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Ford fora do Brasil: vale comprar carros extintos como Ka e Ecosport?

Colunista do UOL

13/01/2022 04h00

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Lá se vai um ano que a Ford nos "deixou". Não de maneira definitiva, já que continua presente em nosso país com modelos importados como Ranger, Territory, Bronco Sport e Mustang. Mas os modelos fabricados por aqui, que foram vendidos em grande escala, ficaram para o passado. No início de 2021, a marca decidiu fechar suas fabricas no Brasil, deixando os donos de seus veículos preocupados com a possível falta de assistência e desvalorização no mercado.

Logo que isso aconteceu, deixei claro que não iria mais recomendar carros da Ford para os meus clientes. Fiquei tão indignado com a decisão da Ford que decidi boicotar a marca. Dois meses depois fui "castigado", já que apareceu uma boa oportunidade de comprar um Ford Escort Ghia 1994, e não pude deixar passar.

Comprei o carro pensando em revender por um valor maior no curto prazo, mas gostei tanto do charmoso hatch que continuo com ele na minha garagem, sem previsão de me desfazer dele. Assim como faz o William Bonner, também gosto de curtir meus carros e não os vejo apenas como mercadorias.

Mas vamos deixar o Escort de lado e pensar nos modelos mais novos, esses que interessam para a maioria das pessoas. Será que mudei minha opinião em relação a eles? Voltei a indicar EcoSport, Fiesta, Ka e Focus para meus clientes ou continuo com bronca da marca?

Fiz essa reflexão sobre cada um dos principais modelos, oferecidos nos últimos anos no nosso mercado. Vamos a eles:

EcoSport - Divulgação - Divulgação
Ford EcoSport ST-Line
Imagem: Divulgação

Ford EcoSport

Um dos carros mais bem sucedidos no Brasil, o EcoSport sempre foi um dos queridinhos no mercado de usados. Nem mesmo o porta-malas pequeno e o alto consumo de combustível de algumas versões diminuíram o interesse pelo carro, que tinha como virtude a boa altura em relação ao solo e a posição de dirigir mais alta, pontos apreciados por muitos motoristas que hoje não abrem mão de seus SUVs.

Isso até chegar a transmissão automatizada de dupla embreagem no modelo 2013, a famosa e problemática caixa Powershift, e destruir a imagem do modelo. Não faltam reclamações desse câmbio, e somente um desavisado pode considerar a compra de um EcoSport Powershift. Eu não compraria nem que estive com um valor bem atrativo, pois para mim é o tipo de carro que não vale mais nada.

Entre 2013 e 2017, os anos em que esse câmbio foi disponibilizado nas versões com motor 2.0, somente os EcoSports manuais devem ser considerados. Nesse período, ainda não tínhamos tantos SUVs como temos hoje, e pode ser tentador para quem quer entrar nessa categoria e está com orçamento limitado, só não para querer se enganar e comprar um Powershift baratinho pensando que ele não vai dar problema.

Depois de 2018 o EcoSport melhorou bastante, ganhou um eficiente e moderno motor 1.5 e aposentou a caixa Powershift. Em seu lugar, uma confiável transmissão automática de seis marchas passou a equipar o motor 1.5 e o 2.0. Na versão Titanium e Storm, o EcoSport ganhou equipamentos encontrados somente em categorias superiores e até pode ser considerado caso tenha um preço bom.

Ka - Divulgação - Divulgação
Ford Ka SE 1.5 AT 2020
Imagem: Divulgação

Ford Ka

Tanto Ka hatch quanto sedã foram ótimas opções nas categorias de entrada. Bonitos, espaçosos, bem equipados e com motores eficientes, fizeram bastante sucesso. Felizmente, nenhum Ka foi "premiado" com o problemático câmbio Powershift, sendo assim sua compra não é tão arriscada.

Desde o lançamento da primeira geração no fim dos anos 90, o Ka sempre foi equipado com câmbio manual, e só passou a ter o conforto do automático no modelo 2019, praticamente no fim da sua vida. É a mesma transmissão confiável dos EcoSports pós-2018, portanto pode ser considerada sem sustos.

