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Primeira Classe

Por que Ford Mustang é "carro popular" nos EUA e modelo de luxo no Brasil

Colunista do UOL

18/03/2020 04h00

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É bem comum escutar que, nos Estados Unidos, o Ford Mustang é um carro popular. Será que é mesmo? E, diante disso, dá para dizer que a versão à venda no Brasil, Black Shadow, por cerca de R$ 330 mil, tem coisas de automóvel popular?

No Brasil, o conceito de carro popular está historicamente relacionado a modelos de entrada com motor 1.0, embora, com mudanças no mercado, essa percepção venha mudando nos últimos anos. No caso do Mustang, de fato os norte-americanos o consideram um automóvel popular.

Porém, o conceito não é usado pelo modelo ser de entrada, e sim por ser um cupê (há também o conversível) com preço baixo comparado ao de outros carros com essa configuração de carroceria. Isso deixa o Mustang ao alcance de mais clientes.

O muscle car também é muito comum em locadoras de veículos, e popular entre turistas que vão aos EUA e querem alugar um carro. Dá para encontrar o Mustang com tarifas diárias a partir de US$ 80, valor semelhante, ou um pouco mais baixo, ao dos modelos mais simples oferecidos por essas empresas nos EUA, como o Toyota Corolla.

E, por ser um modelo ao alcance de muitos, o Mustang traz sim algumas soluções mais simples que as encontradas em outros cupês, principalmente porque esse segmento tem mais representantes entre as marcas de luxo.

Mas essa popularidade não tem nada a ver com a versão oferecida no Brasil, Black Shadow, baseada na GT. Inclusive, quando aluguei um Mustang conversível nos Estados Unidos, escutei do atendente o esclarecimento: "Este não é o esportivo, o GT. É o de entrada."

Para os norte-americanos, os Mustang esportivos são apenas as versões da GT em diante. O modelo de entrada, com motor 2.3 quatro-cilindros turbo, é considerado um carro comum.

Já os modelos de topo, como a configuração encontrada no Brasil, são classificados pelas locadoras na categoria "carros exóticos", com preços bem mais altos.

Versão Black Shadow tem coisas de carro popular?

A fibra de carbono e os detalhes de alumínio dominam o acabamento do Mustang Black Shadow, versão que passou a ser, no fim do ano passado, a única oferecida no Brasil. O carro se diferencia do GT Premium, no qual é baseado, por detalhes pretos em várias partes (faróis, grade, capô e teto, entre outras).

Os bancos são revestidos de couro e alcântara. Diferentemente do que ocorre na versão com motor 2.3, o Black Shadow (assim como o GT) traz um sofisticado painel virtual personalizável e muitos itens de segurança com os quais carros populares, no Brasil ou nos EUA, nem sonham.

Não dá para chamar um carro assim de popular. Mas dá para ver pequenos detalhes genéricos, que são usados em diversos Ford mais baratos, no Mustang Black Shadow. Esses componentes, que estão na versão de entrada, foram herdados pela configuração sofisticada e denunciam que, no fundinho da alma, há um projeto de esportivo simplificado.

O que mais chama a atenção? As saídas de ar - muito simples, sem mecanismo requintado de abrir e fechar. É um item muito semelhante ao usado pela linha Fiesta, que deixou o mercado brasileiro no fim do ano passado.

O botão giratório de comando dos faróis, à esquerda do volante, também é comum a modelos da Ford. A central multimídia, apesar de completinha e fácil de usar, tem interface simples. Poderia estar perfeitamente em um Ka, um Onix ou um HB20.

Nos bancos da frente, há ajuste elétrico para altura e profundidade. Já o encosto é ajustado por alavanca. Atrás, não há console no centro do banco para os dois passageiros, nem saída de ar.

Fora isso, o carro com motor V8 aspirado de 466 cv que projeto um som de arrepiar está bem distante do segmento de populares. Mesmo nos EUA.

Vale destacar uma coisa que causa estranhamento. Esportivos, geralmente, usam discos ventilados nos freios traseiros. No Mustang, eles são sólidos. Mas isso não é coisa de carro popular. Os modelos de entrada trazem freio traseiro a tambor.