Adulterado, item obrigatório vira preocupação para quem tem carro a diesel

Ler resumo da notícia
Se você dirige uma picape ou SUV a diesel, já deve ter ouvido falar do Arla 32. O reagente químico é adicionado, perto do bocal de combustível, em um reservatório exclusivo. Esse líquido é fundamental para que o carro atenda às regras de emissão de poluentes, mas vem causando polêmicas desde que a geração de modelos diesel mais nova chegou ao mercado.
Primeiro, os motoristas de carros e picapes a diesel tiveram que enfrentar a dificuldade de encontrar o Arla 32 para comprar nos postos de combustível. Agora, a substância virou alvo de falsificações que podem danificar o motor, aumentar o consumo e até levar à aplicação de multas e penalidades ambientais.
Conversamos com Carlo Faccio, diretor do Instituto Combustível Legal, que explicou por que o Arla virou um produto de risco e como o motorista pode se proteger.
O que é o Arla 32?
O Arla 32 (Agente Redutor Líquido Automotivo) é uma mistura de ureia automotiva de alta pureza com água desmineralizada. Ele não vai no motor, mas sim no sistema de escapamento: é injetado antes do catalisador e reage com os gases tóxicos gerados pela queima do diesel. Essa reação química reduz até 98% dos óxidos de nitrogênio (NOx), transformando-os em nitrogênio e vapor d'água.
É uma tecnologia obrigatória para veículos a diesel mais novos, que precisam atender aos limites de emissões estabelecidos pelas normas ambientais brasileiras.
Por que estão falsificando o Arla?
A resposta está, ironicamente, na própria ureia. Desde que a Petrobras encerrou a produção nacional em 2017, o Brasil passou a depender da importação da ureia, principalmente de países como Rússia e China.
Só que existe uma diferença fundamental: a ureia agrícola, usada como fertilizante, é amplamente importada e recebe subsídios - tornando-se mais barata e fácil de encontrar. E é aí que mora o perigo.
Alguns criminosos desviam ou compram essa ureia agrícola e a utilizam ilegalmente para fabricar uma versão falsa do Arla 32, muitas vezes misturando também água comum (em vez da desmineralizada). O produto resultante parece legítimo, mas está longe de cumprir seu papel ambiental - e ainda coloca em risco todo o sistema do carro.
Danos no veículos
"Os danos causados pelo produto adulterado estão associados ao sistema de injeção do Arla, obstrução e danos ao catalisador, e podem chegar até à quebra do motor", alerta Faccio.
O diretor do Instituto Combustível Legal explica que estas situações causam falhas eletrônicas e queima excessiva do diesel, resultando em perda de potência, e eficiência energética, além do fato do aumento de emissão de gases e de ruído incomuns no escapamento.
Com o tempo, as impurezas acumuladas da ureia fora de padrão e da água comum se depositam no sistema SCR (Catalisador de Redução Seletiva), entopem sensores, e podem até obrigar a troca de peças caras como o catalisador e a bomba do Arla.
Para evitar problemas com o Arla 32 falsificado, o primeiro passo é abastecer apenas em locais confiáveis, que tenham certificação do Inmetro e emitam nota fiscal. Também é importante desconfiar de preços muito baixos e embalagens sem selo de qualidade - sinais claros de produto duvidoso. O motorista deve seguir sempre as recomendações do fabricante do veículo e, periodicamente, verificar os sensores e o sistema de injeção de Arla para identificar vazamentos ou falhas.
Outro cuidado essencial é a limpeza do reservatório de Arla. Essa higienização deve ser feita por um profissional qualificado e envolve o esvaziamento completo do tanque, seguido da lavagem com água desmineralizada -nunca com água comum, que pode comprometer o sistema.
Em casos mais graves, pode ser necessário verificar se o catalisador e os sensores foram danificados, e até substituir peças contaminadas. Esse tipo de manutenção preventiva evita prejuízos maiores e garante que o sistema de controle de emissões continue funcionando corretamente.
Atualmente, três órgãos atuam no combate à adulteração do Arla: Ibama, Inmetro e Polícia Rodoviária Federal. A PRF, inclusive, tem feito operações em rodovias usando testes rápidos para detectar fraudes no produto.
Mas, segundo Faccio, o combate à falsificação precisa ir além da abordagem em estrada: "É preciso inteligência para identificar empresas e depósitos clandestinos, e ações integradas para eliminar a origem do problema"
Infração grave
Usar o Arla fora dos padrões não é só uma questão mecânica - é também uma infração grave de trânsito, prevista no Código de Trânsito Brasileiro. O motorista está sujeito à retenção do veículo, multa de R$ 195,23 e 5 pontos na CNH.
Mais do que isso, a prática configura crime ambiental, conforme estabelece a Lei nº 9.605/98, podendo levar a penalidades severas, inclusive de natureza penal e administrativa. Em outras palavras, abastecer com produto adulterado pode colocar você fora da lei - mesmo que sem saber. Por isso, redobre os cuidados e, sempre que possível, ajude a fiscalizar.
O Ibama tem um canal exclusivo para denúncias ambientais. Você pode ligar para o 0800 061 8080, de segunda a sexta, das 7h às 19h, ou acessar o site oficial.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.