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Paula Gama

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Mortes nas estradas: péssimas condições da via também causam acidentes

Acidentes mataram 14 pessoas por dia nas estradas brasileiras em 2021. Condições das estradas também influenciam  - Fernando Donasci/Folha Imagem
Acidentes mataram 14 pessoas por dia nas estradas brasileiras em 2021. Condições das estradas também influenciam Imagem: Fernando Donasci/Folha Imagem

Colunista do UOL

11/02/2022 11h00

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O índice de acidentes nas rodovias federais brasileiras aumentou 1,6% em 2021 em relação a 2020 - as ocorrências passaram de 63.447 para 64.452 casos. O mesmo se deu com as mortes, que cresceram 2%, passando de 5.287 vidas perdidas na malha federal, em 2020, para 5.391 no ano passado.

Os dados são do Painel CNT de Consultas Dinâmicas dos Acidentes Rodoviários e mostram uma tendência de alta nas mortes há cinco anos. Para Confederação Nacional dos Transportes, além de fator humano e mecânico, as condições da via também influenciam nesse resultado.

Brasil gasta mais com acidente do que com infraestrutura

O custo anual estimado dos acidentes ocorridos em rodovias federais no Brasil chegou a R$ 12,19 bilhões. Esse montante é bem superior ao valor investido em rodovias em 2021 (R$ 5,76 bilhões). Se fossem direcionados mais recursos para melhora da sinalização e do pavimento e para campanhas educativas, será que vidas seriam poupadas?

"O registro de acidentes não é feito por um perito, mas por um policial que, via de regra, faz poucas anotações sobre as condições da vida, como acostamento precário, buracos, desníveis? O volume de investimentos para infraestrutura rodoviária é o menor em 20 anos, os problemas geométricos, de pavimentação e sinalização acabam induzindo o motorista ao erro", pondera o diretor-executivo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Bruno Batista.

Os dados gerais do Painel CNT de Acidentes de 2021 mostram que o tipo mais frequente de casualidade com vítimas é a colisão (60,2%), responsável por 61,3% das mortes relacionadas com acidentes de trânsito nas rodovias federais. A fatalidade acomete, majoritariamente, homens (82,2%) e, predominantemente, acontece de sexta-feira a domingo. O que, para Bruno, evidencia também uma falha na formação de condutores.

"O fato de os acidentes acontecerem mais nos fins de semana mostra a vulnerabilidade de motoristas sem experiência. Temos um problema na formação de condutores. Durante a formação, as pessoas são treinadas durante o dia, em trechos urbanos e com tempo firme. O condutor tira sua carteira sem saber dirigir em diversas condições", analisa.

Estradas mais críticas

Em relação ao ranking de acidentes na malha rodoviária federal, a BR-101 é a rodovia que contabiliza o maior número de ocorrências com vítimas, 9.257. Em seguida está a BR-116. Porém cabe ressaltar que essas são as rodovias mais extensas do país. Em termos de acidentes proporcionais à extensão das rodovias, as mais críticas são a BR-381 e a BR-465, respectivamente com 2.940 e 100 acidentes.

Opinião

Os dados mostram que as políticas de segurança no trânsito aplicadas nos últimos anos estão completamente defasadas. De acordo com a CNT, estamos há meia década em uma tendência de aumento das mortes no trânsito a cada ano. O que é preciso?

Culpar a parte mais frágil, o motorista, é, certamente, a saída mais simples entre todas possíveis. Por que se tornou "normal" gastar mais com os acidentes do que em melhorias das vias? A falta de atenção do condutor é sempre imprudência ou resultado de uma viagem cansativa, fugindo de buracos e vivendo em uma verdadeira gincana para encontrar placas indicativas de velocidade?

Vivemos em um país em que o governo e as concessionárias de rodovias chegam ao ponto de colocar placas indicativas de desníveis e buracos, mas não têm a coragem de consertar o pavimento. Quando o poder público (das esferas federal, estaduais e municipal) decide, finalmente, recapear uma parte da estrada, outro trecho da mesma rodovia já está nas mesmas condições, ou até pior.

O erro humano existe e deve ser penalizado, mas quando ele começa ser tão grande a ponto de matar 5 mil pessoas por ano, é preciso avaliar se há outros fatores que podem estar facilitando essa conduta.

De acordo com o Bruno Batista, o nível de acidentes das rodovias brasileiras corresponde aos números que os países desenvolvidos tinham há 30/35 anos. Eles conseguiram resolver a situação com educação no trânsito e melhoria das vias. O caminho está aí: basta seguir.