Paula Gama

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Gasolina a quase R$ 8: por que preços variam tanto em cidades pelo Brasil

Se você já viajou por rodovias brasileiras, provavelmente notou algo curioso: os preços da gasolina podem variar bastante de um posto para outro - às vezes, de forma bem expressiva entre cidades ou estados.

De acordo com dados da Edenred Ticket Log, durante a 1ª quinzena de outubro, a gasolina mais cara do Brasil foi registrada em Óbidos (PA), a R$ 7,78 o litro, enquanto a mais barata estava em Itaguari (GO), a R$ 5,54. Diferença de R$ 2,24 por litro, o suficiente para mudar o orçamento de uma família ou impactar diretamente no valor do frete de uma carga.

Mas o que está por trás dessa conta?

Quanto mais longe, mais caro

O Brasil tem 17 refinarias de petróleo, mas a distribuição delas pelo território é desigual. A maior parte está concentrada no Sudeste, que não só produz mais do que consome, como também abastece outras regiões. Já o Norte e partes do Nordeste enfrentam maior dependência logística, já que o combustível percorre longas distâncias por rodovias até chegar aos postos.

Esse é o caso do Pará, onde está Óbidos. Apesar de ser um estado produtor de petróleo (na costa), a infraestrutura de refino é limitada e o transporte rodoviário encarece ainda mais o preço final.

Logística rodoviária

De acordo com o especialista Vitor Sabag, da empresa Gasola, o transporte é um dos grandes vilões do preço. "O combustível precisa ser transportado de outras regiões ou portos de importação, geralmente por caminhões, o que aumenta o custo de frete e encarece o preço final".

O cenário é diferente no Sudeste, segundo ele: "A região produz mais do que consome, o que garante preços mais competitivos e estabilidade maior. Além de atender à demanda local, o Sudeste ainda consegue abastecer outras regiões do país".

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Oferta local e concorrência

Quando a produção regional não dá conta da demanda, como no Nordeste, que precisa importar parte do diesel e da gasolina, o preço se torna mais sensível às cotações internacionais e à variação do dólar.

Outro ponto relevante: a concorrência entre postos e fornecedores. Na Bahia, por exemplo, desde que a refinaria foi privatizada, os preços passaram a variar com maior frequência.

"Essas empresas praticam ajustes com maior frequência, o que faz com que os preços variem mais nessas regiões. Na Bahia, por exemplo, há revisões semanais de preço, o que torna o valor do combustível mais sensível às oscilações do mercado", afirma Sabag.

Oscilações expressivas

O Monitor de Preço de Combustível, elaborado pela Veloe em parceria com a Fipe, confirma que apesar da estabilidade nacional nos preços em outubro, os estados ainda apresentam oscilações expressivas.

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Veja alguns exemplos:

  • Gasolina: subiu R$ 0,25 no Rio Grande do Norte, a maior alta do país;
  • Etanol: também aumentou R$ 0,18 no RN;
  • Diesel S-10: o campeão da alta foi o Acre, com aumento de R$ 0,29 na semana.

Enquanto isso, a média nacional se manteve praticamente inalterada:

  • Gasolina: R$ 6,31
  • Etanol: R$ 4,37
  • Diesel S-10: R$ 6,14

Ou seja, o Brasil parece estável nos números gerais, mas quando se olha de perto, a realidade muda bastante de um estado para outro.

Etanol tem influência da safra

No caso do etanol, a variação também pode ser grande:

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  • Mais caro em Itapajé (CE) e Sirinhaém (PE): R$ 5,69
  • Mais barato em General Salgado (SP): R$ 3,75

O motivo? A produção do etanol é concentrada no Centro-Sul, principalmente em São Paulo. Estados do Norte e Nordeste, que dependem do transporte do biocombustível por longas distâncias ou da importação de outras regiões, acabam pagando mais caro, ainda mais fora da safra da cana-de-açúcar.

Planejamento

Embora o consumidor comum sinta diretamente o peso da gasolina ou do etanol no bolso, ele também é afetado indiretamente pelo preço do diesel, que impacta no custo de transporte das mercadorias e, consequentemente, no valor de praticamente tudo que compramos.

É por isso que as empresas de transporte e de gestão de frotas têm adotado estratégias para reduzir os custos operacionais, de olho justamente nessas variações de preço entre estados.

Como explica Sabag, "as variações regionais no preço do combustível afetam diretamente o planejamento das rotas porque é preciso considerar onde estão os melhores preços para abastecer. As empresas podem realizar planejamentos para abastecimentos mais eficientes dentro da rota, já que muitas vezes o veículo anda por vários estados, podendo assim se aproveitar do abastecimento no ponto mais benéfico".

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E no futuro?

A diversificação dos modais logísticos, como dutos, ferrovias e cabotagem, pode ser uma saída para reduzir essas desigualdades regionais. Mas por enquanto, o Brasil ainda depende fortemente do caminhão-tanque e da malha rodoviária para abastecer seus postos.

Apesar disso, Sabag destaca que "já existem movimentos para diversificar essa logística e reduzir custos. O uso de dutos, por exemplo, é uma alternativa mais eficiente na transferência de produtos entre refinarias e distribuidoras, mas ainda é limitado e pouco explorado no país. Além disso, há projetos em andamento para fortalecer outros modais, como a cabotagem, que vem ganhando impulso com o programa BR do Mar, e as ferrovias, com concessões e investimentos para integrar portos, centros consumidores e polos de produção".

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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