e-tron. O mesmo ocorre com a Porsche, que tem espera para conseguir entregar não apenas o Taycan, mas a maior parte dos seus carros esportivos. O fato é que o interesse dos clientes está bem maior do que a oferta.
Por isso, ser líder nesse segmento não é apenas uma questão de despertar interesse, que está alto para a maior parte dos carros, mas também de conseguir trazer o maior número de unidades a cada lote.
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