Sendo uma categoria em que os donos são mais preocupados com custo de manutenção, acredito que o Ka deve perder bastante espaço no mercado de usados para concorrentes que ainda permanecem em linha, como Hyundai HB20, Fiat Argo e Volkswagen Gol. Por enquanto, a procura por ele ainda é alta.

Fiesta - Divulgação - Divulgação
Fiesta 2019
Imagem: Divulgação

Fiesta

Diferentemente de EcoSport e Ka, que eram fabricados na cidade de Camaçari (BA), o Fiesta era feito na histórica unidade de São Bernardo do Campo (SP), que fechou as portas em novembro de 2019. Carro bonito, alinhado com o que era oferecido no mercado europeu, também sofreu bastante com o problemático câmbio Powershift e teve sua imagem arranhada devido a isso.

A última geração disponível começou importada do México e era até mais equipada que o Focus. Por muitos anos, indiquei o Fiesta mexicano, mas hoje já não é um bom negócio. Sua dianteira é exclusiva, diferente da oferecida no modelo nacional. O custo de reparabilidade é muito alto e nem mesmo as seguradoras se interessam pelo modelo.

Já o modelo nacional pode ser considerado desde que tenha transmissão manual. Infelizmente, o Fiesta não chegou a ter a transmissão automática dos últimos EcoSports e Kas, portanto todos sem pedal de embreagem foram equipados com a caixa Powershift. Fuja desses Fiestas, são ciladas que não fazem sentido correr o risco.

Focus - Divulgação - Divulgação
Ford Focus Fastback
Imagem: Divulgação

Focus

O Focus também saiu de linha em 2019, assim como o Fiesta, mas foi na primeira metade daquele ano. Até então, era importado da Argentina, mas já não tinha a mesma boa reputação que de gerações anteriores.

Considerado um carro muito bem acertado, era referência na categoria, até aparecer o câmbio Powershift. Mais uma vez, um Ford teve sua imagem arranhada e não deve ser considerado com esse câmbio. Somente os Focus manuais podem ser considerados, sempre equipados com o motor 1.6, o que é a minoria deles.

O motor é bom, mas como o carro é pesado, ele não faz milagres - sendo assim, é melhor partir para um Fiesta. A maior parte dos modelos foi vendida com o Powershift e hoje sofre com alta rejeição no mercado de usados.

As gerações anteriores são bem mais confiáveis, além de serem baratas quando comparadas com seus concorrentes da mesma época. A transmissão automática desses mais antigos é uma tradicional de quatro marchas, que não tem histórico de problemas. O que pesa nesses Focus mais antigos é o alto consumo do motor 2.0 e de custo de manutenção.

Fusion - Divulgação - Divulgação
Ford Fusion teve a produção encerrada em julho para dar lugar ao SUV Bronco Sport
Imagem: Divulgação

Fusion

O carrão de luxo foi recomendado por mim em inúmeros vídeos e colunas. Bonito, espaçoso, bem acabado, equipado e, o melhor de tudo, sedã. Como fã da categoria, cheguei a sonhar com o Fusion, mas felizmente não cheguei a concretizar esse sonho que poderia se tornar um pesadelo.

Não que o carro seja ruim, muito pelo contrário. Todos que já tiveram são unânimes em demonstrar satisfação com o modelo, mas sua desvalorização, que já era alta, passou a ser ainda maior depois que a Ford diminuiu sua participação no Brasil.

Perdi as contas de quantos clientes declinaram do Fusion e passaram a considerar outros sedãs, justamente pelo medo de perder muito na revenda. Aos que querem se arriscar, digo que só vale a pena se o valor for muito bom, algo como imperdível, assim como foi com meu Escort.

Por fim, para responder a dúvida que levantei no começo, não mudei minha opinião. Continuo não recomendando os carros da Ford no mercado de usados, pois para mim não fazem mais sentido. Mas como não sou dono da razão, é claro que cada um tem a liberdade de escolher o que é melhor para ter na garagem.

Tradutor: Ford fora do Brasil: veja quais carros usados valem a pena e as 'bombas'

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL