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Redução do IPI: carros usados ficarão mais baratos com desconto em zero km?

Mateus Bruxel/Folhapress
Imagem: Mateus Bruxel/Folhapress

Colunista do UOL

10/03/2022 04h00

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A indústria automotiva é das mais importantes em todo o mundo, e não poderia ser diferente no nosso país. Ela representa boa parte do PIB (Produto Interno Bruto) e gera grande quantidade de empregos diretos e indiretos. Sendo assim, é de se imaginar que um simples espirro nesse ecossistema faça a economia brasileira ficar resfriada.

Desde o início da pandemia da covid-19, as vendas de carros novos estão em queda. Entre os motivos estão a dificuldade de produção por falta de peças, alta do dólar e menor poder de compra da população. Em uma situação como essa, o governo decidiu reduzir o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) em 18,5% para os carros.

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A expectativa é que os carros novos fiquem mais baratos e o mercado seja aquecido. Para quem já tem um veículo na garagem, como eu, fica a dúvida do quanto isso pode impactar no preço dos nossos usados.

Para tentar responder a isso, começarei voltando um pouco no tempo. O ano era 2008 e as vendas de carros novos também estavam em queda devido à crise financeira global. Minha filha tinha acabado de nascer e decidi comprar um carro maior e mais confortável. O escolhido foi uma perua Escort SW 1998, que me custou cerca de R$ 17 mil em agosto daquele ano.

Poucos meses depois, em dezembro, o governo decidiu zerar o IPI de carros 1.0 e reduzir em 50% o imposto de carros com motores até 2.0. Diferentemente do que foi feito agora, essa medida duraria somente até março do ano seguinte, mas depois foi prorrogada e durou por um bom tempo.

Foi certeiro para o mercado de novos, que voltou a vender bem naquele momento de crise, mas o de usados sentiu o baque. Além dos preços mais baratos, as financeiras também estavam mais flexíveis, facilitando bastante a compra de um zero km. Rapidamente as lojas de carros usados ficaram com estoque cheio, mas com pouca procura por parte do consumidor.

Tenho um grande amigo que sempre trabalhou no ramo de carros usados, e lembro que fiz uma visita na loja em que trabalhava. Os vendedores estavam quase dormindo por falta do que fazer. Já ele estava desesperado pela queda nas vendas e até pediu para que eu tentasse uma vaga na empresa em que eu trabalhava, em ramo completamente diferente.

Foi ali que me liguei que aquela perua comprada há poucos meses já estava valendo cerca de R$ 10 mil. E não era preço que um revendedor pagaria, mas preço de mercado mesmo. Ou seja, meu carro teria desvalorizado uns 40% com poucos meses de uso, devido ao total desinteresse que o mercado estava tendo com os usados.

Para quem tinha ficado sete longos anos com o carro anterior, o sentimento era de frustração por ter escolhido o pior momento para trocar de carro. Decidi continuar com a perua por mais um tempo, na esperança que ela valorizasse assim que a alíquota do IPI voltasse ao que era antes, mas isso não aconteceu. Vendi o carro em 2010 por apenas R$ 8 mil, um péssimo negócio.

Voltando para os dias atuais, existe alguma chance dessa história se repetir? Será que nossos carros usados serão fortemente desvalorizados nos próximos meses?

Acredito que não, pois além da redução ter sido bem menor que no passado, não existe nenhuma obrigatoriedade por parte dos fabricantes em repassar ao consumidor. Inclusive alguns já estão alegando que essa redução pode ajudar apenas a segurar os preços, já que a inflação tem corrigido os valores dos carros quase que mensalmente.

Também temos que considerar que os carros novos continuam com preços nas alturas para boa parte dos brasileiros. Nem mesmo a redução esperada seria suficiente para impactar o interesse de compra. Na prática, continuam acessíveis para poucos.

A Kia Motors, por exemplo, foi uma das primeiras que anunciaram redução nos preços devido ao IPI. O sedã Cerato, que custava R$ 133 mil, agora custa R$ 130,5 mil. Venderá mais por causa desse "desconto" de R$ 2,5 mil? Creio que não.

Sendo assim, é mais provável que os valores dos carros usados continuem subindo, como tem acontecido. Provavelmente a valorização não será tão forte como nos últimos 12 meses, inclusive a curva de crescimento ficou mais plana do início do ano para cá, mas ainda assim o mercado tem tudo para continuar aquecido e não repetir o que aconteceu em 2008 e 2009.

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