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Viagem de carro: qual é o veículo ideal para uma road trip?

Mustang no Arizona, a caminho do Grand Canyon - Rafaela Borges
Mustang no Arizona, a caminho do Grand Canyon Imagem: Rafaela Borges

Colunista do UOL

11/01/2021 04h00

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Uma pergunta constante que recebo em meu perfil do Instagram é: qual é o carro ideal para uma road trip? E a resposta, como vocês já devem imaginar, é: depende. São vários os fatores que devem ser observados na hora de fazer essa escolha.

Entre eles estão as condições da estrada que se vai percorrer, o número de pessoas que vai viajar (bem como quantas malas elas vão levar), se há ou não crianças na viagem e até mesmo o gosto do motorista quanto às características de dirigibilidade.

Se a viagem não for a local próximo de sua base e exigir trecho aéreo, é importante ter esses fatores em mente na hora de alugar um carro. No Brasil, as opções nas locadoras tradicionais, dessas que têm quiosques em aeroportos, não são das mais variadas. Muitas até oferecem algumas opções de luxo, como sedãs médios e SUVs, mas esse é o máximo que você vai conseguir (e por preços muito altos).

Já no exterior, especialmente nos Estados Unidos, uma road trip pode significar a chance de guiar um carro de sonhos ou, ao menos, um modelo luxuoso que não está facilmente ao alcance no mercado brasileiro. Esses veículos podem ter até preços bastante interessantes.

No entanto, é preciso antes se perguntar: o veículo de sonhos vai atender às necessidades dessa viagem? Eu já cometi alguns erros, e o pior deles foi em minha última road trip fora do Brasil, para a Toscana.

A ideia parecia excelente: um conversível de quatro lugares, para aproveitar bastante o verão da Itália (o mês era o de agosto) e as belas paisagens da região. E, até certo ponto, a ideia foi realmente boa.

Eu viajava apenas com um acompanhante, então o porta-malas mais limitado do modelo, em relação à versão sedã, não seria um problema para três malas (duas médias e uma pequena). E realmente não foi.

O problema é que, nos dias de deslocamento entre uma base e outra com mudança de hotel (portanto, com malas no bagageiro), não dava para abrir a capota, e a funcionalidade de conversível era perdida. Mas esse não foi um grande contratempo, pois nem fizemos tantas bases. A maior parte dos deslocamentos foi sem bagagem.

Fusca Rota 66 - Rafaela Borges - Rafaela Borges
Fusca na Rota 66, nos EUA
Imagem: Rafaela Borges

O maior contratempo ocorreu nos quatro dias em que uma terceira pessoa entrou na viagem, algo já programado desde o Brasil. A bagagem dessa nova companheira não coube no porta-malas, e foi bem difícil acomodá-la no banco de trás - o carro tinha apenas duas portas.

Então, já sabe: se a viagem envolver mais de duas pessoas, ou mais do que duas malas médias e uma pequena, fuja dos conversíveis - por mais que eles pareçam tentadores, ainda mais por serem raros no Brasil. Ou, ao menos, procure algum que tenha um porta-malas generoso mesmo com a capota aberta.

Condições das estradas

Eu gosto muito de fazer road trips sozinha. Embora o prazer de uma boa companhia seja grande, é também muito legal fazer sua própria programação e mudar de ideia - e até de destino - a qualquer momento. Afinal, você está de carro, então não precisa se preocupar com horários de aviões e trens. Além disso, não precisa consultar ninguém para tomar suas decisões de última hora.

Viajando sozinha, posso escolher qualquer modelo para qualquer ocasião, já que não preciso me preocupar com acomodação de bagagens no porta-malas e espaço no banco de trás. Certo? Errado.

Em 2018, aluguei um Ford Mustang para ir de Las Vegas ao Grand Canyon, o que foi uma ótima pedida. A estrada era bem pavimentada e cheia de curvas que combinaram com esse carro, que, para melhorar, era um conversível (no verão). Eu pretendia usar o mesmo modelo no dia seguinte, para ir de Vegas a Los Angeles.

Meu trajeto seria pela emblemática Rota 66, e não haveria problemas em relação ao porta-malas - já que eu mudaria de base. Mesmo com muitas malas, eu poderia colocar parte de bagagem no banco de trás, se acomodar tudo no bagageiro me impedisse de abrir a capota.

Porém, na própria locadora, fui alertada: o Mustang não era o carro ideal para uma viagem pela Rota 66. Com suspensão muito baixa e ajuste esportivo, ele pularia demais nas ondulações da rodovia, o que geraria bastante desconforto.

