Topo

Primeira Classe

Tiro no pé ou genialidade? Por que Ford transformou Mustang em SUV elétrico

Colaboração para o UOL

03/02/2020 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Vivemos para ver o nome Mustang associado a um SUV. Ainda por cima, elétrico. A decisão da Ford não deixou indignados apenas os fã puristas do "muscle car". Houve também uma reação oposta no mercado norte-americano.

Por lá, há quem pense que a marca Mustang não combina com a inovação e o apelo de sofisticação do SUV elétrico apresentado pela Ford no último Salão de Los Angeles, em novembro. O cliente desse veículo, na visão dessa vertente, seria o oposto do consumidor do Mustang.

Isso porque, no mercado norte-americano, a imagem do Mustang é bem diferente daquela que o carro tem no Brasil. Aqui, é um sonho de consumo de mais de R$ 300 mil. Nos EUA, é um esportivo popular ao alcance de muitos.

No mercado norte-americano há mais versões além da GT, com motor V8, disponível no Brasil. Nos EUA, o Mustang de entrada traz propulsor quatro-cilindros de 2,3 litros. Essa é a configuração mais vendida do "muscle car". E também um "hit" em locadoras de veículos.

Mas então a estratégia da Ford foi um tiro no pé? Ou uma jogada de gênio?

Mustang é marca mais internacional da Ford

A Ford tem dois produtos que se transformaram em marcas fortes. Um deles é a F-Series, linha de picapes que é a mais vendida dos Estados Unidos. A outra é Mustang.

Assim como a linha de picapes, cujo modelo mais forte é a F-150, Mustang era uma marca muito dedicada ao mercado norte-americano. Isso até a sexta (e atual) geração, que foi lançada em 2015.

A partir desse momento, o Mustang ganhou uma revolução em suas linhas visuais, que perderam conexão com os traços históricos do modelo e ficaram mais generalistas - e fáceis de aceitar fora dos EUA. Além disso, ganhou uma preocupação que não existia nas gerações anteriores: o equilíbrio e bom desempenho em curvas.

Essas foram as chaves para a Ford atingir seu objetivo: tornar o Mustang uma marca internacional. A montadora passou a investir mais na exportação do carro - ao Brasil, ele chegou no início de 2018.

Antes disso, passou a ser vendido, ainda em 2015, na China. O Mustang Mach-E (nome do SUV elétrico), aliás, poderá ser feito no "gigante" asiático. Na Alemanha, casa da Porsche, em 2016 o carro surpreendeu o 911 para ser o esportivo mais vendido naquele país.

Em 2018, também bateu o 911 em mercados importantes, como o Reino Unido. No ano passado, alcançou o posto de cupê esportivo mais vendido do mundo.
Com esses feitos, o Mustang se tornou a marca mais internacional da Ford.

Além disso, fora dos EUA, é a conexão mais forte que a montadora tem com o universo do luxo e da tecnologia.

Estratégia mundial e foco na Europa

Com exceção da Tesla (leia mais abaixo), as montadoras americanas estão atrasadas no desenvolvimento de carros elétricos. E olha que os EUA, especialmente a Califórnia, investem muito em eletrificação, com infraestrutura que supera à de muitos países da Europa.

Mas são as europeias e asiáticas que estão mais conectadas ao desenvolvimento de tecnologias eletrificadas. O carro elétrico mais vendido do mundo é o Leaf, da Nissan. Ele é líder de vendas na Noruega.

Todo o Grupo Volkswagen está focado no desenvolvimento elétrico - até mesmo a Porsche. Marcas de luxo europeias também colocam a eletrificação como prioridade. Ela é o foco da Volvo e da BMW, que tem até uma submarca exclusiva para elétricos e híbridos, a "i".

A Mercedes-Benz também anunciou recentemente a criação de sua bandeira eletrificada. Como a Ford pode competir, chegando atrasada, com tudo isso? Assim, lançar a empreitada usando sua marca forte (e fora dos EUA, considerada também a mais tecnológica) é uma ferramenta de marketing em que a empresa apostou de olho em mercados como Europa e China.

Na Europa, a Ford perdeu muito espaço nos últimos anos. O Fiesta mantém boas vendas. Os demais produtos da marca não têm grande apelo no continente. Daí a escolha por apostar no nome Mustang.

E quanto ao segmento de SUVs? Não é apenas no Brasil: essa categoria de carros se tornou a mais desejado em qualquer país. A aposta era óbvia, mesmo que tenha custado associar o nome do mais tradicional cupê esportivo dos EUA ao segmento com características opostas às apreciadas pelos fãs desses modelos.

Mas e o mercado dos EUA?

A China é um forte mercado elétrico, e vem se tornando também referência no desenvolvimento dessas tecnologias. Na Europa, ter um modelo elétrico, ou ao menos híbrido, em alguns anos não será mais opção. As legislações sobre emissões estão cada vez mais rígidas e já há data prevista para algumas cidades proibirem a circulação de carros a combustão.

O mercado norte-americano, porém, é o maior do mundo. Por lá, picapes e SUVs grandalhões, com motores fortes, ainda têm a preferência do consumidor na maior parte do país.

Será que foi a correta a aposta da Ford no nome Mustang, provocando os fãs do carro? Só o tempo dirá, mas eu acredito que a montadora acertou. Afinal, os detratores do emblemático nome podem acreditar que ele vá criar resistência entre os clientes de SUVs elétricos. Mas quem disse que esses clientes também pensam assim?

Além disso, os fãs do Mustang podem até reclamar, mas vão deixar de comprar o "muscle car" pelo fato de ele agora também ser SUV elétrico? Será?

E há ainda o fator Tesla, marca reconhecida pelos carros elétricos e tecnológicos não só nos EUA, como em todo o mundo. A Ford precisaria mesmo de criar uma submarca para tentar enfrentar a empresa que é referência em eletrificação.

Poderia ter escolhido algo inédito. A Porsche, por exemplo, nem cogitou associar o nome 911 à eletrificação. Ainda. Porém, a Ford decidiu apostar em sua bandeira mais famosa. Então, agora será Tesla x Mustang. Não Tesla x Ford.

Viu um carro camuflado ou em fase de testes? Mande para o nosso Instagram e veja sua foto ou vídeo publicados por UOL Carros! Você também pode ler mais sobre o mundo automotivo e conversar com a gente a respeito participando do nosso grupo no Facebook! Um lugar para discussão, informação e troca de experiências entre os amantes de carros.