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Coronavírus: Brasileira suspende cicloviagem pela América após 7 mil km

Érica Ceciliato, 30 anos, está na estrada desde abril de 2019 e já percorreu 7 mil km - Acervo pessoal
Érica Ceciliato, 30 anos, está na estrada desde abril de 2019 e já percorreu 7 mil km Imagem: Acervo pessoal

14/04/2020 04h00

Érica Ceciliato ganhou a estrada há um ano para viver o sonho de dar a volta no continente sul-americano de bicicleta. O trajeto que começou no nordeste brasileiro e irá até o extremo sul da Argentina, entretanto, foi suspenso por causa do avanço do coronavírus no mundo.

A brasileira de Santos está Peru e tenta voltar ao Brasil depois de percorrer sete mil quilômetros pelo norte e nordeste do Brasil, além de Equador, Colômbia e Peru. O caminho até Ushuaia, na Argentina, será retomado tão logo a pandemia chegar ao fim.

A luta de Érica agora é para conseguir retornar para casa em segurança. Ela segue à espera de um transporte em Huaráz, a 400 quilômetros ao norte da capital Lima, há quatro semanas, desde que o Peru decretou uma rígida quarentena. Segundo ela, o governo colocou o exército em todas as entradas e saídas das cidades, impossibilitando qualquer tipo de deslocamento ou turismo na região.

"Ao perceber que a quarentena duraria mais do que duas semanas, solicitei ajuda da Embaixada do Brasil no Peru. Conseguiram me enviar um dinheiro mínimo para me manter em um hostel super econômico e comprar alimentos por aqui", explica Érica, que tem duas possibilidades para retornar.

A primeira é de avião, por meio da Força Aérea Brasileira, que repatriaria outros brasileiros que estão na região. Por isso, Érica teve de se separar da bicicleta: uma amiga espanhola a "adotou" em Huaráz. A segunda é de ônibus, por um trajeto que passa por Lima, Puno e algumas cidades da Bolívia até Corumbá, no Mato Grosso do Sul.

Enquanto isso, Érica mantém o respeito às normas da quarentena no país, que tem moldes de lockdown, com fiscalização nas ruas. Para ir ao mercado, por exemplo, apenas uma pessoa da família tem autorização para sair. Há ainda toque de recolher a partir das 16h. Aos domingos, ninguém pode ficar na rua.

O Peru soma hoje quase 10 mil casos de coronavírus, com 216 mortes. Nas próximas horas, a brasileira deve chegar a Lima, depois de passar pelo litoral peruano. Os dois trajetos serão feitos de ônibus. Na capital, deve haver uma definição para o retorno.

Sete mil km em 12 meses

A turismóloga Érica saiu de Santos em meados de março rumo a Porto Seguro, na Bahia, onde começou a cicloviagem. No planejamento dela, o trajeto até o extremo sul argentino seria concluído até fevereiro de 2021. Agora, será adiado por alguns meses.

Para viver viajando de bicicleta, Érica fez uma economia por anos. Os rendimentos ajudam, de acordo com ela, a abater 60% dos custos da cicloviagem.

"Além disso busco fazer dinheiro quando paro em algum lugar turístico por alguns dias trabalhando tanto com a venda de algo nas ruas, como geladinhos, fotos, adesivos de viagem, pulseirinhas de macramê, quanto qualquer tipo de mão de obra que algum estabelecimento precise, como garçonete e afins. O grande segredo está em fazer amizades e perguntar", explicou.

Mesmo em uma situação inimaginável meses atrás, Érica garante que irá se reencontrar com a sua companheira de estrada quando as coisas voltarem ao normal. "Nós voltaremos", concluiu.