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Vendedor mentiroso: 8 desculpas que você deve desconfiar ao comprar carro

Sempre que entro no tema de mentiras, omissões, pegadinhas ou até mesmo golpes praticados no mercado de carros usados, é comum ler comentários indignados que atribuem essas ações ao tal do 'jeitinho brasileiro' - ou seja, como se fosse algo cultural do vendedor brasileiro.

Tenho certeza que não é por aí. Não conheço o mercado de usados de outros países, mas acredito que a imagem do vendedor de carros usados é ruim em qualquer canto do mundo. É como se fosse alguém sempre disposto a 'passar a perna' em qualquer pessoa para levar vantagem.

Felizmente, é claro que isso não é uma verdade absoluta. Nas inúmeras negociações que fiz, conheci vendedores honestos e que fazem questão de apontar os inevitáveis pontos negativos do carro que está vendendo, priorizando a venda saudável em que os dois lados ganham.

Na coluna dessa semana listei algumas situações comuns que enfrento nas avaliações de carros usados e as respostas que geralmente escuto, mas que nem sempre são verdadeiras.

É de único dono

A procedência de um carro é algo relevante. Geralmente, quanto menor for a quantidade de donos que um carro teve ao longo de sua vida, maiores as chances de ser bom. Quando teve apenas um, melhor ainda. Dito isso, as palavras "único dono" em letras garrafais no para-brisa de um usado chamam mais atenção de um possível comprador.

Porém, nem sempre isso é verdade. Quando o interessado vai mais a fundo, descobre que muitas vezes já teve vários donos. O vendedor, confrontado nessa situação, sempre tem uma desculpa na ponta da língua, como dizer que o primeiro dono era parente próximo do segundo, que sempre esteve na mesma família, ou coisas do tipo.

Tudo isso, sem conseguir comprovar o que está dizendo, pois sabe que dificilmente o interessado vai investigar a veracidade disso.

A quilometragem é original

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Essa é uma informação que nem deveria existir. No mundo ideal, a quilometragem de um usado sempre seria a original, mas sabemos que não é assim que acontece. As adulterações continuam a todo vapor, já que quilometragens baixas são bem mais atrativas, por mais que isso possa dizer pouco sobre a qualidade de um carro.

Fato é que muitas vezes um vendedor não tem como afirmar se a quilometragem é original por falta de comprovantes das manutenções. Eles se baseiam apenas em vistorias de transferências, que também podem errar por acreditar apenas nos números que estão no odômetro do carro e em possíveis vistorias anteriores.

Esse número só precisa ser maior do que o registrado anteriormente, o que não prova nada. Fora os casos sem nenhum registro anterior, que podem aceitar qualquer coisa que aparecer no painel do carro.

Caso um interessado encontre algo suspeito, como comprovante de manutenção com registro de quilometragem maior, o vendedor é rápido em afirmar que foi erro de digitação, ou é de outro carro, mesmo sem ter como provar isso.

Está todo revisado

Essa é das informações mais ditas em anúncios de carros usados. E claro, seria bom, se fosse verdade. O problema é que poucos carros usados são realmente revisados. Na maior parte das vezes, os cuidados são maiores na parte estética, com polimento e higienização para embelezar o carro. Porém, quando envolve uma revisão de verdade, que pode exigir troca de peças, passa batido de maneira proposital.

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Sendo assim, não faltam exemplos de casos supostamente revisados, que apresentam vazamentos de óleo ou água, suspensão cansada, freios desgastados e assim por diante. Para o vendedor, qualquer coisa descoberta numa avaliação pré-compra, é facilmente resolvida. É sempre um pequeno ajuste que promete fazer antes de entregar o carro.

Infelizmente, o que acontece depois é um reparo mais simples possível, apenas para empurrar a devida manutenção um pouco mais para frente, de preferência após o período da garantia.

É só passar scanner

Qualquer carro moderno está recheado de módulos eletrônicos. Até mesmo os mais simples e baratos são equipados com injeção eletrônica, freios ABS, airbags, controles de estabilidade e tração.

Cada um desses componentes possui luzes de advertência no painel e só deve acender por alguns segundos após a partida do motor. Quando continuam acessas, estão alertando que tem algo de errado, portanto devem ser checadas.

