Paula Gama

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ReportagemCarros

Carros antigos viram investimento, e até Fuscas são vendidos por fortunas

Há algumas décadas, eles rodavam por aí como meros meios de transporte... às vezes até renegados, sem charme ou prestígio. Hoje, esses mesmos modelos são disputados por colecionadores, valorizam mais do que ativos da Bolsa e podem render lucros de seis dígitos. Estamos falando dos carros antigos que, mais do que nostalgia, viraram investimento lucrativo.

Não é exagero dizer que certos clássicos têm se comportado como obras de arte. E não estamos falando só de Ferraris e Porsches. Tem brasileiro apostando pesado em modelos nacionais como Puma, Envemo e até o "pé de boi", versão básica (e raríssima) do Fusca, que já chegou a ser vendido por R$ 170 mil.

Da paixão 'irracional' à estratégia

"Hoje tem muita gente que compra carro antigo como proteção de patrimônio", explica Silvio Luiz, da Old Is Cool, loja especializada em veículos clássicos e colecionáveis. "É um bem palpável. Se der uma virada na economia, tipo um confisco, você tem ali algo real. Pode vender, embarcar para fora, trocar... É um porto seguro."

O que parece exagero ganha força quando se olha para a valorização de alguns modelos nos últimos anos. Durante a pandemia, por exemplo, modelos da brasileira Puma fabricados até 1972 dobraram de valor em menos de um ano.

Réplicas de Porsche, como a brasileira Envemo Super 90, saltaram de R$ 60 mil para R$ 300 mil em pouco mais de uma década - uma valorização de 400%. O índice é bem maior do que o de um imóvel médio no Brasil, por exemplo, que, em uma análise generosa, pode valorizar entre 50% e 100% em 10 anos.

Envemo Super 90, réplica de Porsche
Envemo Super 90, réplica de Porsche Imagem: Old Is Cool, veículos antigos, clássicos e colecionáveis

E não são casos isolados. O Mercedes-Benz 280 SL, carinhosamente apelidado de "Pagoda" pelo formato do teto, virou um fenômeno global. "Há três, quatro anos, esse carro custava uns R$ 400 mil. Hoje vale R$ 1,3 milhão", afirma Alex Fabiano, da GG World Premium Classic Cars. "E a tendência é continuar subindo."

Talvez o exemplo mais emblemático dessa virada de jogo seja o Fusca pé de boi, uma versão pelada, sem nada de conforto ou acessórios. "Na época ninguém queria. Não tinha nem seta, nem retrovisor. Era tão básico que virou raridade", conta Fabiano, que passou anos atrás de uma unidade em bom estado.

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O modelo que ele encontrou pertenceu à famosa coleção de Camilo Cristófaro e está em estado de concurso. O preço? R$ 170 mil. E já teve interessados. "É o tipo de carro que nem vai para o mercado. Os colecionadores seguram, e quando aparece, já sai vendido."

O que faz um clássico valorizar?

Ao contrário de outros ativos financeiros, os carros antigos não seguem uma fórmula clara. "Não existe uma regra fixa. Você pode ter dois Porsches 911 do mesmo ano: um vale R$ 500 mil, o outro R$ 700 mil. Depende da cor, dos acessórios, da quilometragem, do estado de conservação", explica Silvio Luiz.

Um dos fatores importantes é acompanhar tendências internacionais. Modelos que começam a se valorizar na Europa ou nos EUA geralmente puxam o mercado brasileiro. "Você pode até ter perdido o bonde da Pagoda, por exemplo. Mas sempre dá pra identificar o próximo modelo que vai subir", incentiva o especialista.

Liquidez e riscos: vale a pena?

Assim como qualquer investimento, o mercado de clássicos tem riscos. Um carro pode ser raríssimo, mas se não houver comprador interessado, vira capital parado na garagem. Por isso, liquidez também conta.

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"Já recebo ligação de gente perguntando: qual carro eu compro para investir? Nem é mais por paixão", diz Fabiano. No entanto, o sentimento do brasileiro pelo mercado é um trunfo para os investidores. "O brasileiro ama carro. E os preços aqui são tão altos que o pessoal de fora até tenta comprar, mas não dá. O brasileiro segura, paga caro, e ainda valoriza. Os carros são consideravelmente mais caros aqui do que lá fora."

Por memória afetiva ou visão de futuro, os carros antigos deixaram de ser apenas um hobby de fim de semana. Viraram ativo financeiro. Mas, diferente das ações ou das criptomoedas, eles têm uma vantagem difícil de ignorar: continuam ali, de lata e motor, prontos para rodar - ou para brilhar em uma garagem de colecionador.

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