Paula Gama

Paula Gama

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
ReportagemCarros

Seu carro está te vigiando? O que os veículos conectados sabem sobre você

Nos últimos anos, com a popularização dos carros conectados, que possuem chip e podem ter algumas funções controladas pelo smartphone, surgiram preocupações sobre a privacidade dos motoristas. Há quem diga que as montadoras sabem para onde você foi, como dirige e até mesmo seus hábitos dentro do veículo. Mas será que essa preocupação faz sentido?

A verdade é que os veículos modernos realmente coletam dados - mas dentro de regras claras e com o consentimento do motorista.

"A informação de que a montadora se transforma numa espiã é um absurdo", explica Murilo Ortolan, diretor de Tendências Tecnológicas da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA). Segundo ele, os dados são tratados de forma impessoal e servem para oferecer benefícios ao motorista, como diagnósticos remotos e assistência em emergências.

Que dados os carros modernos coletam?

Os veículos conectados funcionam de maneira semelhante a um smartphone ou a outros dispositivos da 'Internet das Coisas'. Eles trocam informações com a montadora para melhorar a experiência do usuário e garantir segurança. Entre os dados coletados estão:

  • Localização GPS - usada para serviços de emergência e navegação.
  • Estilo de condução - frenagens bruscas, acelerações e quilometragem rodada podem ser analisadas para manutenção preditiva e planos personalizados de seguro.
  • Dados mecânicos - monitoramento do funcionamento do motor, câmbio e outros sistemas para diagnóstico de falhas.
  • Informações de entretenimento - apps usados no carro, músicas ou comandos de voz podem ser processados para personalizar a experiência do usuário.

Ortolan explica que esses dados são fundamentais para melhorar a segurança. "Os veículos mais modernos têm um botão de emergência, que pode ser acionado em caso de acidente. Quando isso acontece, o sistema envia a localização e outras informações para a montadora, que pode providenciar socorro imediato", afirma.

Quem pode acessar esses dados?

Acionando o botão "SOS" o sistema capta as informações de localização e pode enviar socorro em caso de acidentes e outros sinistros
Acionando o botão "SOS" o sistema capta as informações de localização e pode enviar socorro em caso de acidentes e outros sinistros Imagem: Reprodução

Os dados coletados são transmitidos para as montadoras por meio de um sistema de comunicação protegido. Ortolan reforça que essa troca de informações segue regulamentações rigorosas, tanto no Brasil quanto no exterior.

Continua após a publicidade

"No Brasil, assim como nos Estados Unidos e em outros países, a disponibilidade desses dados é regida por normas que garantem a privacidade do usuário. No nosso caso, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). O cliente precisa autorizar expressamente o uso dessas informações ao contratar o serviço e pode revogar essa permissão a qualquer momento", esclarece.

Além das montadoras, seguradoras podem acessar algumas informações, como a quilometragem rodada, para oferecer planos personalizados. Isso é feito com consentimento. A seguradora pode calcular um preço melhor baseado no uso do veículo, mas o cliente escolhe se quer fornecer esses dados.

Há motivo para preocupação?

A ideia de que os carros conectados estariam espionando os motoristas ganhou força nos últimos anos, em meio a preocupações sobre segurança digital. Mas, segundo Ortolan, esse medo não tem fundamento.

"Quando falamos de um veículo conectado, estamos simplesmente trazendo ele para a 'Internet das Coisas', como acontece com celulares e até mesmo eletrodomésticos inteligentes, como geladeiras que avisam quando um alimento está acabando", compara.

Além disso, ele ressalta que os dados não são personalizados. "Não há um banco de dados onde alguém possa buscar informações específicas sobre uma pessoa. Os dados são impessoais e usados dentro de um contexto específico, seja para diagnóstico, seja para oferecer um serviço ao cliente", explica.

Continua após a publicidade

Até o momento, não há registros de vazamentos de informações de veículos conectados. E, caso isso ocorra, há responsabilização legal. "Se uma empresa descumprir as regras e houver um vazamento, ela pode ser punida judicialmente. Mas isso nunca aconteceu no setor automotivo", afirma Ortolan.

Como se proteger

Para quem ainda tem preocupações com privacidade, algumas medidas podem ajudar:

  • Ajustar as permissões no sistema do carro - em alguns modelos, é possível restringir quais dados são compartilhados.
  • Optar por veículos menos conectados - modelos sem sistemas de conectividade transmitem menos informações.
  • Ler os termos de uso antes de aceitar - saber quais dados são coletados permite tomar decisões mais conscientes.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.