Paula Gama

Paula Gama

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
ReportagemCarros

Quebra-molas: por que solução arcaica é desprezada em países ricos

Os quebra-molas, também chamados de lombadas, são um dos recursos mais usados no Brasil para reduzir a velocidade dos veículos, especialmente em áreas residenciais e próximas a escolas e hospitais.

No entanto, essa solução é cada vez menos utilizada em países considerados desenvolvidos, onde alternativas mais eficazes e menos agressivas ao tráfego ganham espaço. Afinal, por que essa discrepância?

Marco Fabrício Vieira, advogado especialista em trânsito, explica que há normas específicas para a implantação das lombadas, conforme o Manual Brasileiro de Sinalização Auxiliar.

Elas são classificadas em dois tipos principais: as do Tipo A, com altura de 8 cm e largura de 1,50 m, indicadas para vias onde a velocidade máxima é de 30 km/h; e as do Tipo B, com altura de 10 cm e largura de 3,70 m, adequadas para ruas com limite de 40 km/h.

Em ambos os casos, as lombadas devem ser devidamente sinalizadas e sua instalação precisa ser precedida de estudos técnicos. O problema é que essa exigência nem sempre é seguida. Em outros casos, por conta de uma falta de atitude do poder público, a própria comunidade faz a instalação do quebra-molas, uma prática comum, porém ilegal.

Mais atrapalha do que ajuda?

Além da falta de padronização, lombadas mal projetadas podem gerar impactos negativos como danos aos veículos, aumento do consumo de combustível e da poluição e interferência no tráfego de emergência.

"O problema é que muitas vezes as prefeituras ou até os próprios moradores instalam os quebra-molas sem critério técnico, gerando lombadas muito altas, mal sinalizadas e perigosas", alerta Robson Costa, coordenador dos cursos de Engenharia e especialista em Mobilidade Urbana da Estácio. Ele destaca ainda que a falta de respeito às normas pode tornar esse recurso um risco, principalmente para motociclistas, que podem sofrer acidentes graves caso a sinalização seja deficiente.

A ampla utilização desse método no Brasil está diretamente ligada ao seu baixo custo e à dificuldade de fiscalização do trânsito.

Continua após a publicidade

"Os radares, faróis e outros dispositivos eletrônicos são soluções menos invasivas, que garantem a redução da velocidade sem gerar desconforto para os motoristas. Mas, como são mais caros, acabam sendo menos utilizados", explica Robson Costa. O especialista também ressalta que a necessidade de lombadas está diretamente ligada ao comportamento dos motoristas. "Se todos respeitassem os limites de velocidade, não precisaríamos de tantos quebra-molas."

Nos países desenvolvidos, o conceito de moderação de tráfego, conhecido como "traffic calming", é mais valorizado.

"Lá fora, a lógica é criar um ambiente que naturalmente induza à redução da velocidade, sem precisar de barreiras físicas tão agressivas", explica Valter Caldana, professor de Urbanismo da Mackenzie.

Ele cita exemplos como a diminuição da largura das faixas de rolamento, travessias elevadas, pavimentação diferenciada e o uso de elementos visuais e paisagísticos. "Mudanças no calçamento, como o uso de paralelepípedos ou asfaltos frisados, também são comuns e funcionam como redutores de velocidade sem causar impacto direto nos veículos."

Além dessas soluções, os países desenvolvidos investem em tecnologia para evitar excessos de velocidade. "Há sistemas, como a lombada eletrônica, presente em alguns pontos da cidade de São Paulo, que identificam a velocidade do carro e alertam o motorista, sem necessidade de barreiras físicas", explica Caldana. Outra opção eficaz é o estreitamento da via em pontos estratégicos, obrigando os motoristas a reduzirem a velocidade naturalmente.

Lombada amiga

As faixas de pedestres elevadas, ou lambofaixas, são mais confortáveis do que os quebra-molas
As faixas de pedestres elevadas, ou lambofaixas, são mais confortáveis do que os quebra-molas Imagem: Reprodução/Rotaflux
Continua após a publicidade

Uma alternativa mais eficiente e segura às lombadas tradicionais é a faixa elevada, uma travessia de pedestres construída no mesmo nível da calçada, forçando os veículos a reduzirem a velocidade sem causar impactos bruscos.

Diferentemente dos quebra-molas, que têm como principal objetivo punir motoristas que desrespeitam os limites de velocidade, a faixa elevada prioriza a segurança dos pedestres, tornando-os mais visíveis no trânsito e incentivando a redução de velocidade de forma mais intuitiva.

"Ela funciona como um redutor de velocidade, mas sem causar os transtornos típicos das lombadas, como danos aos veículos e desconforto para passageiros de carros e ônibus", explica Valter Caldana.

Esse tipo de estrutura é amplamente utilizado em países desenvolvidos por promover maior acessibilidade e segurança, especialmente em áreas de grande circulação de pessoas, como escolas, hospitais e centros comerciais.

Ainda assim, especialistas concordam que as lombadas podem ser úteis em alguns cenários específicos, desde que bem projetadas e aplicadas corretamente. O problema está na forma como são implementadas no Brasil, muitas vezes sem planejamento e sem seguir as normas técnicas. Enquanto países desenvolvidos investem em soluções de longo prazo para tornar o trânsito mais seguro e fluido, o Brasil segue apostando em uma abordagem punitiva e reativa, muitas vezes mais prejudicial do que benéfica.

Quer ler mais sobre o mundo automotivo e conversar com a gente a respeito? Participe do nosso grupo no Facebook! Um lugar para discussão, informação e troca de experiências entre os amantes de carros. Você também pode acompanhar a nossa cobertura no Instagram de UOL Carros.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.