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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Motos de corrida na sua garagem

Ducati Streetfighter  - Divulgação
Ducati Streetfighter Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

15/10/2021 16h28

O recente lançamento da Ducati Streetfighter V4S me fez refletir um pouco na evolução da tecnologia aplicada às motos. No caso da novidade, trata-se de uma naked que tem uma brutal relação peso-potência de 0,86 kg/cv. Ela é, na prática, a versão da superesportiva Ducati Panigale V4S despida de carenagem. Custa quase 150 mil e o primeiro lote, de 60 motos, já sumiu das revendas.

Quem compra este tipo de moto? Óbvia resposta: que tem muito dinheiro, aprecia alta tecnologia e motos esportivas de verdade. Todavia, suponho que desses 60 felizardos que levaram a Streetfighter para casa, nenhum é capaz de extrair a máxima performance do modelo.

Outro lançamento recente, o da Honda CBR 1000RR-R Fireblade, vai pelo mesmo caminho. Suprasumo da esportividade da marca nº 1 do mundo, chegou ao Brasil há pouco e clientes não faltaram. Com 216 cv de potência máxima e 189 kg de peso, sua relação peso-potência é ainda mais ardida: 0,87kg/cv.

O fato de serem poucos os mortais capazes de levar tais motos ao limite, extrair delas tudo o que elas podem dar, não afeta o desejo das pessoas por ter estas máquinas. Pelo contrário, atiça, como comprovam as vendas.

Traçar um paralelo com o mundo dos supercarros, os Porsche e Lamborghini da vida, faz ver que a motocicleta está bem à frente no quesito de ofertar a quem quer que seja (e pague...) modelos que, literalmente, são de tirar o fôlego. O Porsche 911 GT3 tem relação de 2,8 kg/cv, e mesmo nas versões de pista a cifra não chega perto da das motos.

Sim, há que se considerar os 70-80 kg do piloto, que afetarão bem mais a relação quilo-cavalo na moto que no carro, mas mesmo assim não há como negar que acelerar para valer uma moto dessas exige bem mais estômago (fígado, rim...) do que fazer o mesmo em um destes supercarros.

Moral da história? Os felizardos donos de Panigales e Fireblades tem em suas garagens máquinas que estão tremendamente próximas do máximo do máximo da moto de competição, no caso as máquinas da MotoGP.

Os tempos de volta em pistas que são compartilhadas pelo mundial da categoria Superbike e da MotoGP mostram que, em média, são três os segundos que separam motos de normal venda ao público, como as citadas, dos protótipos de Marc Márquez e Fábio Quartararo.

Espantoso? Eu acho! De fato, se fosse possível colocar uma Fireblade atual em uma máquina do tempo, e voltar para o passado, ela seria capaz de bater a mais sofisticada das Honda feitas para a MotoGP de menos de uma década atrás. Isso escancara o extremo nível da tecnologia que a indústria de motocicletas chegou, e a necessidade de lembrar aos donos destas máquinas que lugar de usá-las é na pista.