Por que mais da metade dos pneus à venda no Brasil deve ficar mais cara

Ler resumo da notícia
A guerra entre a indústria nacional e as fábricas asiáticas vai além dos carros prontos. Agora, ela também gira em torno dos pneus. Assim como as montadoras instaladas no Brasil pedem proteção contra a avalanche de veículos chineses, os fabricantes de pneus pressionam o governo para subir os impostos sobre os produtos importados. E a decisão pode sair já nesta terça-feira (23/9), em uma reunião do Comitê-Executivo de Gestão da Camex (Gecex).
Se o pedido for aceito, a alíquota do imposto de importação para pneus de passeio pode saltar dos atuais 25% para 35%. Isso deve afetar diretamente mais da metade dos pneus vendidos no país, que hoje são importados. E, segundo os críticos ao aumento, terá reflexos tanto no bolso do consumidor quanto na segurança nas ruas.
O que está em jogo
O impasse começou em agosto do ano passado. A ANIP (Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos) pediu à Camex que o imposto de importação, então em 16%, fosse elevado para 35%, por um prazo de 24 meses. A justificativa? Concorrência desleal com produtos asiáticos, principalmente da China, Vietnã, Índia e Malásia, que estariam chegando ao Brasil com preços abaixo do custo de produção.
O governo atendeu parcialmente ao pleito em outubro de 2024, subindo a alíquota para 25% por 12 meses. Mas esse prazo está acabando. Agora, o setor nacional insiste em um novo ajuste para o teto permitido pela Organização Mundial do Comércio (OMC), de 35%.
O que diz a indústria nacional
Para a ANIP, o Brasil virou alvo preferencial de exportadores asiáticos, que se aproveitam da baixa tributação para inundar o mercado com pneus a preços irrealistas.
Um estudo da consultoria LCA, realizado a pedido da ANIP, mostra que os pneus importados, mesmo com o último aumento na alíquota, continuam chegando ao país a preços inferiores aos praticados no mercado internacional. Segundo eles, por vezes inferiores ao custo da matéria-prima.
Em abril deste ano o pneu importado da Ásia ingressava no mercado brasileiro ao custo de US$ 3,2 por kg, valor 57% menor que os US$ 5,6 praticado no mercado internacional. Entre outubro de 2024 e maio de 2025, a China, que concentra 77% das importações de pneus no Brasil, praticava o preço de US$ 2,7 por Kg.
"Estamos diante de uma distorção da concorrência", diz Rodrigo Navarro, presidente da ANIP. Navarro afirma que o México elevou mês passado a alíquota de importação de pneus de 25% para 35%. "O Brasil virou mercado alvo das exportações asiáticas".
Segundo o estudo da LCA, o aumento da alíquota de importação para os pneus de passeio acrescentaria apenas 0,005 ponto percentual sobre a inflação dos 12 meses subsequentes à implantação de uma alíquota de 35% (patamar adotado pelo México).
Em agosto de 2025, a participação dos importados nas vendas no Brasil somaram 57% contra 43% de nacionais.
O alerta dos importadores
Na outra ponta está a ABIDIP (Associação Brasileira dos Importadores e Distribuidores de Pneus), que classifica o aumento como protecionismo injustificável e perigoso.
Para a entidade, a elevação da tarifa prejudica os consumidores e trabalhadores que dependem do carro para viver, como motoristas de aplicativo, taxistas e entregadores. O receio é que os preços subam tanto que muitos passem a recorrer a pneus usados ou de procedência duvidosa - o que colocaria a segurança viária em risco.
"O impacto será direto no bolso", afirma o presidente da ABIDIP, Ricardo Alípio da Costa. "Sem condições de comprar pneus novos, muitos vão migrar para o mercado paralelo, elevando o risco de acidentes fatais".
Ele também critica o argumento de "concorrência desleal" e pede mais fiscalização da Receita Federal em vez de aumentos tarifários. A ABIDIP garante que nenhuma de suas associadas compra pneus abaixo do custo da matéria-prima.
Hoje, mais de 60% dos pneus de passeio vendidos no Brasil são importados, e todos passam por certificação do Inmetro.
Vai pesar no seu bolso?
Segundo dados apresentados por Gustavo Madi, consultor da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em audiência pública na Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados, o aumento da tarifa de importação de 16% para 35% pode elevar em 16,4% o preço dos pneus importados. Apesar disso, o impacto no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) seria considerado mínimo, ficando entre 0,03 e 0,05 ponto percentual.
A CNI também estima que a medida teria efeitos positivos na economia, com potencial de gerar um incremento de R$ 8,9 bilhões no PIB por ano, além de criar cerca de 105 mil empregos e movimentar R$ 3,7 bilhões em salários.
Ou seja, quem defende o aumento acredita que o custo adicional para o consumidor será compensado pela proteção da indústria local, manutenção de empregos e arrecadação. Mas os críticos dizem que o consumidor será o maior prejudicado e que o protecionismo não resolve problemas estruturais da indústria nacional.





























Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.