Paula Gama

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ReportagemCarros

Kwid secreto? Carro sem logo da Renault seria elétrico mais barato do país

Tudo começou com um vídeo que viralizou nas redes sociais.

As imagens mostram um carro pequeno, elétrico, com ares familiares: visto de traseira, é idêntico ao Renault Kwid, mas traz emblema e inscrições em mandarim.

Os mais atentos podem ter identificado o modelo: trata-se do Dongfeng EX1 Nano Box, fruto de uma parceria entre a montadora chinesa e a Renault, lançado na China em 2022.

Mas o que um carro chinês quase igual ao Kwid com desconhecido faz em solo brasileiro?

É o que esta coluna foi investigar e esclarece a seguir.

A resposta está em Itajaí (SC). O carro flagrado pertence a uma empresa de logística chamada Lisa, que também opera com importação por meio da Clac Trading & Logística.

Em entrevista à coluna, o empresário Cláudio Coser, proprietário das duas empresas, revelou que importou diretamente da Dongfeng um lote de 20 unidades do EX1 Nano Box em 2024 para uma eventual representação da empresa chinesa em nosso mercado.

Teste de mercado

'Primo rico' do Kwid elétrico, DongFeng EX1 Nano Box teve 20 unidades importadas de forma independente
'Primo rico' do Kwid elétrico, DongFeng EX1 Nano Box teve 20 unidades importadas de forma independente Imagem: Divulgação
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De acordo com Coser, a ideia era promissora: testar o modelo elétrico urbano no Brasil e, se a aceitação fosse boa, ampliar a operação com um segundo lote de mil unidades.

O projeto tinha um diferencial importante: o Nano Box, embora chinês, compartilha 60% de suas peças com o Renault Kwid elétrico, o que facilitaria a manutenção e reduziria custos de operação.

"O Nano é praticamente o 'primo rico' do Kwid elétrico", avalia Cláudio. "Tem nova suspensão, quatro parafusos nas rodas, acabamento superior e um design interno bem mais refinado", acrescenta o empresário.

Duas versões foram importadas: dez unidades com autonomia de 201 km e outras dez com baterias maiores, que chegam a 331 km. Ambas compartilham o mesmo motor elétrico de 33 kW (cerca de 45 cv) e torque de 12,7 kgfm, entregando uma aceleração de zero a 50 km/h em cerca de cinco segundos. A velocidade máxima é limitada a 100 km/h, reforçando a proposta de uso 100% urbano.

O plano de comercialização previa preços competitivos, prossegue: R$ 85 mil para o modelo com 201 km de autonomia e R$ 95 mil para a versão com 331 km de alcance. Esses são os valores pelos quais os carros estão sendo vendidos hoje. Embora o projeto de importação em larga escala tenha sido suspenso, as unidades remanescentes já estão homologadas, emplacadas e disponíveis no mercado brasileiro, em estado novo ou seminovo.

Alguns exemplares já foram comprados por motoristas de aplicativo, e outros seguem à venda ou sendo utilizados pela própria Lisa em operações logísticas, como transporte entre armazéns.

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Projeto foi interrompido

O interior é mais sofisticado que o do Kwid
O interior é mais sofisticado que o do Kwid Imagem: Divulgação

O plano tinha tudo para decolar, mas acabou barrado por uma mudança de direção na própria Dongfeng, segundo Cláudio Coser.

A montadora chinesa, que é uma estatal controlada pelo governo local, teria alterado o plano inicial de operação no Brasil.

"Eles tinham combinado uma coisa conosco, trouxemos os carros para teste e, depois, as regras mudaram", relata Cláudio.

Com isso, o empresário devolveu os direitos de representação da marca e abandonou a ideia de trazer novas unidades.

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"Se tivesse dado certo, seria o carro elétrico mais barato do Brasil, com uma estrutura de manutenção toda pronta, graças às peças compatíveis da Renault", afirma.

O Nano Box surpreende pelo acabamento. A versão com maior autonomia, pintada em um chamativo tom azul Tiffany, traz interior retrô com estofamento e painel em azul claro, combinando com a carroceria.

A central multimídia tem dez polegadas, e o quadro de instrumentos digital traz tela colorida de sete polegadas. O console elevado e o seletor de marchas giratório completam o visual moderno, que se distancia da simplicidade do Kwid à venda no país.

De olho no Brasil

Caso o projeto tivesse avançado, a Dongfeng poderia ter oficializado sua presença no país, algo que hoje ainda não acontece.

Mesmo assim, o Nano Box já marcou sua passagem pelo Brasil: chamou atenção em vias de Santa Catarina e do Nordeste.

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Em reportagem exclusiva, o colunista do UOL Carros Jorge Moraes revelou que, em 2024, 20 marcas chinesas estavam estudando o mercado para investir no Brasil.

É provável que a DongFeng fosse uma delas. Vamos esperar para ver se, futuramente, irá se juntar no Brasil às muitas montadoras chinesas que chegaram ao nosso país.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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