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Como Fiat Uno será visto no mercado de usado e quais melhores versões

Colunista do UOL

23/12/2021 04h00

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Todo brasileiro tem alguma história com o Fiat Uno. Presente em nosso mercado desde o longínquo ano de 1984, foi o carro mais importante da marca italiana no Brasil.

Foram incríveis 37 anos, com mais de 4 milhões de unidades vendidas em apenas duas gerações, sendo que a primeira ficou em linha por 29 anos. Em um universo tão competitivo como o automotivo, esses números são impressionantes. Não tem como desprezar essa trajetória, e até mesmo aqueles que não gostam do carrinho devem respeito a ele.

Mas tudo tem um fim, e o do Uno chegou. Ou pelo menos é o que parece. A Fiat anunciou a série especial de despedida "Ciau", limitada em apenas 250 unidades. Eu, porém, não descarto a hipótese de o nome ser revivido no futuro, como já aconteceu em outros casos. A própria Fiat fez isso com o 500, clássico popular do passado que hoje é oferecido como um carro premium. O nome "Uno" ainda é muito forte.

Essa não é a primeira vez que o Uno é aposentado. Lembro que toda a imprensa dava como certa a despedida logo após a chegada do Palio em 1996.

Procurei na minha coleção e encontrei a edição da revista Quatro Rodas de novembro daquele ano, com a matéria "O último dos Uno". Naquele momento, realmente não fazia sentido imaginar que ele pudesse disputar mercado com seu novo irmão bem mais moderno, sendo que ambos tinham preços bem próximos.

A história mostrou que ele não só conviveu, como sempre se manteve firme e forte no mercado - e até assistiu a despedida do Palio, em fevereiro de 2018.

Versões mais marcantes

Foram inúmeras versões, algumas bem interessantes e cobiçadas. Não restam dúvidas de que os preferidos são os esportivos, principalmente o Uno Turbo de 1994, primeiro nacional produzido em série com motor turbinado.

O pequeno motor 1.4 importado da Itália entregava 118 cv de potência, com torque de 17,5 kgfm. Parece pouco quando comparado com os motores atuais, mas era suficiente para poder se divertir com a leve carroceria de 975 kg.

Para-choques e molduras de para-lamas mais largos, rodas maiores e painel com manômetro de turbo davam ainda mais exclusividade ao modelo. Hoje, o Uno Turbo é um dos mais valorizados no mercado de carros antigos e tem espaço para crescer ainda mais.

Uno Turbo - Divulgação  - Divulgação
Uno Turbo capa
Imagem: Divulgação

Além do Turbo, os Unos "R" também estão em alta, em especial até o modelo 1990, último ano com a dianteira original, conhecida como "frente alta".

Meu avô paterno teve alguns nessa época, e me lembro muito bem de todos os detalhes exclusivos, sendo os cintos de segurança vermelhos e a tampa do porta-malas preta os mais legais. Uma pena que poucos sobreviventes restaram no mercado.

Uno 1.6R - Divulgação - Divulgação
Uno 1.6R
Imagem: Divulgação

A última vez que o Uno flertou com a esportividade foi na segunda geração, com a versão Sporting. A mecânica não era exclusiva, o destaque era apenas visual e, na minha opinião, era bem resolvido.

Começou com o conhecido motor 1.4 Fire e terminou com o 1.3 Firefly. Tive a oportunidade de testar o Sporting 1.3 e foi um carro surpreendente, com desempenho excelente e baixo consumo de combustível. Poucos foram vendidos, mas arrisco dizer que ainda serão desejados no futuro pelos apaixonados por carros.

Uno Sporting - Divulgação - Divulgação
Fiat Uno Sporting
Imagem: Divulgação

Fora as versões esportivas, qualquer outra com a "frente anta" tem despertado interesse nos colecionadores. Até mesmo o mais simples de todos, o Uno Mille, um marco na história da indústria nacional por ter sido o primeiro a se beneficiar do IPI mais baixo para veículos com menos de 1000 cm³.

