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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Por que o novo Mercedes-Benz GLA é até R$ 125 mil mais caro que os rivais?

Mercedes-Benz GLA 200 AMG Line  - Divulgação
Mercedes-Benz GLA 200 AMG Line Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

12/02/2021 09h53

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Na semana passada, publiquei em meu perfil do Instagram algumas informações sobre a chegada da nova geração do Mercedes-Benz GLA. O modelo vem em versão única, GLA 200 AMG Line, com preço de R$ 325.900.

Foi esse número que causou comoção entre as pessoas que viram minha publicação na rede social. E há uma razão bem clara para isso. O carro, que tem motor 1.3 turbo de 163 cv, pode ser até R$ 125 mil mais caro que algumas versões dos concorrentes.

E quem são os rivais do novo GLA? Embora o modelo tenha crescido e ficado muito mais bem equipado, os mesmos de antes, segundo a própria montadora: Audi Q3, BMW X1 e Volvo XC40. Land Rover Range Rover Evoque e Jaguar E-Pace também estão nessa categoria.

Por que então o GLA agora está em uma faixa de preço tão superior? Aqui, analisaremos as razões, inclusive as justificadas pela Mercedes-Benz. Antes disso, confira um comparativo de preços dos principais concorrentes.

Novo GLA x rivais

O carro mais barato da categoria é o Q3, que começa em R$ 199.990, pouco mais de R$ 125 mil a menos que o novo GLA. Todas as versões do Audi têm o motor 1.4 de 150 cv e a mais cara sai por R$ 255.990 - uma diferença quase R$ 70 mil ante o Mercedes.

O XC40, que este ano é o carro mais vendido da categoria, custa enttre R$ 244.950 e R$ 279.950. A versão mais cara do Volvo, que é híbrida e tem total de 262 cv, é R$ 45.950 mais barata que o GLA 200 AMG Line. E traz itens como sistema semiautônomo de condução, frenagem automática de emergência, sensor de ponto cego, etc.

Quanto ao X1, os preços do BMW partem de R$ 256.950 com motor de 192 cv. A opção de topo custa R$ 294.950. Ela é "apenas" R$ 30 mil mais barata que o SUV da Mercedes. Porém, entrega 231 cv de potência.

Os carros que mais se aproximam do novo GLA sempre optaram por um posicionamento mais luxuoso, mas investiram em motores fortes, algo que a Mercedes-Benz não fez com seu modelo. O E-Pace sai por R$ 328.950 com nada menos do que 300 cv.

As versões de 249 cv são mais em conta, partindo de R$ 277.950. O Evoque supera o preço do Mercedes (bastante). Custa R$ 362.950 e tem propulsor de 250 cv.

O novo Evoque foi outro modelo da categoria que causou comoção no lançamento por causa do preço, bem superior ao de sua geração anterior.

Posicionamento do novo GLA

Assim como o Land Rover, o GLA também fica bem mais caro nesta nova geração. A anterior tinha faixa de preço semelhante às dos rivais alemães e sueco listados acima.

Quanto ao motor, saiu de cena o 1.6 turbo de 156 cv para entrar o 1.3, 7 cv mais potente. O câmbio é o mesmo automatizado de sete marchas e duas embreagens.

O que mais mudou no carro, além de plataforma e dimensões, foi a lista de equipamentos. Head de Produto da Mercedes-Benz, Evandro Bastos divide o mercado em três faixas: generalista (basicamente os modelos nacionais), premium e luxo.

De acordo com ele, antes o GLA estava no nível premium. Agora, ataca na categoria luxo, que é mais restrita, cara e, consequentemente, tem volume menor. Por isso, o carro, por ora em única versão, traz pacote visual AMG.

Rodas, para-choques, grade frontal, rodas, bancos e volante são da divisão de preparação esportiva da Mercedes-Benz. Além disso, há fibra de carbono no revestimento interno das portas e painéis.

Entre os itens de série, se destacam o carregador de celular por indução (sem fio) e diversos recursos de assistência. O auxílio ao desembarque usa radares, sensores e câmeras para avisar se o motorista pode descer do carro, pois vê a aproximação de outros veículos que podem colidir com a porta aberta - ou até mesmo atropelar a pessoa que está deixando o carro.

Já o assistente à direção comanda esse componente a até 210 km/h, auxiliando em situações como curvas. Porém, o motorista tem de manter as mãos no volante. E o sistema não é um semiautônomo de condução, como o Pilot Assist do XC40, por exemplo.

Isso porque o GLA não traz o controlador de velocidade adaptativo (ACC), que é capaz de frear e acelerar o SUV de acordo com os movimentos do veículo na frente. No Mercedes, há só um sensor de distância (não só dianteiro, como também lateral e traseiro).

Por que a Mercedes mudou o posicionamento

De acordo com Bastos, a chegada ao GLB levou a Mercedes-Benz a adotar o novo posicionamento do GLA. Apesar de o modelo, lançado no fim do ano passado, ser mais espaçoso e ter sete lugares, ele é mais barato: custa R$ 299.900.

Por isso, o GLB passa a ser o SUV mais acessível da Mercedes. Para o GLA, a marca adotou agora um posicionamento mais de nicho, para clientes mais interessados em esportividade. Embora o carro não possa ser chamado de esportivo, por não trazer nenhuma preparação mecânica e ter motor na média da categoria, seu visual investe nesses elementos.

Bastos conta também que, a partir de agora, trazer modelos mais recheados (e caros) é uma tendência na Mercedes. Trata-se de uma mudança de posicionamento da marca, que passará a investir mais no segmento de luxo, não mais naquele que o executivo chama de premium.

A curto prazo, haverá consequência, a não ser que exista mudança de estratégia nas rivais: perda de participação de mercado. A Mercedes-Benz, ex-líder de vendas do mercado de luxo, no ano passado ficou com a quarta colocação - atrás de BMW, Volvo e Audi, respectivamente.

Mas, para Bastos, a mudança de estratégia foi pensada para trazer resultados a longo prazo. O fato é que, se a tendência se confirmar, a marca ficará ainda mais restrita no mercado brasileiro.

Em pré-reserva, o novo GLA 200 AMG Line começa a ser entregue em março. Haverá mais uma versão do SUV, posicionada acima da atual: a AMG, com preparação esportiva.

Dólar em alta

Bastos diz que o dólar não é a razão principal da mudança, mas que contribuiu para isso. Assim como para todo o mercado, a alta do dólar vem levando à disparada de reajustes nos preços. No segmento de automóveis de luxo, com produtos importados e de alto valor agregado, a matemática fica ainda mais complicada.

A estratégia de rechear um produto pode ser uma boa saída, pois mesmo os modelos bem menos equipados estão com dificuldades para manter suas tabelas. Com ou sem mudança de posicionamento, a tendência é de que, a curto e médio prazo, os automóveis de luxo sejam produtos cada vez mais restritos.

As montadoras - e não só as do segmento de luxo - também estão partindo para a estratégia de equipar mais, cobrar mais e vender menos. Em uma análise recente feita por esta colunista, mostrei que até a Fiat, que era uma das mais populares do Brasil, vem reduzindo seus investimentos em segmentos de entrada.

Carros mais equipados geram mais receita para as montadoras. E, em um mercado em queda e com diversos problemas estruturais, o lucro por produto nunca foi tão importante.