Além do aluguel: venda de carros vira negócio bilionário para locadoras

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No Brasil, o mercado de locação de veículos tem uma característica que muita gente conhece de forma intuitiva, mas que movimenta cifras bilionárias: a revenda de seminovos. Longe de ser uma atividade marginal, a venda dos carros desmobilizados depois do uso em frotas se consolidou como um dos pilares financeiros das grandes locadoras. E os números não deixam dúvida.
Em 2024, as locadoras compraram 649.399 veículos, o equivalente a 26,11% de todos os automóveis e comerciais leves emplacados no país, um quarto do mercado total. Esses carros são usados, em média, por dois anos no principal negócio das empresas, que é o aluguel, e depois disso seguem para outra ponta da cadeia automotiva: o mercado de usados.
Só neste ano, 602.933 carros foram desmobilizados por locadoras, o que equivale a dizer que mais de meio milhão de veículos chegaram ao mercado de seminovos com origem em frotas.
Um ciclo que gira bilhões
Esse modelo de negócio funciona como um ciclo: as locadoras compram em grandes volumes, com descontos comerciais que hoje giram em torno de 20%, usam os veículos por determinado período e, depois, vendem para renovar a frota.
Essa revenda acontece por meio de leilões, lojistas e lojas próprias. Cada canal atende a um perfil de veículo e de cliente, o que ajuda a manter os estoques girando.
"As locadoras não têm capacidade para vender tudo sozinhas. Existe uma cadeia completa de distribuição. Parte vai para lojistas, parte para concessionárias e parte direto ao consumidor final", explica Paulo Miguel, membro do conselho gestor da ABLA (Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis).
Embora a revenda de seminovos não tenha a mesma rentabilidade da atividade principal, o aluguel, o volume movimentado faz dela uma peça essencial na saúde financeira das empresas.
No primeiro trimestre de 2025, a Localiza registrou receita líquida de R$ 5,3 bilhões com a venda de seminovos, um crescimento de 22,2% em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse valor foi superior ao faturamento da divisão de aluguel, que ficou em R$ 4,8 bilhões. A margem Ebitda, no entanto, foi de apenas 2% para os seminovos, contra 65,2% no aluguel de carros.
Na Unidas, os seminovos representaram R$ 717 milhões do faturamento total de R$ 1,6 bilhão no trimestre, quase metade da receita da empresa. A Movida, por sua vez, vendeu 24,8 mil seminovos, gerando R$ 1,7 bilhão em receita líquida, uma alta de 10,7% na comparação anual. Para empresas que operam com capital intensivo, esse volume de vendas é essencial para garantir o fluxo de caixa e dar fôlego à renovação da frota.
Dinâmica de mercado
Um dos diferenciais do setor é o tratamento tributário. Como a atividade é classificada como locação de bens, as locadoras não pagam ICMS nem ISS sobre a receita de aluguel. Na compra dos veículos, eles entram como ativos da empresa e, na hora da revenda, também não há incidência de ICMS, uma vantagem que melhora a eficiência financeira da operação.
No entanto, de acordo com Paulo Miguel, na prática, apesar de movimentar grandes cifras, o negócio não é tão lucrativo como parece: "o giro do veículo serve para dinamizar a renovação da frota, mas a rentabilidade disso é pequena. Ainda assim, é um volume grande de dinheiro, é fluxo de caixa".
Esse modelo contribui também para o abastecimento do mercado nacional de seminovos com veículos relativamente novos, com histórico conhecido e manutenção em dia, características que aumentam a confiança do consumidor.
É comum ver lojas próprias de seminovos das grandes locadoras nas principais cidades do país, mas boa parte dos carros é distribuída para lojistas e concessionárias que revendem esses veículos como parte de seus estoques.
A revenda de seminovos pode não ter a mesma margem de lucro do aluguel, mas é uma engrenagem indispensável para manter o modelo de negócios das locadoras funcionando. Ela ajuda a financiar a renovação da frota, movimenta o mercado de usados e garante fôlego financeiro para as gigantes do setor seguirem competitivas.
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