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Randy Mamola, Eric Granado... rápidos, mas sem título de campeão?

Brasileiro Eric Granado desperdiçou a chance de se tornar campeão da Copa do Mundo da MotoE no sábado passado - Alex Farinelli/Divulgação
Brasileiro Eric Granado desperdiçou a chance de se tornar campeão da Copa do Mundo da MotoE no sábado passado Imagem: Alex Farinelli/Divulgação

Colunista do UOL

23/09/2021 11h48

Passei o sábado emburrado, triste, por ter assistido Eric Granado desperdiçar a chance de se tornar campeão da Copa do Mundo da MotoE, a categoria destinada a motos elétricas.

Paulistano de 25 anos e o mais promissor representante do Brasil no motociclismo internacional nesta última década, Eric chegou à final da Copa do Mundo da MotoE na Itália (rodada dupla com corrida no sábado e no domingo), sete pontinhos atrás do líder na tabela. Desvantagem mixa, e não havia uma alma no paddock da pista de Misano que duvidasse que o título seria dele. Mas não foi.

Desde que corridas com motos elétricas passaram a fazer parte de algumas etapas selecionadas do calendário do Mundial da MotoGP, há três anos, Eric é protagonista. É de longe o piloto mais rápido, sobra na pista. Mas por vezes exagera, como aconteceu sábado, quando na última curva não soube se conter, e querendo ser o primeiro colocado em vez de garantir um 2º lugar certo, que o colocaria na liderança da tabela, caiu.

Na corrida de domingo, triste como eu e todos os seus fãs, foi uma sombra de si mesmo, e jamais esteve na briga pela vitória. Mas nem adiantaria pois o estrago já estava feito. Moral da história? Ser o mais rápido, o que mais vence, faz mais poles e voltas mais rápidas não basta. Para ser campeão é preciso tomar decisões certas, o que não aconteceu naquela malvada curva final de Misano no sábado.

Paulistano, Granado é e o mais promissor representante do Brasil no motociclismo internacional nesta década - Jesus Robledo/Divulgação - Jesus Robledo/Divulgação
Paulistano, Granado é e o mais promissor representante do Brasil no motociclismo internacional nesta década
Imagem: Jesus Robledo/Divulgação

São vários os pilotos que "sobram" na pista, mas não são capazes de traduzir em títulos o talento. Me vem à mente um que era especialmente querido dos brasileiros quando o Mundial fazia escala em Goiânia, para Grande Prêmios no final dos anos 1980: Randy Mamola.

O norte-americano foi quatro vezes vice-campeão da categoria 500, a principal à época. Era um voraz vencedor de corridas, só que durante quase uma década no topo nunca fez uma temporada perfeita, e certamente em seu período de atuação alguns pilotos que foram campeões não tinham seu brilho ou talento, mas eram calculistas, tomavam decisões certas na hora H, e foram campeões, algo que Mamola não conseguiu ser.

Eric é ainda muito jovem, mas no planeta em que vive, o do motociclismo de altíssimo nível, erros custam caro. Certamente este título desperdiçado fecha portas em vez de abri-las.

Continuar na MotoE e tentar, finalmente, ser campeão agora é o plano A, mas antes deste triste final de semana era o plano B. Se tivesse conseguido ser o nº1 do mundo nas MotoE estaria mais perto de onde ele efetivamente queria estar em 2022, no Mundial de Superbikes pilotando uma Honda oficial. Ou em uma forte equipe da Moto2, a categoria intermediária do Mundial da MotoGP, onde já competiu precocemente em 2012 aos 16 anos (muito cedo!) e em sem sucesso em 2018 (moto ruim).

Carta fora do baralho Eric Granado não é. Sua velocidade e juventude ainda o tornam atraente como piloto internacional em categorias de relevo, mas, como ele mesmo disse antes deste final de semana, "não há mais espaço para erros em minha carreira...". Pois é, agora não há mais nada a fazer do que virar a página, seguir em frente, e usar a lição deste final de semana para dar a volta por cima.