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Salão de Tóquio mostra como será o futuro das motos nos próximos 20 anos

Toshifumi Kitamura/AFP
Imagem: Toshifumi Kitamura/AFP

Roberto Agresti

Colaboração para o UOL

31/10/2017 04h00

O Salão de Tóquio nunca foi uma mostra encaixadinha no padrão dos principais salões mundiais, sejam os dedicados a motocicletas ou a automóveis. Para começar, ele mistura motos e carros. E em um passado não tão distante, era comum ouvir dizer que tratava-se de um evento de características locais, que mirava exibir produtos específicos para o mercado asiático.

A edição deste ano, que acontece no exuberante pavilhão cujo sugestivo nome é Big Sight ("grande olhar", em inglês), às margens da baía de Tóquio, vai bem além da exibição dos quase sempre exóticos modelos para o mercado local ou delirantes exercícios de imaginação tecnológica com bem pouca aplicabilidade à curto prazo.

De fato, especialmente no âmbito da motocicleta, o evento de 2017 deverá ser lembrado por ser um verdadeiro "big sight" para um futuro nada distante, que coloca bem debaixo de nossos narizes quais tipos de guidões empunharemos em breve.

Honda e Yamaha, respectivamente número 1 e 2 do planeta quando o assunto é motocicleta, literalmente "apavoraram" com suas propostas inovadoras e recheadas da mais alta tecnologia.

Suzuki Burgman - Toru Hanai/Reuters - Toru Hanai/Reuters
Também uma das anfitriãs japonesas, a Suzuki mostrou um Burgman movido a célula de combustível (hidrogênio)
Imagem: Toru Hanai/Reuters

O que vem por aí

A Honda apresentou não só a Riding Assist-e, que antecipei neste espaço, uma motocicleta autoestabilizada movida por motor elétrico, mas como também um par de scooters PCX -- best-seller do segmento no Brasil --, um movido a eletricidade pura e outro híbrido, ou seja, dotado de motor convencional a combustão interna associado a um motor elétrico.

Estes PCX apresentados no salão são produtos 100% prontos para chegar às lojas no ano que vem -- primeiramente no mercado asiático. Como já falei por aqui, esse inédito PCX usa baterias tipo cartucho. Descarregou? Deixa uma na carga e use a outra! Desse modo um dos clássico problemas dos veículos elétricos --a espera pela recarga nem sempre rápida como é abastecer um tanque de combustível-- foi resolvido.

Mas foi o PCX híbrido que mais me atraiu, única e exclusivamente por trazer ao mundo das duas rodas uma tecnologia consagrada e popularizada por um automóvel, o Toyota Prius, que há mais de uma década é referência em termos de praticidade, confiabilidade e baixas emissões.

Aplicar a tecnologia híbrida a um veículo de duas rodas não foi primazia da Honda, porém, uma vez que no final da década passada a italiana Piaggio lançou seu triciclo MP3 em versão hibrida, com motores a combustão e elétrico funcionando em parceria.

Só que o scooter da Honda é popular, acessível, bem diferente do exclusivo e caro MP3, cujas vendas foram restritas não só pelo preço elevado, mas também por fatores ligados à carência de performance motivada pelo alto peso do conjunto -- dotado de três rodas e complexa suspensão dianteira.

O futuro chegou

Com esta dupla de scooters da família PCX, a Honda determina que o futuro sustentável e limpo sobre duas (pequenas) rodas e fabricação em alta escala definitivamente chegou. Começarão a ser vendidos no Japão em 2018 e certamente invadirão o restante do planeta de maneira avassaladora a prazo curtinho, estabelecendo um padrão de mobilidade que não tem como dar marcha a ré. Sobre a moto autoestabilizada, mais algum tempo deverá se passar até estar disponível -- mas, como costuma acontecer nestes casos, benefícios técnicos derivados de sua pesquisa certamente serão incorporados a outros modelos em espaço de tempo menor.

E quanto a Yamaha? A rival da Honda mostrou que sua tecnologia no âmbito do auxílio ao motociclista na pilotagem está em estágio extremamente evoluído. A Motobot -- uma superesportiva estilo R1 pilotada por um robô humanoide -- chegou à segunda geração e foi capaz de desafiar ninguém menos que o multicampeão Valentino Rossi ao guidão de uma R1 de série. Desafiar "em termos": a Motobot "tomou um belo pau" de Rossi em uma pista nos EUA, onde o italiano registrou 1min25s740 para a volta, enquanto o autômato ao guidão conseguiu 1min57s504.

Enormes 31 segundos ou... mínimos 31 segundos? A segunda hipótese é a mais adequada, não só pelo incrível talento de Rossi, como pela façanha que representa um robô humanoide pilotar uma motocicleta de altíssima performance, tarefa que apenas poucos humanos conseguem realizar com certa desenvoltura.

Imaginar que a tecnologia empregada na Motobot chegará às motos de produção em série, com inegáveis vantagens para a segurança ativa, é desnecessário -- pois a própria Yamaha mostrou, também no Salão de Tóquio, um estudo para uma motocicleta elétrica que, como a Honda Riding Assist-e, tem capacidades de autoestabilização. É a Motoroid, que de acordo com a empresa tem apêndices no assento que, em contato com o corpo do piloto, "sentem" os movimentos do condutor e antecipam as manobras, facilitando a operação. Querem apostar que o robozinho da Motobot contribuiu para o desenvolvimento desta Motoroid?

Perto destas novidades, outras belezinhas vistas na mostra, como a Yamaha Niken, triciclo de alta performance empurrado pelo motor da conhecida MT-09 ou a novíssima Honda Gold Wing, reformulada "de cabo a rabo", são meras atrações, convencionais demais em um ambiente onde aquele futuro ao guidão que parecia tão distante tempos atrás não só poderia ser visto, mas como tocado com a ponta dos dedos.