Paula Gama

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Por que a Fiat 'bomba' em vendas no Brasil, mas vai mal em outros mercados

Se você olhar as ruas do Brasil, verá um cenário marcado pela presença da Fiat. A marca italiana, que chegou ao país nos anos 1970, não apenas se consolidou como uma das favoritas do consumidor brasileiro, mas também tem liderado o mercado com folga.

Em 2024, a Fiat vendeu 521.289 unidades, alcançando uma participação de mercado de 20,9% - um crescimento de 9,5% nas vendas em relação ao ano anterior.

O que parece um caso de sucesso, no entanto, esconde um paradoxo. Fora do Brasil, a Fiat enfrenta sérios desafios. Na Europa, seu próprio berço, a marca caiu para a 20ª posição no ranking de vendas, com apenas 304.066 unidades comercializadas - uma queda expressiva de 20,4% em relação ao ano anterior. Nos Estados Unidos, os números são ainda mais desanimadores: apenas 1.528 unidades vendidas no ano passado.

Se a Fiat está tão bem no Brasil, por que não consegue repetir esse sucesso lá fora? A resposta passa por fatores culturais, econômicos e estratégicos que moldam os diferentes mercados.

Fiat no Brasil: uma marca que entende o consumidor

Se a Fiat lidera no Brasil há tantos anos, isso não acontece por acaso. A marca construiu uma relação forte com o consumidor local ao oferecer veículos alinhados com as demandas do mercado nacional. O consumidor brasileiro busca carros baratos, bonitos e econômicos.

Modelos como Fiat Argo, Mobi, Pulse e a picape Strada se encaixam perfeitamente nesse perfil, entregando custo-benefício. A Fiat soube equilibrar preço e um design que conversa com o público, garantindo que seus carros sejam competitivos.

Design e preço competitivo são pontos fortes da montadora
Design e preço competitivo são pontos fortes da montadora Imagem: Divulgação

Outra questão é o tamanho do portfólio, que vai de subcompacto a picape intermediária, passando por hatch, sedã e dois SUVs. Na prática, a Fiat tem produtos para atender a diversos tipos de públicos e necessidades.

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Um bom exemplo do entrosamento da marca com a realidade do brasileiro é o domínio do segmento de picapes compactas, algo que praticamente não existe na Europa e nos EUA. A Strada se encaixou perfeitamente na vocação do Brasil para comércio e serviços - e ao fato de que, em muitos casos, o carro de trabalho também é o único veículo da família. Para completar, é o único produto da categoria que tem recebido atualizações nos últimos anos. Resultado: líder de vendas há quatro anos.

Não dá para excluir da análise um fator que contribui muito para o sucesso da marca do país: os incentivos da fábrica de Goiana, em Pernambuco. Como os benefícios foram transferidos para a fábrica de Betim (MG), onde são produzidos os modelos mais populares, foi possível produzir carros com custos mais baixos. Isso a tornou mais competitiva, permitindo preços mais atrativos e ações de vendas agressivas.

A queda da Fiat na Europa

Se no Brasil a Fiat é sinônimo de sucesso, na Europa a situação é bem diferente. O mercado europeu passou por transformações profundas nos últimos anos, e a marca não conseguiu acompanhar essas mudanças.

Um dos fatores mais relevantes é que o perfil do consumidor europeu mudou. Diferentemente do brasileiro, que enxerga o carro como um bem essencial, o europeu tem cada vez mais alternativas de transporte, como trens eficientes, bicicletas e serviços de car-sharing.

Além disso, a Europa tem adotado regulamentações ambientais cada vez mais rígidas, e a Fiat ficou para trás na eletrificação de sua frota. Enquanto marcas como Tesla, Volkswagen e BYD se consolidam no mercado de elétricos, a montadora italiana depende basicamente do 500e, um modelo que não consegue competir em preço e tecnologia com os rivais.

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Na Itália, país de origem da montadora, a Fiat ainda mantém relevância, mas mesmo assim vendeu apenas 190 mil unidades em 2024, o que representa 9,2% do mercado local, de acordo com a Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis.

O grande problema é a dependência excessiva do Fiat Panda, um carro barato e básico que continua sendo o modelo mais vendido da marca. Porém, a falta de renovação no portfólio e a descontinuação de modelos populares fizeram com que a Fiat perdesse espaço para concorrentes como Renault, a 'irmã' Peugeot e Hyundai.

Para piorar, a concorrência no mercado europeu é extremamente acirrada. Enquanto no Brasil a Fiat disputa espaço principalmente com Volkswagen, Chevrolet e Hyundai, na Europa há uma variedade muito maior de marcas competindo no segmento de compactos, tornando a sobrevivência da marca italiana ainda mais difícil.

Por que a Fiat não emplaca nos Estados Unidos?

Se a situação da Fiat na Europa é difícil, nos EUA é ainda pior. Em 2024, a marca vendeu apenas 1.528 carros, um número insignificante em um mercado onde Ford, Chevrolet e Toyota vendem milhões de unidades por ano.

Nos EUA, os carros mais vendidos são picapes grandes, SUVs espaçosos e sedãs robustos. A Fiat, por sua vez, apostou em modelos pequenos, como o Fiat 500 e o 500X, que não caíram no gosto do público. O americano médio prefere um Ford F-150 ou um Toyota RAV4 a um compacto italiano.

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Outra questão é que desde a fusão com a Peugeot-Citroën para formar a Stellantis, a Fiat tem perdido espaço dentro do grupo. A empresa, obviamente, está mais focada em fortalecer as marcas nativas Jeep e Dodge nos EUA, deixando a Fiat sem um direcionamento claro.

Além disso, enquanto os consumidores brasileiros priorizam custo-benefício, nos Estados Unidos e na Europa há uma exigência maior por acabamento, tecnologia e durabilidade - pontos em que a Fiat nem sempre se destaca frente aos concorrentes.

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Opinião

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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