Paula Gama

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Carros mais baratos? Acordo entre Mercosul e UE pode afetar sua garagem

Após 25 anos de negociações, o Mercosul e a União Europeia concluíram o Acordo de Associação, um marco que promete remodelar setores-chave das economias envolvidas. Entre eles, o setor automotivo se destaca como um dos mais impactados. A redução escalonada dos impostos e o incentivo à competitividade prometem transformar o mercado de veículos no Brasil, mas também colocam desafios significativos para a indústria nacional.

O acordo prevê uma redução escalonada de tarifas de importação para veículos ao longo dos próximos 10 anos. Após esse período, carros europeus, reconhecidos por sua alta qualidade e tecnologia avançada, entrarão no mercado brasileiro com preços mais competitivos, pois o imposto de importação, hoje em 35%, será quase zerado. Esse cenário pode atrair consumidores, mas também aumenta a pressão sobre as montadoras locais para oferecer veículos com melhor custo-benefício.

Segundo o economista Igor Lucena, o setor automotivo nacional precisará se reinventar. "Nos próximos 10 anos, a indústria brasileira terá que trabalhar para tornar seus carros mais competitivos. Caso contrário, o mercado poderá ser dominado por veículos importados, deixando a indústria local em risco de perder até mesmo o mercado latino-americano."

Além disso, a previsão de tarifas reduzidas para aproximadamente 97% das exportações industriais brasileiras à UE abre oportunidades para a exportação de peças e componentes automotivos, incentivando a integração da indústria nacional a cadeias globais de valor.

"Carne por carros": o equilíbrio econômico e comercial

Popularmente conhecido como "acordo carne por carros", o tratado reflete a troca de interesses entre os blocos: enquanto o Mercosul exporta produtos agrícolas, a UE mira ampliar a venda de veículos e tecnologia. A Alemanha, potência automotiva europeia, espera expandir sua presença no mercado sul-americano, enquanto agricultores da França e da Itália pressionam para que a UE volte atrás, temendo a competição do agro sulamericano.

O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria) Ricardo Alban, destacou a importância de modernizar a indústria nacional para aproveitar as oportunidades trazidas pelo acordo. "O acesso preferencial ao mercado europeu amplia nossa competitividade global e nos conecta a uma das economias mais robustas do mundo."

Pressão por competitividade e sustentabilidade

Com o acordo, o Brasil tem uma chance única de se posicionar como um player competitivo no comércio global. No entanto, a indústria automotiva local precisará adaptar-se rapidamente às novas demandas. A combinação de preços mais baixos de veículos importados e a exigência por sustentabilidade e eficiência energética pode levar a transformações significativas, como maior investimento em tecnologia e produção de veículos elétricos ou híbridos.

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Apesar da expectativa, o acordo, que ainda vai passar por revisão jurídica, portanto, pode sofrer alterações, inclui cláusulas de proteção para evitar uma inundação repentina de veículos importados, garantindo que a transição seja gradual.

Caminho para o futuro

Embora os próximos passos incluam revisões legais e ratificação pelos parlamentos, o acordo já se apresenta como um divisor de águas. Ao mesmo tempo que abre oportunidades, ele força a indústria nacional a inovar e competir em um mercado mais aberto e exigente.

Os consumidores brasileiros podem esperar mais opções de veículos importados, com qualidade elevada e preços potencialmente mais acessíveis. Contudo, a sobrevivência das montadoras locais dependerá de sua capacidade de se reinventar, melhorar seus produtos e integrar-se às cadeias globais de valor.

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