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Honda, vencedora na F1, mas na MotoGP...

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Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

14/12/2021 11h29

Que a Honda é a maior vencedora no motociclismo todo mundo sabe, e se não sabe, ao menos desconfia. Poder técnico e financeiro - além de uma arraigada cultura de investimento nos esportes a motor instituída pelo fundador, Soichiro - se traduzem em vitórias nas pistas, uma saga iniciada no comecinho dos anos 1960.

Neste fim de semana mais uma página dessa bela história foi escrita, pois a Honda venceu novamente, e desta vez em um território onde há 30 anos não o fazia: a Fórmula 1. Antes deste título conseguido pelo holandês Max Verstappen e sua Red Bull empurrada pelo motor Honda, o último piloto a ter colocado a marca no patamar mais alto do automobilismo mundial tina sido um brasileiro, Ayrton Senna da Silva, que com um McLaren-Honda faturou seu derradeiro título em 1991.

A história da Honda na Fórmula 1 é marcada por idas e vindas constantes, como a que ocorrerá agora, uma vez que a empresa avisou esta vitoriosa temporada de 2021 foi sua última na categoria. Esta mais recente passagem da Honda na F1 começou em 2015, fornecendo motores para a McLaren, e desde 2017 com a agora campeã Red Bull e a Alpha Tauri.

Se na F1 a história da Honda é marcada pelo citado entra e sai - esteve na categoria de 1964 a 1968, de 1983 a 1992, de 2000 a 2008 e, agora, desde 2015 -, na Motovelocidade sua participação foi quase constante. Presença fixa de 1959 até 1967 e, depois, de 1979 até agora. Nada menos que 51 temporadas na motovelocidade mundial, onde nenhuma outra marca faz sombra à Honda em número de títulos e vitórias, que são mais de 800.

Porém, nos últimos dois anos, a Honda "sofre" na categoria principal, a MotoGP, onde seu último título data de 2019. O saldo de vitórias nas últimas duas temporadas é de apenas três, e o motivo é que seu astro principal, o piloto espanhol Marc Márquez, acidentado em 2020, penou em sua volta ao guidão em 2021. E como não há nada de ruim que não possa piorar, outro acidente aconteceu com Marc, colocando um grande ponto de interrogação no futuro de sua carreira.

Nestas últimas duas temporadas com Márquez avariado, confirmou-se que sem ele a Honda não assusta, uma dependência nada saudável para uma marca tão poderosa. Até o acidente em Jerez de la Frontera, em julho de 2020, Márquez vencera seis dos sete títulos disputados com a Honda, inclusive o de sua temporada de estreia na MotoGP. Ser tão fenomenal deu a Marc todas as atenções da equipe, que durante este longo período feliz "costurou" uma moto sob medida para o espanhol, mas que se demonstrou difícil para seus companheiros de marca.

Com a saída de Dani Pedrosa, que pilotou no time principal da Honda na MotoGP de 2006 a 2018, o desenvolvimento da Honda RC 213V ficou centrado em Márquez. O resultado foi uma máquina excelente para Marc, mas difícil para seus companheiros de time, que escancaradamente (Jorge Lorenzo em 2019) ou discretamente (Pol Espargaró em 2021), confessaram ter dificuldade para levar a moto ao limite com fazia Márquez.

Moral da história: sem seu piloto nº1 a Honda não "morde" mais. E agora, com outro acidente em treinos que teve como resultado a chamada diplopia (visão dupla), Marc será obrigado a pular a fase de desenvolvimento da moto para a temporada 2022. Será esta a chance de ouro para os outros pilotos Honda tornarem a montaria mais adequada às necessidades ou um fiasco está em andamento? Conseguirá a marca mais vitoriosa da motovelocidade voltar a vencer sem seu maestro?

2022 dirá, mas uma coisa é certa: a escolha de colocar todas as fichas em Marc Márquez, e deixar escapar novos talentos (Jorge Martin, Enea Bastianini, Pedro Acosta...) para times rivais já pesa na conta de Alberto Puig, chefe do time Repsol Honda, e há quem diga que em Tóquio já se pensa em um novo comandante para a equipe oficial da Honda na MotoGP, e em um futuro menos dependente de um único piloto.