'Tesla do Nordeste' some, e clientes ainda aguardam por motos após 2 anos

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Lançada com o sonho de liderar a mobilidade elétrica no Brasil, a Voltz Motors entrou no mercado prometendo motos tecnológicas, silenciosas, conectadas e acessíveis. Mas, em 2025, o que resta da chamada "Tesla do Nordeste" são milhares de consumidores frustrados, que pagaram pelos veículos e nunca os receberam. A empresa está em recuperação judicial desde novembro de 2023 e, até agora, não retomou nenhuma atividade produtiva.
Segundo os relatórios entregues pela administradora judicial à 3ª Vara Cível do Recife, a Voltz está completamente paralisada: sem funcionários contratados, sem produção nas fábricas e sem fluxo de caixa para honrar dívidas. As lojas estão fechadas e o valor total devido só pela holding ultrapassa R$ 44 milhões.
O UOL Carros entrou em contato com a Voltz e também com o fundador da marca, Renato Villar, mas não obteve resposta. A reportagem também conversou com diversos consumidores que estão há mais de um ano esperando pelos veículos ou pela devolução do dinheiro. A maioria não tem mais esperança de ver o valor de volta. Em comum, todos investiram ao menos R$ 10 mil.
"A sensação é de abandono. A gente acreditou em uma ideia de futuro, mas só teve prejuízo", diz um comprador que preferiu não se identificar.
Reclamações dispararam, solução despencou
De acordo com dados obtidos pelo UOL Carros junto ao Procon-SP, a Voltz foi alvo de 455 reclamações entre 2023 e 2025. Mais de 90% das queixas aconteceram em 2023, quando a empresa ainda anunciava entregas e mantinha canais de venda. Os principais motivos das reclamações foram:
- Não entrega ou demora na entrega da moto
- Dificuldade ou recusa em devolver os valores pagos
- Reembolso não realizado
O índice de solução das queixas também despencou: foi de 18,5% em 2023 para apenas 12,5% em 2024. Em 2025, apenas cinco reclamações foram registradas e nenhuma resolvida.
O Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), também confirmou ao UOL Carros que recebeu 1.116 reclamações desde 2022, sendo 872 delas apenas em 2023. A maior parte dos registros trata de descumprimento de oferta, não entrega do produto e retenção indevida de valores.
Apesar disso, a Senacon não abriu nenhuma investigação formal, nem instaurou processo administrativo contra a Voltz.
E agora, o que fazer?
Segundo o Procon-SP, mesmo empresas em recuperação judicial são obrigadas a cumprir com os compromissos assumidos com os consumidores. A orientação é:
- Tentar resolver diretamente com a empresa (por escrito);
- Acionar o Procon ou registrar queixa na plataforma consumidor.gov.br;
- E, se nada disso resolver, buscar o Poder Judiciário.
"A recuperação judicial não desobriga a empresa de quitar seus débitos", afirma o órgão em nota. "Os consumidores devem guardar todos os documentos e formalizar sua condição de credores no processo judicial."
Justiça deu 60 dias para plano que não foi apresentado
Em janeiro de 2024, a Justiça de Pernambuco acolheu o pedido de recuperação judicial da Voltz e autorizou o início do processo. Na decisão, o juiz reconheceu que a empresa tinha os requisitos legais para renegociar suas dívidas, e determinou que fosse apresentado, em até 60 dias, um plano detalhado de pagamento aos credores.
No entanto, o plano ainda não foi divulgado publicamente e até o momento não há proposta formal de quitação das dívidas com consumidores que compraram e não receberam suas motos. O passivo declarado no pedido ultrapassa R$ 273 milhões, sendo R$ 160 milhões apenas em créditos subordinados.
Mesmo sem operar, os balanços contábeis da Voltz apontam mais de R$ 110 milhões em ativos e passivos. Os relatórios de dezembro de 2023 a setembro de 2024 mostram nenhuma movimentação real, com índice de liquidez zero, ou seja, nenhum dinheiro disponível para pagar dívidas.
Além disso, a empresa não apresentou informações sobre obrigações fiscais, não responde a ofícios e ignora solicitações da administradora judicial.
O que dizem os relatórios
Os relatórios entregues pela administradora judicial ao longo de 2024 revelam que a empresa permanece completamente inativa e sem cumprir obrigações básicas da recuperação.
- Sem receita nem caixa desde a recuperação judicial
- Sem funcionários ou operação nas fábricas
- Imóveis locados foram considerados não essenciais e estão sendo retomados por inadimplência
- Empresa não presta contas sobre dívidas pós-RJ, tributos ou compromissos com consumidores
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