Paula Gama

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Carros icônicos de Fittipaldi vão parar em Portugal após brigas na Justiça

Durante anos, os carros históricos de Emerson Fittipaldi pareciam estar em uma corrida paralela - não nas pistas, mas contra o rastreio de credores. Em meio a processos judiciais, penhoras frustradas e um rastro de dívidas que ultrapassava R$ 55 milhões, os bólidos que marcaram a carreira de um dos maiores ícones do automobilismo brasileiro desapareciam e reapareciam em locais discretos, como um galpão no centro de São Paulo ou a fábrica da Chamonix, especializada em réplicas da Porsche. Agora, em um giro surpreendente digno das melhores voltas finais, essas raridades estão brilhando... na Europa.

Mostra "The Fittipaldi Collection", do Museu do Caramulo, Portugal
Mostra "The Fittipaldi Collection", do Museu do Caramulo, Portugal Imagem: Divulgação

A exposição "The Fittipaldi Collection", inaugurada no último dia 15 de março no tradicional Museu do Caramulo, em Tondela, Portugal, reúne parte do acervo atribuído ao Museu Fittipaldi - instituição que, segundo decisão judicial de 2016, é a legítima proprietária dos veículos, o que os tornaria imunes à penhora em um dos processos.

A mostra estará aberta ao público até 22 junho. Os visitantes podem ver de perto modelos como o Copersucar FD01, primeiro carro da única equipe latino-americana na F1, além dos lendários Penske com os quais Fittipaldi venceu as 500 Milhas de Indianápolis em 1989 e 1993.

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Imagem: Claudio Larangeira/UOL

Um passado de portas fechadas

Durante anos, os carros ficaram longe dos holofotes. Em 2019, a reportagem do UOL Carros teve acesso exclusivo a um galpão em São Paulo onde cerca de dez veículos estavam guardados sob vigilância, ainda longe de qualquer exposição pública. Eles aguardavam investimento para integrarem o Museu Fittipaldi, que nunca foi aberto ao público. Logo depois, quando o UOL publicou uma reportagem sobre a coleção, começaram as buscas judiciais. Em pouco tempo, vieram intimações judiciais, tentativas de penhora, alegações de fraude e a acusação de que os carros estariam sendo escondidos para evitar a execução de dívidas.

Na época, o curador do acervo, Paulo 'Louco' Figueiredo, dizia estar buscando patrocinadores para montar um museu. Já o advogado de uma das empresas credoras chegou a afirmar que "os carros apareciam apenas em eventos que pagam bem", e que o ex-piloto lucrava com essas exibições.

Ainda assim, uma decisão de 2016 do juiz Rogério Marrone, da 27ª Vara Cível de São Paulo, apontava que parte dos carros não poderia ser vendida ou penhorada, pois foram trazidos ao Brasil mediante um acordo com a Receita Federal que condicionava sua nacionalização à formação de um acervo museológico — o que, na prática, os tornaria "fora do comércio".

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Imagem: Claudio Larangeira/UOL

A decisão, no entanto, vale apenas para aquele processo específico. Novas ações judiciais chegaram a questionar a validade e abrangência desse entendimento. Mas a dificuldade em localizar os veículos se manteve: em 2021, uma empresa conseguiu na Justiça a penhora de 14 veículos, mas quando um oficial de Justiça foi verificar o endereço indicado, encontrou apenas dois Chevrolet Astra e um Monza - todos sem valor de mercado.

E agora, para onde foram?

Segundo apuração do UOL Carros, Emerson Fittipaldi chegou a um acordo com parte de seus credores e, com isso, abriu caminho para uma nova fase da trajetória do acervo. A estreia internacional no Museu do Caramulo marca o retorno dos carros à cena pública, mesmo que longe do Brasil.

A mostra portuguesa apresenta não apenas os icônicos Copersucar, mas também raridades como o Williams March 711 de 1972, o primeiro carro de José Carlos Pace na F1, diversos pace cars da Indy 500 e troféus históricos — incluindo os exclusivos da Tiffany, entregues aos vencedores das 500 Milhas.

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Imagem: Claudio Larangeira/UOL
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Exposição vem ao Brasil?

Procurado pela reportagem, o Museu do Caramulo, que também é organizador da mostra, não respondeu até o fechamento deste texto sobre a possibilidade de a exposição ser trazida ao Brasil futuramente.

No entanto, ao menos por agora, os carros que viveram anos trancados em galpões e protegidos por decisões judiciais parecem ter reencontrado seu lugar — não mais entre processos, mas entre as relíquias do automobilismo mundial.

Reportagem

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