Por que carro no Brasil é barato para quem vende e caro para quem compra
Não há como negar que o carro zero-quilômetro está caríssimo no Brasil. No entanto, isso não quer dizer que as montadoras estão lucrando como nunca, e muito menos que os valores diminuiriam caso ninguém comprasse.
A 'lei de oferta e procura', que se aplica bem a muitos produtos, não funciona de maneira tão direta no mercado automotivo. O custo de produção de carros no Brasil é elevado, e se o número de compradores diminuir, os carros podem se tornar ainda mais caros. Isso ocorre porque algumas montadoras podem fechar fábricas, e as que permanecem precisarão obter o mesmo lucro vendendo menos veículos.
No Brasil, a situação é crítica. Apesar de programas de incentivos à indústria, a produção de carros ainda é muito cara em comparação com outros países, como México e China.
Mesmo sendo um dos bens mais caros que os brasileiros compram, a lucratividade das marcas não é proporcional. É por isso que muitas vezes é mais interessante importar, e esse mercado tem crescimento bastante, com 193.428 unidades importadas no primeiro semestre de 2024, um aumento de 38,8% em relação ao mesmo período de 2023, segundo a Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa).
Milad Kalume, analista no mercado automotivo, destaca que a carga de impostos é um dos principais obstáculos. "Custos tributários, tanto diretos quanto indiretos, representam uma porcentagem considerável sobre o preço final do veículo, sempre acima de 30%, podendo chegar a mais de 50%". Esse peso afeta todo o processo produtivo, desde a importação de peças até a comercialização.
A carga tributária sobre a contratação de trabalhadores brasileiros também aumenta os custos de produção. Além disso, questões macroeconômicas, como a infraestrutura de logística deficitária e problemas nas estradas, impactam diretamente.
"Mesmo com um frete geral para o Brasil, o custo é elevado devido às nossas estradas frequentemente precárias", observa Kalume.
Grande parte das peças utilizadas na produção de veículos é importada, e a oscilação do dólar penaliza a indústria. Essa dependência de componentes estrangeiros expõe a vulnerabilidade da indústria automotiva brasileira às flutuações cambiais.
Inflação, taxas de juros e falta de acordos comerciais
A persistência da inflação desde a década de 80 e as altas taxas de juros para empréstimos também impactam o setor. "Poucos acordos comerciais e uma dependência fundamental no mercado interno tornam a indústria refém das condições econômicas locais", alerta Kalume.
A falta de parcerias mais amplas, além das já existentes com Argentina e México, limita a capacidade de adaptação a crises externas.
O ambiente regulatório no Brasil impõe normas que frequentemente superam as exigências europeias e americanas em segurança e emissões. Normas específicas para o mercado brasileiro adicionam custos e complexidade à produção.
Essas condições elevam os preços dos veículos, tornando-os menos competitivos, especialmente quando comparados a produtos importados de qualidade superior. Isso leva as fábricas brasileiras a produzirem carros principalmente para o mercado interno e pequenos países da América Latina, competindo com produtos que saem do México com menor preço e maior número de equipamentos.
Reforma tributária: uma esperança vã
A Reforma Tributária já foi vista como uma esperança para mudar essa situação. Inicialmente parecia vantajosa, com o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) previsto para ficar na faixa de 26,5%, menor do que a porcentagem atual de tributos, que chegam a 50%. No entanto, o Imposto Seletivo (IS), que será adotado a partir da Reforma para aumentar a carga tributária para produtos considerados prejudiciais à saúde e ao meio ambiente e desencorajar o consumo, será aplicado também nos veículos.
Ainda não existe uma alíquota confirmada de IS, mas de acordo com estimativa do Tax Group deve ficar entre 25% e 24,5%, sendo esperada uma redução para cerca de 22% em 2035.
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Quero receberPara veículos, a proposta sugere que as alíquotas variem de acordo com características como potência, eficiência energética, emissões de carbono e tecnologia, podendo ser ajustadas com base nesses critérios. Ainda assim, o percentual de imposto sobre os carros pode até crescer em relação ao cenário atual.
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