Além disso, o trecho inclui passagem pelo meio do deserto do Mohave, e algumas estradas por lá têm péssimas condições, que castigariam os pneus finos demais do carro. Então, mudei de ideia, mas não apelei ao bom e velho SUV: optei por um VW Fusca (aquele da geração mais recente, chamado nos EUA de Beetle). Foi uma boa escolha.

Mas não dá para fugir do bom e velho SUV quando o trecho inclui muitas estradas de terra. Mesmo que elas sejam aptas, em condições normais, para carros mais baixos, uma simples chuva pode mudar tudo, e tornar o trecho impossível para esse tipo de modelo. Além disso, tração 4x4 e pneus de uso misto podem ser indispensáveis em algumas situações.

Em duas road trips que fiz recentemente para a região da Serra da Mantiqueira, optei por SUVs. As estradas que encontramos por lá são cheia de curvas desafiadoras, ideais para um carro mais baixo e com aptidão esportiva. Porém, se o objetivo é percorrer a vasta região, em vez de ficar parado em um só lugar, é impossível não encontrar uma estrada de terra pelo caminho. Muitas atrações legais da Serra da Mantiqueira ficam em trilhas off-road.

Estradas de curvas e carros esportivos

Estradas cheias de curvas são a oportunidade ideal para alugar um carro esportivo. Mas um modelo desse tipo dificilmente vai atender a viajantes que estejam acompanhados por uma ou mais pessoas. Muitos têm apenas dois bancos, e mesmo aqueles capazes de acomodar mais pessoas na cabine têm porta-malas muito limitados.

Nas duas viagens acompanhada que fiz para a Riviera Francesa (uma combinando com Espanha e outra, com Itália), queria também a companhia de um Porsche 911. Em ambas, foi impossível, pois o carro não tinha espaço para bagagens de duas pessoas que ficariam por quinze dias percorrendo diversas cidades daquelas regiões.

Mas era realmente uma pena ter de recorrer a um carro comum em um cenário de estradas cheia de curvas e com vista para o azul do Mediterrâneo. A solução? Em ambos, um modelo com preparação esportiva.

RS5 Mônaco - Rafaela Borges - Rafaela Borges
Audi RS5 em Mônaco
Imagem: Rafaela Borges
Em uma dessas viagens, usei um Audi RS5, que tem amplo espaço no porta-malas e é muito divertido. Para melhorar, era a antiga versão, ainda com o emocionante e barulhento motor V8 aspirado. O modelo, mesmo em um cenário dominado por carros da Ferrari e Lamborghini, conseguiu chamar bastante a atenção.

Em condições como as oferecidas pelas estradas da Riviera Francesa, seria um pecado muito grande alugar um SUV? De jeito nenhum, até porque em algumas condições, eles podem ser a melhor alternativa (leia mais abaixo). Mas depende do SUV.

Em uma terceira viagem à Riviera Francesa, desta vez combinando com a Provença (igualmente repleta de estradas desafiadoras), eu estava sozinha e finalmente poderia optar pelo Porsche 911. Mas as circunstâncias financeiras acabaram me levando a um BMW X2. E não me arrependi.

X2 Provença - Rafaela Borges - Rafaela Borges
BMW X2 na região de Provença, na França
Imagem: Rafaela Borges
O SUV, mais baixo que um utilitário convencional e com dirigibilidade impecável, se mostrou muito divertido nas curvas das estradas francesas. Além disso, compacto, era fácil de estacionar nas diversas vilas medievais que visitei na Provença - missão que o RS5, e um S8 de uma viagem anterior, jamais foram capazes de cumprir.

Viagens em grupo

Quando o grupo de viagem inclui mais de duas pessoas no mesmo carro, espaço é fundamental. Se a jornada for com duas crianças atrás, até dá para recorrer a um modelo compacto com pouca amplitude para as pernas no banco de trás.

Porém, faça isso apenas se a viagem não for muito longa. Caso contrário, na maioria dos hatches compactos, será difícil acomodar as malas preparadas para um longo período, que tendem a ser mais volumosas. Melhor optar, entre os compactos, por um sedã ou até um SUV.

Mas, neste caso, verifique antes a capacidade do bagageiro do modelo escolhido. Nem todos os utilitários-esportivos compactos têm porta-malas volumosos - incluindo alguns do segmento premium.

Mas se a viagem incluir mais de duas pessoas e o passageiro (ou passageiros) extra for adulto, melhor fugir dos compactos, a não ser que o modelo tenha um ótimo espaço interno. Além da dificuldade de acomodar malas em viagens por períodos longos, quem vai atrás pode ficar também bastante apertado, o que acaba diminuindo o prazer da viagem.