Diferentemente dos outros fabricantes, a Fiat já tinha o pequeno motor 1050 cm³, que precisou de pouco ajuste para cair para 994 cm³, por isso conseguiu sair na frente da concorrência e nadou de braçada nos primeiros anos.

Mesmo quando Volkswagen, Ford e Chevrolet conseguiram adaptar motores 1.0 em Gol, Escort e Chevette, o Uno continuou sendo o melhor dos 1.0, já que esses concorrentes não eram tão leves quanto o Uno e sofriam com esses motores menores.

Uno Mille - Foto: Fiat | Divulgação - Foto: Fiat | Divulgação
Fiat Uno Mille: o primeiro 1.0 do Brasil
Imagem: Foto: Fiat | Divulgação

Versões raras e esquecidas

O que nem todos sabem é que, antes da linha "R", tivemos o Uno SX, essa sim a primeira versão com apelo esportivo do modelo, apresentada logo no primeiro ano.

O motor 1.3 rendia 10 cv a mais graças ao carburador de corpo duplo e entregava bom desempenho ao Uno, que por ser leve nunca precisou de grandes motores. Era mais discreto que a linha "R", e hoje é quase impossível ver um nas ruas, tamanha sua raridade. Tem espaço no galpão de colecionadores, mas não é tão cobiçado como os outros.

Fiat Uno SX 1984 - Divulgação - Divulgação
Fiat Uno SX 1984
Imagem: Divulgação

Outro que é praticamente impossível de se ver nas ruas é o Uno CSL, que contava com o mesmo acabamento aveludado das versões CSL de seus irmãos Prêmio e Elba, mas mantinha o painel antigo, conhecido como "satélite".

Importado da Argentina apenas na carroceria quatro portas, esse Uno ficou pouquíssimo tempo em linha, já que custava quase o mesmo que o recém-lançado Fiat Tipo, maior e mais moderno que o Uno.

Fiat Uno CSL - Divulgação - Divulgação
Fiat Uno CSL
Imagem: Divulgação

Também com acabamento mais refinado era o Uno CS Top, raríssima versão que comemorou o 1º milhão de Fiats vendidos no Brasil. Nem me lembro da última vez que vi um desse nas ruas, mas era uma versão muito legal. Contava com motor 1.5, faróis de neblina, faixas pretas na parte inferior da carroceria e calotas dos CSL. Quase um Uno 1.5R de terno e gravata.

Fiat Uno CS Top - Divulgação - Divulgação
Fiat Uno CS Top
Imagem: Divulgação

Como fica no mercado de usados

Quando um carro sai de linha, é comum o receio de que o mesmo sofra com altas desvalorizações, além de problemas com peças de reposição e desinteresse no mercado. Acho pouco provável que isso aconteça com o Uno, carro que é visto em praticamente todas as esquinas no Brasil.

Não foi por acaso que ele vendeu mais de 4 milhões de unidades, mas sim por ter a cara no nosso país. Atende muito bem nossas necessidades e encara com valentia as piores vias possíveis. Sua manutenção sempre foi das mais simples e baratas, algo atrativo para muitos brasileiros.

Focando mais nesses últimos modelos, que receberam os motores 1.0 e 1.4 família Fire e 1.0 e 1.3 da família Firefly, todos são bem vistos. Teria, e quem sabe ainda terei, um Sporting 1.3. Como já descrevi acima, o carro é surpreendente, um dos que mais gostei.

Arrisco dizer que apenas os Unos equipados com a malfadada transmissão automatizada Dualogic têm vida curta no mercado de usados. Esse tipo de transmissão não foi bem aceita pelo brasileiro mesmo depois de várias atualizações, portanto é uma compra de risco.

Enfim, eu que nasci em 1982, apenas dois anos antes do Uno, terei que me acostumar com os próximos anos sem esse querido italianinho entre a gente. Ciao.

Fiat Uno Ciau - Divulgação - Divulgação
Fiat Uno: 5 séries marcantes do carro
Imagem: Divulgação