Em uma situação como essa, o vendedor sempre argumenta que basta passar um scanner para apagar essa anomalia. De fato, isso é possível de se fazer, mas não significa que o problema será resolvido. É possível que, depois de um tempo, a luz volte a acender justamente porque o real problema não foi resolvido.

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Quem se deparar com isso, recomendo que verifique em um ambiente de oficina mecânica o que de fato precisa ser feito. Podemos considerar uma variedade enorme de problemas que uma simples luz quer informar e, dependendo do reparo, o custo pode ser muito alto e inviabilizar a compra do carro.

É só alinhar

Quando se olha rapidamente para a banda de rodagem de um pneu, a percepção pode ser positiva de que o mesmo ainda tem bastante borracha para rodar. Porém, o certo é deitar embaixo do carro e observar a banda de rodagem por inteiro.

Não são raras as situações em que o pneu parece bom olhando somente o lado interno, mas está desgastado do lado interno. Esse desgaste irregular, quando em estágio avançado, condena a vida útil do pneu.

O vendedor, quando se depara com isso, rapidamente informa que basta fazer o alinhamento do carro. Mas nem sempre o alinhamento é a solução para isso, pois é preciso analisar com mais atenção, o que aconteceu para esse desgaste irregular.

Uma das hipóteses é desgaste de peças da suspensão, que faz com que o pneu rode com geometria errada. Somente um alinhamento, vai resolver o desgaste irregular do pneu no curto prazo, mas o real problema da suspensão vai continuar lá.

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É só colocar gás

Ninguém mais quer saber de carros sem ar-condicionado, tanto que não existe mais opção de carros de passeio sem ele. É o tipo de conforto que não dá para abrir mão, mas infelizmente o mercado de usados está cheio de veículos com problemas.

Já me deparei com muitos casos em que o vendedor confirmou que o bom funcionamento do ar-condicionado, mas ao chegar na avaliação, o mesmo não funcionou. Aí vem a desculpa padrão: "é só colocar gás". Não tem como acreditar nisso sem antes levar o carro em um profissional da área, para que testes sejam feitos para conseguir o diagnóstico correto.

Por vezes, a falta do gás é ocasionado por um vazamento, ou seja, se colocar gás novo, pode gelar somente por pouco tempo. Pior ainda é quando um componente caro, como o compressor ou o condensador, são condenados pelo profissional.

É só completar

Com o crescimento dos carros com motores turbos, dois problemas têm sido recorrentes nesses casos: arrefecimento e lubrificação. Ocorre que esses motores são mais complexos e exigem mais desses sistemas, por isso não é raro se deparar com um motor turbo que está baixando água ou óleo.

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No caso do arrefecimento, a checagem do nível é feita no reservatório de expansão. Quando trabalha com aditivo na proporção correta e sem vazamentos, o nível sempre se mantém entre o mínimo e o máximo. Se estiver abaixo no mínimo, provavelmente tem algo errado, mas o vendedor vai dizer que basta completar com água.

Mais uma vez o problema vai ser solucionado no curto prazo, pois provavelmente tem algo errado que vai continuar lá. É preciso levar o carro a um ambiente de oficina para procurar por um possível vazamento e resolver o problema do jeito certo.

Só a diretoria usava

O mercado de carros usados está recheado de opções que foram de locadoras. Tem modelos que parecem que foram vendidos somente para eles, e para encontrar algum de particular é como procurar uma agulha no palheiro.

Um argumento muito comum de quem está vendendo um carro que foi de locadora é que era da diretoria da empresa, para passar uma ideia de que somente uma única pessoa utilizou e que ela teria tido mais cuidado com o carro.

Claro que isso pode ser verdade em alguns poucos casos, mas sempre escuto isso como se fosse regra. Nunca é um veículo de locadora comum, utilizado sem dó, cada dia com um motorista diferente. Francamente, não tem como acreditar nisso.

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Como já disse em outras colunas, prefiro evitar carros que foram de locadoras, mas se não for possível, que seja feita uma boa avaliação pré-compra e não se deixe enganar.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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