Fim da bolha? Por que carro chinês deve ficar mais caro a partir de 2026

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A China é hoje a maior fabricante de veículos do mundo, e também a que mais está queimando caixa para continuar produzindo. O país ultrapassou a marca de 31 milhões de veículos produzidos em 2024, com capacidade para fabricar mais que o dobro disso. Mas quem vai comprar tanto carro?
Na prática, há mais montadora do que mercado, mais carro do que cliente, e esse desequilíbrio está prestes a cobrar a conta. A consequência, segundo especialistas, será o estouro de uma bolha no setor automotivo chinês, hoje dominado por modelos elétricos de baixo custo que invadem mercados como o Brasil com preços extremamente competitivos. Mas essa bonança tem prazo para acabar.
"Durante a primeira década desse século, a indústria chinesa teve o incentivo do governo. Eles sabiam que, se fossem investir em veículos convencionais, com motor a combustão, estariam atrás dos americanos, dos alemães, dos japoneses e dos coreanos. Então, eles focaram nos veículos eletrificados de todo tipo. E para isso, abriram o cofre e permitiram que todas as empresas que quisessem investir nesse segmento, pudessem fazê-lo", explica Cássio Pagliarini, estrategista da Bright Consulting, em entrevista ao UOL Carros.
O resultado: 129 marcas de carros elétricos e híbridos atuam hoje na China. Mas só 15 delas devem sobreviver até 2030, segundo estimativa da consultoria AlixPartners. Todo o resto deve desaparecer por falta de viabilidade financeira.
Produção orientada por metas, não por demanda
A raiz do problema está nas metas estabelecidas por Pequim. Em 2017, o governo chinês definiu como objetivo produzir 35 milhões de veículos por ano até 2025, quase o dobro do recorde histórico dos EUA, que gira em torno de 17 milhões anuais.
Para alcançar esses números, governos locais passaram a oferecer terras subsidiadas, incentivos fiscais e até bônus em dinheiro para atrair fábricas de montadoras, principalmente de veículos elétricos. O foco deixou de ser a lucratividade ou a sustentabilidade de mercado e passou a ser cumprir metas de produção a qualquer custo.
"Eles têm excesso de marcas e de capacidade produtiva. Durante um momento, isso vai gerar descontos, veículos a preços abaixo do normal, exportações para países como o Brasil com custo bem baixo", alerta Pagliarini.
Preço baixo... por enquanto
Hoje, esse excesso de produção gera carros elétricos com preços incrivelmente baixos. Alguns modelos chineses são vendidos por menos de US$ 10 mil no mercado interno, e por em torno de R$ 100 mil no Brasil - uma façanha que nenhuma montadora ocidental conseguiu replicar com escala, levando em consideração que o Renault Kwid E-tech também é produzido na China. A BYD e a GWM, por exemplo, conseguem vender alguns de seus modelos híbridos a preços que desafiam até mesmo os seminovos a combustão.
Mas, segundo especialistas, essa fase não deve durar muito. "A médio prazo eu entendo que a maioria das empresas vai ser absorvida por outras da própria China. Então vai haver uma depuração, um processo que a gente chama de fusões e aquisições, e elas devem restar um número bem menor de empresas."
A estimativa dos analistas é que essa fase de liquidação e promoções acabe em até dois anos. De acordo com pesquisa da CADA (Associação de Concessionárias de Automóveis da China), apenas 30% das revendas são lucrativas hoje, e muitas recorrem a práticas extremas para não afundar: vendem com até 20% de prejuízo, registram carros como "vendidos" apenas para alcançar metas de bônus e, em alguns casos, enviam veículos como "seminovos com zero quilômetro" para o exterior.
"Uma vez que os veículos excedentes e as fábricas excedentes sejam eliminados, ou comercializados, existe uma tendência do preço voltar. Porque para você comercializar veículos excedentes, tem que fazer incentivos de venda, tem que baixar os preços. Uma vez que esse excesso de produção acabe, é natural que os preços voltem. Isso daqui a um ano ou um ano e meio", prevê Pagliarini.
E o Brasil com isso?
O consumidor brasileiro está aproveitando o bom momento, com aumento da concorrência e venda de modelos chineses com preços muito competitivos. Mas essa janela de oportunidade pode se fechar em breve.
Com a expectativa de consolidação do setor e fim dos estoques, a tendência é que os preços subam a partir de 2026. Também é provável que algumas marcas e veículos que estão chegando hoje, não estejam mais no mercado muito em breve. O que pode impactar na desvalorização dos carros e dificuldade de encontrar peças.





























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